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222 itens encontrados para ""

  • O Terremoto de Lisboa

    Um evento de grandes proporções muda a estrutura de Portugal e do poder mundial Em 1755 Portugal era a grande nação. Os descobrimentos estavam trazendo muita riqueza ao país e era para lá que pessoas importantes do mundo gostavam de viajar, conhecendo seus aspectos de desenvolvimento, seus palácios, conventos e as características de uma Lisboa já moderna e próspera. Figuras políticas de vários países tinham atenção especial ao visitar a terra do rei. Com pungência diplomática percorriam a cidade, recebiam acomodações luxuosas e eram também servidos com a comida especial que quase divinamente saia dos fogões com a criatividade gastronômica dos conventos Naquela época as naus portuguesas levavam aos cofres do reinado uma quantidade indescritível de diamantes extraídos de solo brasileiro, carregados com força arrancada de uma África sequestrada, inclusive para mover seus remos quando não soprava vento suficiente para as velas. Porém, diante de tanta ponta, tecnologia de navegação, poder econômico e político, algo de muito ruim também acontecia por lá, com a permissão do rei. A igreja católica mantinha em Lisboa seus palácios da inquisição. Apesar da escravidão mantida por séculos pelos portugueses, ainda havia espaço para desenvolvimento humano, desde que um indivíduo não caísse nas garras cruéis de uma máquina de matar, recheada de torturas horripilantes praticadas na inquisição. As sessões começavam com pessoas presas nas salas dos palácios por dias. Um tempo angustiante em que viam nas paredes as pinturas das técnicas de dor que lhes seriam aplicadas. Era necessário aos algozes do escalão da igreja uma saturação de medo, para validar ainda mais o que faziam na prática. Muitos viveram dores incalculáveis por dias e dias, alguns com seus ossos quebrados de forma a gerar dores absurdas por longos períodos. Outros morriam sem voz, após dias gritando numa fogueira de gravetos para que a morte chegasse somente depois de muita dor, ardendo graveto por graveto. A igreja ao lado do poder, uma junção de crueldade com permissividade. Mas aconteceu que nesse mesmo ano, precisamente no dia primeiro de novembro, o dia de todos os santos do Papa Gregório III, Lisboa sofreu seu primeiro ataque. O solo tremia freneticamente, casas e muralhas estalavam antes da destruição que chegava rápido. Cumes de montanhas e picos vieram abaixo e a cidade experimentou um grande terremoto. Barulho, poeira, destruição e gritos eram o cenário reinante. E não parou por aí. Um tsunami veio varrer outra parte dessa história e, por último, um incêndio de proporções gigantescas completou esse tríplice ataque a uma Lisboa rica, injusta, moderna e cruel. Começava na história do mundo a primeira contagem de mortos e feridos, uma busca entre os escombros, um uso incessante dos recursos médicos da época. Um cenário devastador cheio de dores e gritos, dessa vez não mais por aquilo que muitos temiam, mas sim e talvez uma ira de Deus como muitos acharam. Os reflexos do terremoto foram sentidos em várias partes. Só depois de muitos anos, quando as informações chegavam junto com as embarcações é que muitos souberam que suas dúvidas estavam relacionadas ao evento sísmico de Portugal. Em alguns lugares no norte da Europa, durante muitos anos não se descobria o porquê de alguns lagos apresentarem suas águas acima ou abaixo do nível, variações que ocorriam no mesmo dia, efeito do terremoto. Um evento sem precedentes não só em virtude de seu abalo. Terremotos de maiores magnitudes foram registrados em outros lugares do mundo, mas esse, em particular, mexeu com uma esfera política dominante, com um poderio financeiro e, em virtude do envolvimento com a própria história da época, há quem o considere como o terremoto que mais modificou e abalou estruturas, tanto físicas quanto políticas. E assim, Portugal que injetava muito dinheiro ao PIB Inglês, com aluguel de naus e compra de tecidos exclusivos aos palácios, Portugal que recebia poderosos do mundo em finanças e poder começou a buscar sua reconstrução com a ajuda do Marques de Pombal, cuja estátua desponta em Lisboa hoje, sobre um pedestal de pedra trabalhada num ponto estratégico e visível de Lisboa. Criticado ou não, foi com ele que Lisboa recuperou o que pôde, reconstruiu o que precisava e pouco a pouco foi devolvendo à cidade uma imagem que não lembrasse mais o evento devastador que mexeu com o poder e com a igreja. Recentemente, uma obra num convento da cidade fez mais revelações. Ossadas encontradas foram periciadas e confirmadas como vítimas do terremoto. Estavam quebradas e com areia, vítimas do terremoto e do tsunami. Essas perícias apontaram também que em alguns lugares de Lisboa o incêndio atingiu mais de mil graus. É a temperatura necessária para explodir um crânio, como era o caso de muitos ali. Ainda assim Portugal permanece no ranking de bons países para