Crítica - Sex/Life (Patricia Rozema, 2021 - 1ª Temp.)
Atualizado: 7 de jul. de 2021
Quando Desperate Housewives encontra Cinquenta Tons de Cinza
O amor é essencial para cada um de nós, aquele amigo que se torna namorado, aquele desconhecido que se torna marido, a vida se encarrega de colocar as pessoas nos nossos caminhos, se ela é a pessoa certa ou errada, só o tempo para confirmar, se for a pessoa certa, ótimo, você vai casar, comprar uma casa, fazer uma porrada de filhos, envelhecer e morrer, se não for a pessoa certa, o ciclo começa tudo de novo, até que você encontre sua alma gêmea, a metade da sua laranja e faça parte do grupo de casados e felizes da vida, essa é a vida da maioria esmagadora da humanidade, mas no meio de tudo isso, tem algo muito importante: o sexo.
O pensamento da criadora Stacy Rukeyser foi esse, podemos ser felizes no casamento e ao mesmo tempo ter “sexo de qualidade”? – entre aspas porque isso é muito relativo – a série gira em torno da Billie, interpretada por Sarah Shashi que, desde o primeiro até o último episódio não tem expressão alguma, é uma verdadeira porta e isso inclui as muitas cenas de sexo, ela começa fantasiar e escrever um diário relembrando os momentos intensos e sexuais que viveu com seu ex-namorado Brad (Adam Demos que viralizou por conta da cena na academia) quando seu casamento com Cooper (Mike Vogel) começa ficar morno, o surto de nostalgia vira um problema quando, em uma bela manhã, Cooper acaba lendo o diário onde Billie registra todos os seus devaneios e começa a confusão que cá pra nós, uma verdadeira bobagem, problemas sem cabimento e que poderiam ser resolvidos com um estalar de dedos.
Os acertos da série são poucos, mas tem alguns, como colocar uma mulher de meia-idade, com dois filhos e em plena fase de lactação, fato é que a libido das mulheres costuma ficar mais intensa nesse período e a série mostrou isso relativamente bem. Outro ponto alto é que todos os episódios foram dirigidos por mulheres e focou única e exclusivamente no prazer feminino, não vemos em momento algum close-up do Brad ou Cooper chegando ao orgasmo, já as meninas, uma sucessão delas.
Os problemas são muitos, as cenas de sexo tomam tanto tempo da série que acabam deixando a narrativa de lado, sim, é uma série que foca no sexo, mas são incontáveis as cenas de sexo, muitos devaneios do roteiro para mostrar uma coisa mais quente - mas, cá entre nós, quem é que vai reclamar ou se quer lembrar da importância da narrativa, quando tem um monte de gente bonita e gostosa em tela e em mais da metade do tempo elas estão sem roupa?! É muito mais fácil entreter assim do que pensar em como desenvolver o problemático relacionamento, aliás, quando as discussões começam a ficar boa, o roteiro sempre apela para as cenas de sexo, isso porque, assim como todas as relações “quentes” desse tipo de história, a dinâmica entre Billie e o ex é desconfortavelmente próxima de um relacionamento abusivo. O mesmo serve para Cooper, que tenta incansavelmente recuperar o seu casamento e os momentos com Billie, mas no meio de tantas tentativas de recuperar e apimentar a relação, fica evidente e escancarado que o personagem só quer recuperar o seu orgulho, aliás, Mike Vogel está muito astuto, é o único de todo o elenco que dá para salvar.
A série faz parecer que a protagonista está no meio de um furacão, quando claramente ela está, apenas, tomando uma garoa, afinal de contas, a “culpa” é toda dela, ela entrou ali e ela deveria saber sair, ou, na melhor das hipóteses, deveria saber que não poderia ser de outro jeito, que ela nunca seria capaz de ter uma relação saudável em que, ao mesmo tempo, o sexo é de qualidade. Por fim, a tentativa pífia de ser um drama erótico acaba transformando a série num encontro de donas de casa desesperadas com fetiches sexuais. Tem momentos quentes e uma narrativa que simplesmente não anda resultando no que eu chamaria de: péssimo entretenimento.
Ao que tudo indica a série terá continuação, aguardemos...
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