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Crítica: "Dois filmes que não valem um"

O crime que chocou o Brasil: Caso Richthofen merecia uma representação bem melhor

A Menina Que Matou Os Pais e Os Meninos Que Mataram Meus Pais (Mauricio Eça, 2021) | Em cena: Suzane Von Richthofen (Carla Diaz)

O caso de Suzane Von Richthofen e os irmãos Cravinhos aconteceu em outubro de 2002 e foi um daqueles casos com níveis de crueldade que chocam o país inteiro e se você leitor tem idade suficiente, é bem provável que se recorde como foram aquelas semanas. Os jornais não falavam de outra coisa, toda semana uma evidência diferente surgia, toda semana um culpado era identificado e cada descoberta se revelava como um capítulo decisivo de uma novela que só teve fim anos depois, quando o caso foi a julgamento e colocou o trio de assassinos na cadeia. Hoje, 19 anos depois, o caso voltou às manchetes por conta da reconstrução narrativa por Mauricio Eça.

Os filmes de Eça, A Menina Que Matou Os Pais e Os Meninos Que Mataram Meus Pais têm como principal foco mostrar como Suzane (Carla Diaz) e Daniel (Leonardo Bittencourt) se conheceram, como foi o relacionamento de ambos e o que de fato aconteceu para que eles tomassem a decisão que acabou em morte.


O filme começou a tomar forma ainda em 2006 quando Suzane deu uma entrevista para o Fantástico, naquela ocasião a menina que usava uma franja que cobria todo seu rosto, usou um tom melancólico e jogou toda a culpa no seu parceiro Daniel Cravinhos; só que antes da gravação da conversa, foi flagrada falando com seu advogado e recebendo uma orientação para que ela chorasse durante a entrevista. A Globo, é claro, colocou tudo isso no ar e considerou a reportagem manipulada pelo então advogado de Suzane.


O mais estranho é que os filmes de Eça partem exatamente dos depoimentos e da manipulação dos fatos, para narrar seus filmes. O filme começa com a mesma cena, uma recriação da descoberta dos corpos de Marísia e Manfred pela Polícia Militar de São Paulo, em 2002 – o filme então salta para 2006, quando filma Suzane e Daniel narrando, de acordo com suas memórias e respectivas versões, o que de fato teria acontecido. A história contada por ambos é estruturalmente a mesma, mas seus papéis no destino trágico são diferentes.

Cada um dos filmes representa a versão apresentada por Suzane e Daniel no julgamento do caso | A Menina Que Matou Os Pais e Os Meninos Que Mataram Meus Pais (Mauricio Eça, 2021) | Em cena: Suzane (Carla Diaz) e Daniel (Leonardo Bittencourt)

O que Daniel conta é que Suzane era uma garota com problemas e que encontrou nela uma espécie de saída para seus “problemas” – já que ela é branca, rica, morava em uma mansão e tinha absolutamente tudo o que queria na vida –, o que Suzane conta é que Daniel vivia próximo de uma realidade de crime perigosa, que se tornou namorado abusivo e a conduziu a matar sua rica família por ganância, ou seja, as duas versões do filme tentam basicamente fazer com que nós espectadores escolhamos um culpado, analisemos os fatos e tomemos uma decisão e é aqui que os problemas dos filmes começam, nem todo mundo conhece o caso, então os menos informados — e os mais jovens — podem sair prejudicados. E para que raios duas versões de um caso que já foi julgado e encerrado se não irá se propor nada além de representá-los? Aliás o filme até tenta brincar, fazendo com que nós espectadores tomemos uma decisão, mas isso, no fim, não faz a menor diferença.


Os problemas continuam, já que os filmes simplesmente não funcionam de forma individual, até dá para entender que os roteiristas queriam ilustrar a jornada de Daniel e Suzane, mas o resultado é uma história completamente sem graça e, para ser o mais sincero possível, sem significado, sem ápice.


Depois que o filme termina, a única coisa que conseguimos pensar é: Para que, por que eles fizeram isso? O dinheiro seria a resposta mais prática, mas sinceramente, não dá para acreditar.

A Menina Que Matou Os Pais e Os Meninos Que Mataram Meus Pais (Mauricio Eça, 2021) | Em cena: Suzane Von Richthofen (Carla Diaz)

A atuação de Carla Diaz é desastrosa, quem acompanhou o Big Brother Brasil (BBB 21), vai entender, nem parece que ela está atuando, ao menos não na versão dela da Suzane vítima, repleta de cacoetes, ela não passa emoção alguma e nem quando tenta ser dissimulada, funciona. Bittencourt tenta se esforçar, mas o personagem não ajuda muito, ele até está bem como “vilão” – o restante do elenco cumpre com o frágil roteiro.


O que posso concluir é que, se Mauricio Eça tivesse optado por uma minissérie ou um filme para televisão, o resultado possivelmente teria sido melhor, aliás, esse gênero de crime real tem ganhado espaço nas produções brasileiras, o esforço de toda a equipe de contar essa história que chocou o país está ali, fica em evidência, mas o resultado é desastroso, dois filmes que, juntos, não valem por um.

Cada um dos filmes representa a versão apresentada por Suzane e Daniel no julgamento do caso | A Menina Que Matou Os Pais e Os Meninos Que Mataram Meus Pais (Mauricio Eça, 2021) | Em cena: Suzane (Carla Diaz) e Daniel (Leonardo Bittencourt)

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