se viver. Passou por outros abalos políticos como a presença de Salazar no poder, viveu pobreza que obrigou muitos a imigrar para países de língua portuguesa, inglesa e tantas outras. Passaram-se muitos anos e a maior potência global passou para o outro lado do mar, em terras que se iniciaram com 13 colônias até se consolidar como Estados Unidos da América. Um país de características protestantes de Martinho Lutero. Com a invenção da prensa, Gutenberg inaugurou seu projeto tendo a Bíblia como primeiro livro impresso na história. Um compêndio que lido por Lutero o fez protestar contra a igreja católica da qual era monge, apresentando suas 95 teses sobre o que ele entendia ser o contrário do que fazia a igreja. Assim, cresceu a América a ponto de que hoje seu presidente, o grande líder, viaja a bordo do Air Force One, o famoso avião presidencial, sempre acompanhado de dois caças. Coincidência ou não, há outro líder no mundo que ao viajar de avião também tem caças acompanhando. A diferença é que hoje ele mora no Vaticano

  • "Suburbanos, tipo muçulmanos do Jacarezinho"

    “‘Tem que bater, tem que matar’, engrossa a gritaria!” No massacre ocorrido dia 6 de maio de 2021, salta aos olhos que, contrariando o que está disposto no artigo 5º, inciso XLVII da Constituição Federal, temos pena de morte neste país. E cometida pelo Estado. Porém, ao contrário de países onde há a legalização dessa pena, não temos aqui o direito ao devido processo legal, e, certamente, o tipo penal, o crime que enseja tal punição, acima de qualquer outro, é a pobreza. Aqui não pretendo entrar no mérito da investigação, que sequer foi encerrada. Seria uma apressada opinião descuidada, o que não condiz com o zelo que a gravidade dos fatos exige. Aqui, em parcas linhas, limito-me a relacionar o massacre com um fenômeno que a criminologia denominou “seletividade penal e criminalização secundária” e a pena de morte. Esses dois primeiros aspectos são recorrentes desde o flagrante delito em uma esquina até a “zoeira dentro da prisão”, passando por, muitas vezes, kafkanianos processos. No que se refere ao massacre do Jacarezinho, a tragédia foi além. Além da liberdade, retirou-se a vida, aplicou-se a pena de morte sem sequer haver preocupação com simulacros de legalidade. Sigamos por partes. A seletividade penal nada mais é do que um modus operandi do sistema policial e judicial presentes no Brasil. Em breves palavras, deixando claro que é algo muito mais complexo do que será aqui descrito, trata-se de optar por mirar a) as pessoas que, em regra, se enquadram nos estereótipos criminais e que, por isso, se tornam vulneráveis, por serem somente capazes de obras ilícitas, toscas e por assumi-las, desempenhando papéis induzidos pelos valores negativos associados ao estereótipo (criminalização conforme ao estereótipo); b) com muito menos frequência, as pessoas que, sem se enquadrarem no estereótipo, tenham atuado com brutalidade tão singular que se tornam vulneráveis (autores de homicídio intrafamiliares, de roubos neuróticos etc.). (criminalização por comportamento grotesco ou trágico); c) alguém que, de modo muito excepcional, ao encontrar-se em uma posição que o tornara praticamente invulnerável ao poder punitivo, levou a pior parte em uma luta de poder hegemônico e sofreu por isso uma ruptura na vulnerabilidade (criminalização devida à falta de cobertura). (ZAFFARONI, Direito Penal Brasileiro – I, p. 49). Já a criminalização secundária concerne em mecanismo de escolha burocrática, guiada pela seletividade penal, em que os agentes do sistema policialesco e judicial, respectivamente, abordam o vulnerável social distintamente da forma como abordariam o não vulnerável. Seguidamente, os agentes judiciais, que atuam conforme suas limitações operativas, manifestam-se muito mais ativos para denunciar e conduzir processos daqueles “tragados” pela seletividade penal. E, não obstante, esses mecanismos da criminalização secundária contam com forte auxílio dos chamados executores morais. Visto que a população selecionada tem acesso negativo aos meios de comunicação de massa e, quando alvo de reportagens jornalísticas, via de regra, é apresentada de forma pejorativa, o que, obviamente, traz menos problemas aos apresentadores. Pois insurgir contra os que pertencem ao imaginário social como “a gente ordeira e virtuosa” causa-lhes prejuízos gravosos. Ao passo que adjetivar negativamente aqueles que estão incutidos no senso comum como “os inimigos sociais” compõe o coro dos que afirmam que se deve “bater, matar” em grossa gritaria. E dessa vez, no Jacarezinho, para além da investigação e do processo pautado na seletividade penal, atropelaram todos esses ritos e desembocaram diretamente na pena de morte sem o devido processo legal. Essa espécie de pena – a capital –, mesmo repleta do mais alto grau de obscurantismo, em países onde é aplicada, jamais precede o rito processual. São apresentadas provas, acusação, defesa e o direito a um juiz natural. O que ocorreu no Jacarezinho negligenciou todos esses “meros formalismos” e ceifou, por hora, que saibamos, vinte e oito histórias, amores, amizades, trabalhos, pais, mães e filhos. Pessoas que, por serem “suburbanos, tipo mulçumanos do Jacarezinho”, para onde o Cristo Redentor vira as costas, são autoras do pior crime que se pode cometer nesse país: nascer pobre. Mas, desta vez, nem mesmo com o direito ao devido processo, receberam a pior das penas, a pena capital. Até quando? Mais quantos? Sem mais. Essa coluna citou: As Caravanas - Chico Buarque

