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Cinema & Sexualidade: Polêmicas e abusos


A longa e conturbada relação do cinema com o sexo e os abusos...

Shame (Steve McQueen, 2011) | Em cena: Brandon (Michael Fassbender)
 

Cinema&Sexo é uma série especial de publicações da Dossiê etc, escrita por Cleber Eldridge, sobre a relação íntima que existe entre a sétima arte e o pecado da carne.


O primeiro artigo da série foi "Cinema&Sexo – Virgindade e o Amadurecimento Sexual". Ao longo das próximas semanas essa série mostrará como o cinema tem retratado o início da vida sexual, sexo a três, nudez, orgasmos, até temas mais delicados como estupros, prostituição e ninfomania contidos nesse texto.


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Entrega-te ao prazer absoluto. Nada nas águas quentes dos pecados da carne. Pesadelos eróticos além de qualquer medida. Rocky Horror Picture Show

O cinema, os diretores, produtores e especialmente os estúdios sempre foram cuidadosos quando se trata de sexo, por uma série de fatores: alguns atores ou atrizes se recusam na hora de filmar cenas de sexo explícito, ou cobram cachês adicionais que encarecem o o projeto. Claro que para isso existe dublê de corpo, mas alguns diretores são carrascos e exigentes, o que pode resultar em problemas; outro empecilho é que quando há cenas de sexo explícito, a classificação do filme passa para Maiores de dezoito (+18), o que pode prejudicar a bilheteria. Aparcela correspondente ao público adolescente é muito grande, tudo precisa ser minuciosamente estudado


Na semana passada eu abordei temas relativamente mais tranquilos, agora entraremos numa área mais espinhosa, então... violência sexual e estupros.

“Estupro é um dos crimes mais terríveis da Terra. O problema dos grupos que lidam com o estupro é que eles tentam ensinar a mulher se defender. Enquanto o que precisa ser feito, é ensinar o homem a não estuprar” – Kurt Cobain

O estupro é algo inadmissível e não consigo nem imaginar a sensação que uma mulher – e até alguns homens – sentem depois de passar por um ato grotesco como esse, mas é claro que o cinema, como arte, tentou muitas vezes entender como o ser humano se sente diante disso, tanto o estuprado quanto o estuprador.


Irreversível (Gaspar Noé, 2002) é sem qualquer dúvida, o filme mais difícil que eu já assisti em toda minha vida e, ainda assim, é uma obra-prima, talvez um dos filmes mais violentos que existem. Quando estreou mundialmente, na competição de Cannes em 2002, o filme foi vaiado durante a exibição, não é de surpreender, a cena do estupro é uma das coisas mais horríveis de se assistir, porque você consegue sentir a mulher sendo atacada, estuprada, agredida, a verdadeira miséria, fica o alerta, precisa ter estômago para encarar o filme. O sádico diretor Lars Von Trier também relatou o estupro em Dogville(Lars Von Trier, 2003) que ao contrário do filme mencionado anteriormente, foi aplaudido em Cannes, a obra é uma comparação brutal do diretor com a América.

Irreversível (Gaspar Noé, 2002) | Em cena: Pierre (Albert Dupontel), Alex (Monica Bellucci) e Marcus (Vincent Casset)

O estupro é um crime hediondo e todos sabemos disso, ainda assim a justiça consegue falhar miseravelmente em alguns casos, há algumas semanas noticiou nos jornais que um juiz não condenou dois policiais acusados de estuprar uma garota em uma viatura porque a garota – a estuprada – simplesmente não reagiu. Pois é, não dá para acreditar em algumas coisas, o filme Millennium – Os Homens que não Amavam as Mulheres (David Fincher, 2011) faz um retrato da justiça que a pessoa escolhe, a justiça com as próprias mãos. No filme a protagonista é estuprada, uma cena tensa e o estuprador sai impune, ao menos é o que ele achava, é quando a garota decide se vingar dele, exatamente na mesma moeda, sim, ela decide estuprar ele e sim, isso é possível, uma cena ainda mais difícil de assistir, já que, obviamente, a garota é muito mais cruel com o estuprador.

