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OPINIÃO: Mercado não rejeita programa de Guedes, rejeita o socorro ao povo

Ninguém deveria comemorar a reação do mercado contra o furo do teto, hoje o teto é um impeditivo para o crescimento do país.

Após sinalização da equipe econômica, a favor do drible do teto de gastos, o mercado reagiu com a disparada do Dólar e queda da bolsa.

Para falarmos disso, é prudente que não sejamos inocentes, parte da reação do mercado pode ser interpretada não contra o benefício em si, mas sim, contra os ganhos eleitorais que um projeto desses pode proporcionar ao, cambaleante, governo Bolsonaro. Está claro que o mercado percebeu o engano de ter elegido uma pessoa que se não é insano, beira a insanidade. Mas não podemos ignorar o histórico do tal "Mercado".


Historicamente o mercado é contra o desenvolvimento do país, a escolha entre desenvolvimento para um salto futuro e o lucro nosso de cada dia, para o mercado, é tão simples quanto escolher entre ir trabalhar nu, ou vestido. A reação do mercado é contra o aumento da dignidade das pessoas pobres. Eduardo Suplicy luta há anos para implementar o que se convencionou chamar de renda básica de cidadania, uma renda mínima que permita a todos os cidadãos coisas básicas como morar e se alimentar, sem maiores ofensas à sua dignidade humana, mas pelo mercado, é um louco que deseja, veja só, acabar com a miséria.


Para falarmos de um valor assim, estamos falando de um valor próximo ou igual a um salário-mínimo, para pelo menos metade da população ou das famílias, afinal, não se realiza grandes mudanças sem grandes investimentos. Essa é uma mudança de mentalidade que nós, enquanto sociedade, precisaremos enfrentar com todos os ônus e bônus que isso possa trazer. Inclusive em momento como esses, não ceder a falácia do populismo. Com a inflação dos alimentos, turbinar benefícios sociais não é populismo — mesmo que a intenção possa ser populista —, nesse momento, turbinar os benefícios sociais é essencial.


Nós, identificados e engajados na defesa dos direitos humanos, não podemos vibrar com as reações do mercado financeiro, acreditando que quando a proposta partir de forças opostas a esse governo, a aceitação será maior. Porque não, não será.


O mercado financeiro sempre será contra esse tipo de alteração porque, racionalmente falando, o espaço fiscal existente para suprir um programa com essas dimensões passa, impreterivelmente, pela acentuação da progressividade do Imposto de Renda da Pessoa Física, que em outros países chegam a ser taxadas a 50%, enquanto no Brasil, não passam dos 27,5%; passaria por taxar lucros e dividendos, preferencialmente de forma unificada sobre o total de renda de cada pessoa, levando as alíquotas atuais que giram entre 0 e 15%, para alíquotas de 0 a 50%; passaria pela taxação anual das grandes fortunas com alíquotas de 1% a 5% sobre o patrimônio total; passaria por apertar a regulação para combater remessa de capital para o exterior, que hoje é uma espécie de “evasão de divisas” legalizada e subtributada, partindo de 0,39%; passa por tributar as grandes heranças; vai passar, no mínimo, por reduzir a Selic para economizar algo em torno de R$ 30 a 50 bilhões por cada ponto percentual reduzido, porém, esse dinheiro deixaria de ser despejado para pagar os fundos de investimentos que se ancoram, contra as crises, em dólar e em títulos do tesouro.


O mercado que recusa as propostas do auxílio Brasil e o furo do teto de gastos, é o mesmo mercado que torceu o nariz e chamou o Bolsa Família, de “bolsa esmola”, “bolsa vagabundo” etc. Esse é o mesmo mercado que vai recusar qualquer outro programa que vise reduzir a desigualdade, esse mercado é o velho mercado financeiro covarde, de homens de terno que especulam dia após dia em negócios que têm seus riscos zerados pelos cofres públicos através dos altíssimos rendimentos dos títulos públicos brasileiros, juros altíssimos para um país estagnado que sequer consegue, no crescimento, superar a inflação.

Com mais de 15 milhões de desempregados, queda acentuada na renda das famílias e queda no poder de compra afetado pela disparada da inflação, se tornou cena recorrente, brasileiros fazerem fila em busca de ossos e outras carcaças de animas distribuídas por frigoríficos e outros comércios. | Foto: Pedro Brites / Reprodução El País

Esse mercado que quer teto de gastos é o mesmo mercado que quer o fim do piso salarial, o fim dos direitos trabalhistas. É o mercado que não produz, mas que explora com os juros que alimentam seus rendimentos, todo e qualquer empresário que deseje produzir e colocar a mão na massa; o Mercado Financeiro que torce o nariz para o programa social do ignóbil ministro Paulo Guedes, é o mesmo mercado financeiro que mantém contas dolarizadas, controladas por offshores dos quais são beneficiários com cartões sem limites que eles podem usar aqui, diariamente no país que eles ajudam a afundar.


Detentores de contas em dólar em offshores, como a de Paulo Guedes, por exemplo, lucraram 330 mil reais por cada milhão de dólar aplicado nessas contas, apenas com a flutuação do câmbio. No exemplo de Paulo Guedes, cujo vazamento Pandora Papers revelou ter aproximadamente 9,5 milhões de dólares (USD), o salto patrimonial seria na ordem de 3,13 milhões de reais (BRL) apenas em um mês (21/09 a 21/10), com uma variação que foi de R$ 5,27 em 21 de setembro, para os atuais R$ 5,66 do fechamento desta quinta-feira.


Importante perceber, que para quem lucra com a miséria, qualquer esforço para combater a desigualdade parece um crime imperdoável, capaz de abalar o mercado financeiro. Mas a verdade é que nenhum desses bravos homens egocêntricos de objetivos questionáveis, reclamou do aumento de mais de 150 bilhões de reais em juros da dívida, fruto da nova política do Banco Central, agora independente, que elevou a taxa básica de juros (Selic) de 2% para 6,25% em apenas 6 meses, causando um encarecimento do crédito em mais de 40%. E não reclamaram por um motivo simples, esse “gasto extra” com juros, regará seus investimentos.


Esses cidadãos sabem muito bem defender seus interesses acima de tudo, inclusive do bem estar comum e, para o nosso bem, é bom que nós, os cidadãos comuns, sem grandes fortunas, principalmente nós de oposição, nós do campo progressista, saibamos perceber essas armadilhas da pseudo oposição do mercado ao governo Bolsonaro. Porque embora o mercado tenha percebido o desastre econômico, político e diplomático que representa esse governo, em essência e ideologia, o mercado financeiro é bolsonarista até o último fio de cabelo, eles só não querem que haja evolução social.

Imagens circularam pela internet, de flagrantes de pessoas cercando caminhões de lixo em busca de alimentos que possam ser aproveitados.

Acho prudente que nesse momento defendamos o furo do teto de gastos, algo que já é praticamente um consenso entre os economistas que consideram esse teto, um verdadeiro freio de mão puxado no desenvolvimento do país. Não nos enganemos, independentemente do presidente que assuma em 2023, o Brasil vai precisar investir para se recuperar da catástrofe gerada por Bolsonaro e mais importante do que isso, o furo do teto é urgente e necessário, porque quem tem fome não pode esperar pelas conveniências do cenário político, contra a fome, precisamos de mudanças urgentes.

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