  • Um ensaio sobre a nossa morte

    A morte é fascinante por si só. Um mistério que intriga a humanidade há milênios. A morte é como uma galáxia inalcançável, um ponto tão longínquo do universo que quando alguém finalmente consegue alcançar, jamais conseguirá voltar para contar como é. Os povos antigos gastaram muito, muitos recursos mesmo, tentando desbravar a morte, ao passo que gastaram para entender como os astros se “organizavam” no céu. De lá para cá mapeamos constelações e navegamos tendo-as como referência, entendemos o ciclo solar e criamos um calendário baseado nisso, 365 dias formam ano solar, ou seja, o tempo que leva para a terra dar uma volta completa em torno do sol, colocamos satélites em órbita, visitamos o satélite natural da terra, temos uma estação espacial orbitando o planeta, nos olhando lá de cima, enviamos um explorador espacial que já está a mais de 20 bilhões de quilômetros da terra, mas sobre a morte... tsc tsc tsc... Nada sabemos e sequer sabemos se há algo para descobrir. Inspiração para músicas como a maravilhosa obra-prima de Paulo Coelho e Raul Seixas, “Canto Para Minha Morte”, que reflete sobre a forma da morte e seus mistérios, fala sobre as coisas que deixaremos de fazer quando a hora da morte chegar, “como aquela revista que guardamos, mas nunca mais vamos abrir”, ou sobre as ruas que nunca mais percorreremos. Ainda assim, alvo de muitos devaneios sobre sua origem e seu fim, a morte continua assim, invisível, intangível, inexplicável e alvo das mais deslumbrantes fantasias. No antigo Egito, por exemplo, algumas das construções mais custosas da história, as pirâmides, nada mais são do que enormes “mausoléus”, uma arquitetura fascinante que não tem outra função, se não abrigar as câmaras funerárias de seus faraós que, mumificados, tinham no entorno de seus leitos de morte seus órgãos, cuidadosamente preservados em cerâmicas; paredes cobertas de inscrições que seriam como “um currículo” do morto, que o desse passagem para a vida eterna, algumas “instruções” para que o faraó encontrasse o caminho e tudo o que ele pudesse precisar nessa “travessia” como barcos, tronos, armas, vestes e muito, muito ouro. Infelizmente, tudo o que conseguiram com tamanho esforço foi gastar recursos valiosos para o império, atrair saqueadores, que roubaram dezenas de túmulos e empobrecer seu povo que, em boa parte, era escravizado na realização dos “sonhos póstumos” dos Faraós. Estranhamente a morte exerce um grande poder sobre nós, sobrepondo-se ao poder da vida. Para não morrer somos capazes de gastar todos os recursos disponíveis, todo o acúmulo de que uma vida de trabalho é capaz de guardar, vale mais alguns meses, dias e horas de vida. Inventamos equipamentos capazes de respirar por nós, quando todos os nossos órgãos estão praticamente mortos. Tudo pelo único e simples “fetiche” que temos pela sobrevida. Ou pelo medo do desconhecido... Medo esse, capaz de nos fazer valorizar muito mais as pessoas que estão próximas da morte, do que fomos capazes de valorizá-las durante todo seu período de vida. É comum, por exemplo, que a família passe a dar mais atenção aos seus idosos próximos da morte, além daquela estranha tradição de chamar parentes que não viam aquela pessoa há décadas, para que possam dar o, importantíssimo, último adeus. Antigos artistas que passaram meses e anos à míngua, sem apoio, sem doação, sem trabalho, mas que, quando morrem, recebem das mais caras homenagens; tem aquele funcionário mal pago e pouco reconhecido, mas que na hora da morte é largamente homenageado pelos empregadores. Existe uma certa disputa póstuma, quanto maior a empresa, ou quanto mais consternada quiser parecer, a pessoa que envia, maior e mais cara tem que ser a coroa de flores, é quase como um espaço de marketing funerário. Depois de milênios de evolução, os seres humanos ainda se fascinam com a mesma intensidade que temem a morte. Sobre esse momento do término da vida existem lendas, dogmas, teses sobrenaturais. Afinal, há outra vida? Há outra dimensão? Existe uma passagem? Existe alma? É o fim ou o recomeço? Como evitá-la? Como viver mais? Quanto queremos viver? E quando queremos morrer? Teremos uma morte simples, natural, indolor e poética durante o sono, ou sofreremos nossos piores momentos antes do descanso eterno? Caixões brilhantes, madeiras de lei, placas de mármore, mausoléus imponentes, uma vaidade imortal. Na