Millennium – Os Homens que não Amavam as Mulheres (David Fincher, 2011) | Em cena: Lisbeth (Rooney Mara)

Engana-se quem acha que só mulheres são estupradas, Amargo Pesadelo (John Boorman, 1972) conta a história de quatro amigos que, depois de muito tempo sem se encontrar, se juntam para descer uma última vez as correntezas de um rio, antes que ele se torne uma represa, mas eles jamais imaginariam o inferno que os aguardava. Um dos personagens é encurralado por um grupo de caipiras que o estupra e o obriga a gritar como um porco. A cena foi censurada em vários países e faz com o que os homens se sintam na pele de uma vítima de estupro, sem contar que como um todo, é um ótimo filme.


A arte imita a vida e a vida repete a arte


Infelizmente, é bem verdade que nem sempre os abusos estiveram só no roteiro. Por trás das câmeras o cinema também ficou marcado por escândalos como estupros e abusos em cena, como no caso do filme O Último Tango Em Paris (Bernardo Bertolucci,) em que a atriz Maria Schneider contracenava com Marlon Brando em uma cena de estupro. Porém Brando utilizou um recurso que não estava planejado, passou um tablete de manteiga de fato na região anal da atriz de apenas 19 anos, sem avisá-la antes. Apavorada e sem reação por estar diante de grandes nomes do cinema (Marlon e Bertolucci, 1972) a jovem atriz guardou esse segredo até 2007 e garantiu que apesar de ser uma cena de estupro, as lágrimas e a angústia eram reais, a atriz foi estuprada diante das câmeras.


Em 2016 a internet viralizou um vídeo em que, “Bertolucci”, o diretor, assume que essa monstruosa atitude foi planejada por ele e combinado com Brando, sem o consentimento da atriz:


"A sequência da manteiga é uma ideia que eu tive com Marlon na véspera da filmagem. Eu queria que Maria reagisse, que ela fosse humilhada... ...Eu não queria que ela interpretasse a raiva, eu queria que ela sentisse raiva e humilhação "

Avançando no tempo para os anos 90, em 1994, o cinema registrou uma das cenas mais “anticlímax” da história da sétima arte. O filme O Especialista (Luis Llosa, 1994), estrelado Sharon Stone e Sylvester Stallone conseguiu transformar o que era para ser uma cena erótica de dois amantes arrebatados pelo desejo em um chuveiro, em uma cena “broxante” de uma mulher sendo forçada a algo que ela realmente não quer.

O Especialista (Luis Llosa, 1994)

Tudo começou porque Sharon não queria fazer cena de nudez. Com a carreira já muito marcada pela cruzada de pernas mais famosa do cinema, em Instinto Selvagem (Paul Verhoeven, 1992), lançado 2 anos antes, a atriz decidiu que uma cena de sexo não fazia sentido para sua carreira, atitude que já tinha cravado no filme Invasão de Privacidade (William Baldwin, 1993). Diante da recusa, a arma utilizada por Stallone para convencer a colega, foi embebedá-la e tal qual fez Bertolucci, Stallone também contou isso com orgulho por ter tido uma suposta sacada de mestre desde o lançamento do filme, mas com mais detalhes em 2006:

“Chegamos ao set e ela decidiu que não queria tirar a roupa. O diretor pediu à maioria da equipe que saísse do quarto, mas ela continuava se negando a tirar. Se eu havia prometido que não passaria do limite com ela, então qual era o problema? ‘É que estou de saco cheio de nudez’, disse ela. Eu pedi que ficasse de saco cheio disso no filme de outro. Como ela não se convencia, fui até o meu trailer e peguei uma garrafa de vodka Black Death que Michael Douglas tinha me dado. Após algumas doses, éramos puro tesão.” Sylvester Stallone respondendo sobre a cena do banheiro em entrevista para o site Ain´t It Cool

Não nos enganemos, esses não são casos isolados. Nos últimos anos o movimento #MeToo deu voz a milhares de vítimas de predadores sexuais da indústria audiovisual, que antes se sentiam acuadas para denunciar personalidades tão poderosas. Dentre os principais nomes denunciados pelo movimento orgânico da rede social está Harvey Weinstein, um verdadeiro magnata, fundador da Miramax, que já foi uma das produtoras cinematográficas mais importantes do mundo

Kevin Space, protagonista de House Of Cards, é acusado de ter abusado de menores de idade.