história, a morte sempre foi mais protagonista do que a vida. Mortes foram capazes de consternar e mudar o mundo. Guerras cujo o objetivo era apenas a morte do inimigo, seja pela conquista de um reino, ou pelo roubo de propriedades, foram armadas a custos altíssimos, enquanto muitos desses reinos mantinham a população camponesa em grandes dificuldades. Os maiores investimentos sempre foram na direção da morte, seja para conhecê-la, entende-la, evita-la ou, simplesmente, para promove-la. Nos tempos atuais, no mundo das redes sociais e raciocínios curtos, no tempo dos influencers e do comportamento de manada, quem é o cruel e insensível que não lamenta a morte de famosos? Veja bem: Não é um questionamento moral, é uma constatação do comportamento social. Somos uma sociedade que aplaude e exalta os mortos, de costas para os vivos que só morrerão amanhã. Esse é um ponto polêmico da nossa existência que talvez no futuro possamos resolver, um paradoxo de uma sociedade que quer viver, mas está mais disposta a investir na morte, do que na vida. Ao longo dos últimos séculos muito evoluímos nesse ponto, mas ainda valorizamos a morte como nenhum outro ser. Nenhum dos grandes esforços da humanidade para dar vida eterna aos seus exemplares mais excepcionais foi bem-sucedido. Todos apodreceram ao seu modo, nenhuma evidência há sobre o que vem depois (nem se vem algo depois) da vida. A nós, meros mortais só resta esperar o momento da nossa morte chegar, aliás, chegada essa que é a única certeza plena que temos sobre a morte. Demore mais, ou, demore menos, ela sempre chega para interromper nossa vida de prazeres, vícios e deliciosos pecados que todos desejam, mas nem todos podem ter. Sim, porque embora tenha se convencionado chamar a vida de “dádiva divina”, para centenas de milhões de pessoas que vivem na mais absoluta miséria, com desnutrição, sem empregos, sem terra para plantar, sem acesso a água potável e nas piores condições sanitárias imagináveis, não há dádiva, não há poesia e nem perspectiva de melhora. Para esses, nem coroas de flores haverá quando a hora de “partir” chegar. Lamentemos pela extraordinária atriz Eva Wilma e todo o legado deixado, lamentemos pelo ex-prefeito Bruno Covas, ambos acometidos por uma doença ainda sem cura e que ainda não sabemos ao certo como evitar; lamentemos muito por aquelas mais de 400 mil mortes, dentre elas a de Paulo Gustavo, que poderiam ter sido evitadas, se não fosse pela omissão dos governantes de todas as esferas de poder, que se negaram a adotar o, comprovadamente eficaz, lockdown... ...mas, principalmente, lamentemos e nos mobilizemos por aqueles que, vivos, estão condenados à uma vida longe dos prazeres, dos confortos, dos acessos e da dignidade a qual todo ser humano deveria ter acesso. Que essas vidas sejam capazes de nos comover e nos mobilizar, tanto quanto a morte de pessoas famosas comovem e mobilizam. Música "Canto para Minha Morte - Raul Seixas e Paulo Coelho.

  • ESPECIAL: Telas BR: Panorama do cinema brasileiro - Parte 01

    TELAS BR é uma série especial de publicações da Dossiê etc, escrita por Cleber Eldridge, sobre o mundo audiovisual brasileiro, de 1990 a 2021; Começando pelo Cinema, a série ainda abordará: Novelas; séries e reality shows... Seja na telinha da TV ou na "telona" do cinema, o que marcou época no audiovisual nacional, você verá aqui. Hoje e nas próximas semanas. O cinema brasileiro sempre foi gigante em toda sua magnitude e só não é ainda maior, porque nós, o próprio público brasileiro, não enxerga o que está diante dos nossos olhos, pois acreditem, o que mais tem por aí, é gente que diminui o cinema nacional, que fala que só filme de favela que é bom, que as comédias da Globo são isso e aquilo, que os diálogos são ruins e mais uma porrada de coisas, que cá para nós, não ajuda em nada. O primeiro passo para que o cinema brasileiro seja reconhecido no mundo, é que ele seja reconhecido aqui, em terra Tupiniquins, o artigo a seguir vai falar de algumas das obras mais importantes, dos diretores que fizeram história e dos filmes que marcaram para sempre a memória do público e não, não irá se atentar em nenhum gênero específico, falaremos de todos os tipos de filmes. O artigo ficaria gigantesco se fossemos abordar toda a história do cinema brasileiro, desde o primeiro filme Limite (1931), passando por diretores importantes como Nelson Pereira dos Santos e Glauber Rocha, por isso, limitei o artigo com o cinema dos anos 90 até 2021, sem mais delongas vamos lá. Os anos 90 Os anos 90 foi uma década muito prolifera para o nosso cinema. Foi lá atrás que, as sonhadas indicações ao Oscar aconteceram, foram três ao longo da década, O Quatrilho (1995) foi a primeira, O Que é Isso Companheiro? (1997) a segunda e, a mais celebrada, Central do Brasil (1998) foi a terceira, de quebra ainda aconteceu uma indicação de melhor atriz para Fernanda Montenegro — assunto que ainda rende um longo debate sobre quem deveria ter levado a estatueta, mas isso é assunto para outra hora — foram as nossas únicas indicações, a vitória ainda não chegou, mas uma hora ela chega. Os anos 90 também marcaram a explosão das bilheterias, também foi lá que alguns filmes arrastaram milhões de pessoas aos cinemas, Lua de Cristal (1990) foi o primeiro filme da década atingir a marca de milhões nas bilheterias, não para menos, a Xuxa estava no auge e arrastava multidões por onde passava, logo seus fãs iriam ao cinema prestigiar a mesma. O diretor Walter Salles – diretor de Central do Brasil – explodiu nos anos 90, isso muito antes da sua indicação ao Oscar. Salles fez carreira no cinema com seus filmes de estrada, a maioria deles codirigidos por Daniela Thomas. A Grande Arte (1991), Terra Estrangeira (1995) e O Primeiro Dia (1998) foram seus filmes e que abririam caminho para uma carreira internacional. Anos 2000 O novo século traria novos ares ao cinema brasileiro, logo no primeiro ano, um sucesso de crítica e público, um filme que se tornaria um clássico, O Auto da Compadecida (2000) uma comédia em moldes completamente diferentes do habitual, a nova década também faria explodir de uma vez por todas as cinebiografias, foram tantas, tantas, que o público praticamente suplicava por mais e mais. O maior sucesso delas foi 2 Filhos de Francisco (2005) que bombou, Cazuza – O Tempo Não Para (2004) e Olga (2004) também foram sucesso, claro que nem todos eram realmente bons filmes, mas como tratavam de figuras reais e que de alguma forma foram importantes para a história do país, todas elas têm o seu prestígio. O maior feito do cinema nacional aconteceu em 2002, quando Fernando Meirelles dirigiu um filme que iria mudar para sempre não só o cinema nacional, como o mundo. Cidade de Deus (2002) mudou tudo, o filme influenciaria todas as gerações futuras, iria inspirar grandes diretores Americanos e Europeus e infelizmente iria viciar o público brasileiro, que mais do que nunca, queria assistir mais da realidade das favelas e violência. Fernando Meirelles foi tão genial que o filme recebeu quatro indicações ao Oscar, incluindo melhor diretor, que é até agora a única para um diretor brasileiro. O cinema nacional seria abalado mais uma vez, alguns anos mais tarde com Tropa de Elite (2007), vencedor do Urso de Ouro em Berlim, de melhor filme, uma multidão de gente foi ao cinema prestigiar a obra de José Padilha que, ao contrário de Cidade de Deus, mostrou situações da favela sob o olhar da polícia. Outro grande feito nos mesmos moldes foi Carandiru (2003), que narrava a história real dos presos de um dos maiores presídios do Brasil, dirigido por Hector Babenco, fez sua estreia no maior festival de cinema do mundo Cannes, foi lá também que estreou Linha de Passe (2007) que apesar de não ter sido sucesso de público, arrebatou a crítica e rendeu o prêmio de melhor atriz para Sandra Corveloni, o filme narra a história de uma família pobre da zona leste de São Paulo e todos os seus sonhos e inúmeras dificuldades. As comédias da Globo Filmes também fizeram sucesso, a grande maioria delas eram filmes derivados de séries da emissora como Os Normais e A Grande Família que arrastaram uma galera para os cinemas, mas para quem procura por obras completamente diferentes, é só uma questão de procurar, um dos filmes mais aclamados da década e que quase ninguém assistiu é Lavoura Arcaica (2001) considerado por muitos um dos grandes filmes de todos os tempos. O circuito alternativo sempre ofereceu grandes filmes e que quase nunca chegavam até a massa. Karim Ainouz, um dos autores mais interessantes do cinema dos últimos anos, dirigiu Madame Satã (2002) e O Céu de Suely (2006) filmes que atualmente são tidos como clássicos da cultura nacional. Em 2001, Bicho de Sete Cabeças colocou Rodrigo Santoro nos radares do mundo, o mesmo aconteceu com Laís Bodanzsky, uma das nossas poucas diretoras mulheres, infelizmente. O sertão também sempre se fez muito presente no cinema nacional, só que nunca atraiu grandes públicos, o que é uma pena, já que esse deveria ser um dos nossos principais temas. O filme Cinema, Aspirinas e Urubus (2005) trilhou esse caminho, mas não funcionou, é um dos filmes mais esquecidos da década, assim como o excelente Amarelo Manga (2002), que tem seus apreciadores, mas... OS DOCUMENTÁRIOS Eduardo Coutinho não foi só o maior documentarista do Brasil como um dos maiores do mundo, dentre suas obras mais populares estão Edifício Master (2002), Jogo de Cena (2007). Ônibus 174 (2002) também é um dos representantes do gênero, que mais tarde se tonaria um longa-metragem de ficção, sem o mesmo sucesso ou efeito. Os documentários, ao contrário de todos os outros gêneros, sempre foram feitos para um determinado nicho de pessoas, infelizmente, o público brasileiro ainda não tem um certo “pudor” para apreciar esse gênero que sim, pode ser devastador. Leia agora a 2ª parte de TELAS BR

  • A representatividade LGBTQIA+ nas séries