Já mais próximo do mundo leigo, está o nome de Kevin Spacey, que também foi denunciado pelo movimento #MeToo por abusar de menores de idade. Por conta dessa denúncia ele foi imediatamente afastado das produções Netflix e House Of Cards, a trama política de maior sucesso do mundo, foi simplesmente cancelado pela plataforma de streaming que demonstrou tolerância zero para esse tipo de comportamento. O ator ainda responde a processo na justiça.

NINFOMANIA

“A ninfomania não existe. É algo que os homens inventaram para controlar os desejos femininos” – O Diário de uma Ninfomaníaca
Ninfomaníaca II (Lars Von Trier, 2013) | Em cena: Kookie Ryan, Joe (Charlotte Gainsbourg) e Papou

Afinal, o que é ninfomania? O dicionário diz: desejo excessivo, anormal e permanente que ocorre em algumas mulheres ou fêmeas. Historicamente falando, sabemos que os homens são seres altamente sexuais, que sexualizam tudo e que colocariam o pênis em qualquer buraco que se mova e, em alguns casos, o buraco nem precisa se mover. Mas também sabemos que, qualquer prática em excesso pode se transformar em sérios problemas, pensando nisso Shame (Steve McQueen, 2011) segue essa linha, conta a história de Brandon (Michael Fassbender), um cara que precisa – ao menos é o que ele acha – transar todos os dias e em alguns casos, mais de uma vez por dia, seja com homens ou com mulheres, ele precisa gozar e não consegue se dar conta de que tem um problema.

Ninfomaníaca I & II (Lars Von Trier, 2013) segue uma linha contraria, o filme conta de forma poética, a história de uma mulher, desde o seu nascimento até a casa dos cinquenta anos e toda sua transformação, desde os primórdios quando ela era uma criança qualquer, até ela se tornar uma adolescente sexual e se transformar em uma adulta ninfomaníaca normal, porque o filme trata isso como se fosse uma coisa natural e com uma certa romantização e eu, sinceramente, entendo algumas pessoas têm apetite sexual mais forte e está tudo certo, transem o quanto quiserem e se protejam.


EXPLICITO

“Oh! Sejamos pornográficos. Por que seremos mais castos que nosso avô português?” Trecho de Em Face dos Últimos Acontecimentos – Carlos Drummond de Andrade

Garganta Profunda (Gerard Damiano, 1972) | Estrelando Lovelace

Garganta Profunda (Gerard Damiano, 1972) foi o primeiro filme erótico em cinemas comuns, contava a história de uma mulher que descobria ter um clitóris na garganta, sucesso absoluto conquistou muitos admiradores com o passar dos anos, entre eles o escritor Truman Capote, o ator Warren Beatty, o cantor Frank Sinatra e muitos outros, o filme é até hoje reconhecido por moldar a cultura sexual dos Estados Unidos. De tão significativo que é para a indústria cinematográfica, em 2013 foi lançado Lovelace (Rob Epstein, Jeffrey Friedman, 2013) que aborda a conturbada vida da atriz

Lovelace (Rob Epstein, Jeffrey Friedman, 2013) | Estrelando Linda Lovelace (Amanda Seyfried)

Indo além do clássico, Império dos Sentidos (Nagisa Oshima, 1976) é um verdadeiro culto ao sexo, talvez o filme com uma narrativa que mais tenha cenas de sexo da história do cinema – claro que, não estou contando com os pornôs – o filme conta a história de uma ex-prostituta gueixa e o dono de um restaurante que são envolvidos por uma paixão avassaladora e regada a muito, muito sexo.

Império dos Sentidos (Nagisa Oshima, 1976) | Em cena: Eiko Matsuda (Sada Abe) e Tatsuya Fuji (Kichizo Ishida)

Se for para transar que seja sem roupa, que seja intenso, que seja bem-feito e claro, que não tenha vergonha de se mostrar.

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