    O mundo Queer está muito bem representado nas séries. O que é essa representatividade que todo mundo anda falando nos últimos tempos? Segundo o dicionário, representatividade significa: “qualidade de alguém, de um partido, de um grupo ou de um sindicato, cujo embasamento na população faz que com ela possa exprimir-se verdadeiramente o seu nome”, em outras palavras são pessoas que representam a classe ou um movimento, as mulheres, por exemplo. O mundo LGBTQA+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Queer, Intersexo, Assexual e outros grupos e variações de sexualidade e gênero) tem ganhado muito espaço nos últimos anos, tanto no cinema, quanto na televisão, mas especialmente na telinha. Com a invasão dos canais fechados e dos streamings, os roteiristas ganharam uma liberdade muito maior para abordar temas que em outros tempos, ou eram tabu ou eram proibidos. Se voltarmos ao início dos anos 2000 e olharmos para as séries que passavam na época, vamos encontrar um ou outro personagem homossexual e quando os encontrávamos era a personificação do estereótipo, olhando para as séries atuais, esses estereótipos foram extintos. Explosão Queer Criação de Ryan Murphy, que é assumidamente homossexual e que faz questão de incluir em todas as suas séries personagens homossexuais, Pose (2018 - 2021) é sem sombra de dúvidas a série que representa a palavra representatividade. A história mostra o cotidiano de um grupo pessoas no final dos anos 80 e começo anos 90 esse grupo de pessoas é formado por travestis, homossexuais e afro-americanos, todos eles pessoas que, simplesmente, não conseguem se encaixar na sociedade. Para sobreviver eles passam as noites nos chamados ballrooms. A série aborda o racismo, a homofobia, o surgimento da AIDS e o movimento Vogue — sim, Madonna, baby — e mais uma porção de assuntos, todos abordados de forma legitima e sensível. Sem estereótipos Os dias e as noites de Ricky, Augustin e Don é o tema principal de Looking (2014 – 2016) uma série que, infelizmente, não sobreviveu por conta dos baixos índices de audiência. Mas é sim, uma série genial, que mostra o retrato de três amigos homossexuais em toda sua naturalidade, insegurança, medos, privações e sonhos. Mais quente... Se Looking tinha a necessidade de parecer natural, Queer as Folk (2000 – 2005) ia por uma linha totalmente contrária. Essa foi a primeira série totalmente homossexual da história da televisão americana e narrava o cotidiano de cinco amigos em Pittsburgh, só que a série mostrava especialmente o lado promiscuo da comunidade LGBTQIA+. Muitas cenas de sexo — muitas, mesmo — eram tantas que ficava praticamente impossível assistir a série na sala de casa. Visibilidade lésbica As mulheres também conquistaram seu espaço e lógico fizeram da melhor forma possível, eu particularmente não sou dos maiores apreciadores de Orange is the New Black ou de The L World, mas como as outras mencionadas acima, elas são importantes, sim. O que quero dizer é que, atualmente é praticamente obrigatório em todas as séries, não importa o gênero ou o enredo, sempre dá para encaixar personagens homossexuais. Até nas séries mais “clássicas” como The Sopranos e Mad Men o assunto foi a abordado e, ainda que de forma delicada, marcaram presença. Os anos dourados das comédias com risadas no fundo – sitcom – também fizeram a sua parte. era regra comum que um dos personagens, especialmente os coadjuvantes, fosse homossexual. Will & Grace foi um dos maiores sucessos da televisão americana, mas era outra série que colocava a classe de forma estereotipada em frente da telinha. Para qualquer efeito, foi um sucesso, a série mostrava Will, um advogado morando com Grace, sua melhor amiga, era um episódio mais engraçado que o outro, mas não por conta da dupla de protagonista e sim por Jack, melhor amigo do Will, representando a figura do homossexual consumista, dramático e predador; e Karen, a secretária de Grace, que é rica e trabalha por esporte. Como era uma comédia, os índices de audiência eram altíssimos e alterou a história por conta de seus personagens. O ápice da representatividade: Finalmente, Sense8 conseguiu ser tudo isso que foi mencionado acima de uma só vez, mas diferente de algumas mencionadas acima, essa não era uma série com foco no público e somente com personagens homossexuais. Era uma série sobre as relações humanas, sobre experiências coletivas, experiências sexuais, trocas de alma e corpo e foi a primeira série com uma atriz transexual interpretando uma personagem transexual e de quebra ainda tinha o serviço completo, com ótimas cenas de ação, alívio cômico e uma trama arrojada, era a pura representatividade que, INFELIZMENTE, foi cancelada. Eu poderia ficar horas e mais horas falando de personagens importantes em séries como Six Feet Under, True Blood, Oz, Shameless, Unbreakable Kimmy Schmidt, How To Get Away With a Murdere até de séries péssimas como Elite ou La Casa de Papel, todas tem o seu valor e todas são representativas à sua forma.

  • Filme: Mainstream (Gia Coppola, 2020)

    Sátira sombria sobre o egocentrismo no mundo dos influenciadores digitais. O diretor Francis Ford Coppola sempre foi visionário, desde a criação de um dos maiores filmes de todos os tempos O Poderoso Chefão (1972), passando por sua megalomania enlouquecedora em Apocalypse Now (1979) até a sua própria família, os Coppola – uma longa linhagem de diretores, roteiristas e produtores. Francis abriu os caminhos cinematográficos para seus filhos Sofia e Roman Coppola e como qualquer outra família, a tendência é sempre crescer. Em 2013 a neta de Francis, Gia Coppola fez sua estreia na direção com o filme Palo Alto (2013) que causou certo barulho em festivais independentes por onde passou, mas foi só no Festival de Veneza 2020, que Gia chamou atenção de tudo quanto é cinéfilo e crítico. O novo trabalho da diretora, Mainstream (2020), aparentemente era uma comédia, mas que se tornou uma sátira sombria. O filme conta a história de Frankie (Maya Hawke), uma adolescente entrando na fase adulta, que trabalha em um bar durante as noites e passa os dias determinada se tornar famosa nas redes sociais, ou melhor, ela quer ser uma Youtuber. Os dias da personagem são comuns, como de qualquer outro ser humano, na esperança de um estalo, uma ideia que funcione e que, de uma vez por todas, deixe ela famosa. O mundo favorece Frankie, quando ela encontra Link (Andrew Garfield) um aparente ninguém que está fantasiado de rato em uma praça qualquer, Frankie começa gravar Link declamando um monólogo sobre arte, é então que tudo acontece, ele "viraliza". O duo formado por Link, que é a estrela principal, e a diretora Frankie, precisa de um terceiro componente. Então Jake entra para a turma como roteirista, é ele quem cria as piadas e quase todo material do canal, é ele também a única mente sóbria dos três, já que com o decorrer do sucesso que o canal faz, Link deixa a soberba tomar conta do seu corpo, mente e alma. Link é misterioso, carismático, excessivo, capaz de comandar qualquer sala, desprovido de regras e claro, consegue controlar todos – ou, quase todos – ao seu redor, especialmente Frankie que em determinado momento se apaixona por Link e é ai que as coisas desandam de uma vez por todas. O foco inicial do trio era mostrar o lado sombrio dos influenciadores digitais, desmascarar a farsa que a grande maioria deles são. Em frente às câmeras uma pessoa e por trás dela, seres humanos nojentos, o lado mais obscuro e destrutivo destas plataformas. A natureza da própria fama é colocada em evidência numa viagem cada vez mais sombria aos meandros da obsessiva natureza do ser humano, mas sem nunca perder o evidente tom satírico. O filme é muito ágil, conta com cortes muito rápidos e não tem medo de usar os famosos truques das redes sociais para ajudar com a narrativa. Coppola pontua por suas cores gritantes, pelos seus smiles e emojis explosivos, pela sua luz, cor, vontade de chocar e exagerar. Ela consegue tudo isso. É um filme corajoso, que age fora de qualquer expectativa com conformidade, resumindo, é um filme exagerado, que precisa do exagero para que a história funcione. Andrew Garfield reina com tranquilidade aqui, sua atuação não é pontual, porque o personagem é a verdadeira personificação do exagerado e Garfield está se tornando um ator de esquisitices e estou falando no melhor sentido da coisa. Garfield parece ter sido escolhido a dedo para interpretar Link e sua atuação é tão natural e sincera que ele acaba se tornando o grande trunfo do filme, ou seja, sem ele, nada teria o mesmo efeito. O mundo atual clama por facilidades e as redes sociais, naturalmente, são ferramentas para uma maior interação entre as pessoas e seria uma maravilha se fosse só isso mesmo, não fosse as tantas redes de ódio, as pessoas e todo seu deslumbre, famosos das redes sociais que acham mesmo que são relevantes para a sociedade e que, em alguns casos, até são, mas tudo, tudo depende de ponto de vista e é isso que Gia Coppola fez perfeitamente em seu segundo longa-metragem. Um ótimo filme, mais um ótimo filme dirigido por mais uma Coppola. Onde assistir: Em breve em Google Play FIlmes e Youtube

  • LISTA: 5 Filmes com diferentes tipos de mães

    Chega de textão, manda essa lista de presente para sua mãe. Ela vai amar! (e você também!) O que faz de uma pessoa ser mãe? O fato de apenas colocar alguém no mundo? A criação? São muitos os fatores que fazem uma mãe ser uma mãe e isso é muito relativo. O cinema como uma das maiores artes do mundo, sempre retratou mães como nenhuma outra arte, aliás, algumas atrizes fizeram carreira interpretando grandes mães. Só para mencionar a maior, Meryl Streep, em A Escolha de Sofia (1982), na obra-prima Kramer Vs. Kramer (1979) ou Simplesmente Complicado (2009), separei então cinco DIFERENTES tipos de mães no cinema. 5. Um Sonho Possível (John L Hancock, 2009) O filme que rendeu Sandra Bullock seu primeiro e único - até o momento - Oscar. É um filme que conta uma inspiradora história baseada em fatos de forma otimista e com algumas pieguices. Sandra Bullock constrói uma personagem ao mesmo tempo forte e terna, fugindo de alguns estereótipos e caindo miseravelmente em outros, é o filme mais fraco da lista, ainda assim, vale a pena começar por esse. 4. Mãe! (Darren Arnofksy, 2017) O exagero das pessoas é tão exorbitante, li gente listando esse filme entre as piores coisas do mundo e outros rotulando de “a nova maravilha” do cinema, puro exagero. Não é nem um e nem outro. A história "sagrada" da mãe é sim bem interessante - ainda que caia muito no segundo ato - Aronofsky trouxe muito de Cisne Negro, arrancou uma das melhores atuações de JLaw (aliás, quando a bendita finalmente merece indicações a prêmios, ninguém valoriza) é aparentemente um filme bem pessoal do diretor, tecnicamente perfeito, feito para refletir a relação entra a mãe natureza e seus filhos, a humanidade. 3. Preciosa - Uma História de Esperança (Lee Daniels, 2009) O filme é forte, é marcante e muito pesado, Claireece “Precious” Jones sofre privações inimagináveis em sua juventude. Abusada pela mãe, violentada por seu pai, ela cresce pobre, irritada, analfabeta, com sobrepeso insalubre, sem amor e geralmente passa despercebida. A melhor maneira de saber sobre ela são suas próprias falas: "Às vezes eu desejo que não estivesse viva. Mas eu não sei como morrer. Não há nenhum botão para desligar. Não importa o quão ruim eu me sinta, meu coração não para de bater e meus olhos se abrem pela manhã”. Uma história intensa de adversidade e esperança. Mo'Nique interpreta a "mãe" de Preciosa, um ser maligno, o pior “tudo” de ser humano. É a prova de que mãe não é quem dá a luz ou quem cria e sim quem dá amor. 2. Álbum de Família (John Wells, 2013) O filme gira em torno de um jantar de família, uma grande família. Ao se sentarem pra comer, os personagens começam a conversar e vomitar seus problemas uns em cima dos outros, especialmente a mãe que é uma verdadeira "cobra". Julia Roberts era a dona daquele Oscar, a cena do jantar me faz pulsar o coração e morrer de vontade de dar um tapa na cara daquela velha peçonhenta. Meryl Streep está monstra, todo o elenco dá apoio a essa dupla, um dos melhores filmes de seu ano, sem dúvida. 1. Mommy (Xavier Dolan, 2014) A obra-prima de Xavier Dolan é focada em um relacionamento entre mãe louca e filho descontrolado. Uma amizade que não é feita para funcionar, mas funciona e mais uma porção de acontecimentos por duas horas, sem que você perceba o tempo passar - Anne Dorvall está ensandecidamente maravilhosa; o ator que vive o filho (Antoine-Olivier Pilon), impressiona por sua neutralidade, ainda assim dá um talento em frente a tela quadrada que inicialmente incomoda, mas graças ao texto, nos faz esquecer completamente do anglo quadrado. Não preciso nem comentar a maravilhosa trilha sonora, destaque para algumas cenas que me fizeram sim, chorar. Filmaço, maravilhoso, estupefato, incrível, delicioso - uma obra perfeita que fala da relação contundente entre mãe e filho. BÔNUS (da redação): Minha mãe é uma peça 1, 2 e 3... Longe de toda discrição das mães de Hollywood, Minha Mãe é Uma Peça é o típico humor brasileiro, uma franquia de sucesso que apostou na brasilidade, a reprodução fiel do estereótipo da mãe brasileira. Um caracterização que talvez para muitos outros países não faça o menor sentido, mas que para nós é o riso certo, a lembrança das frases ditas por nossas mães desde a nossa infância, uma atuação maravilhosa de Paulo Gustavo, capaz de gerar grande identificação no público que assiste, seja dos filhos por reconhecerem suas mães, ou seja nas mães que reconhecem ali, seus próprios atos, um retrato cômico de seu cotidiano. É muito provável que você já tenha assistido a franquia completa, mas são filmes que tinham que estar aqui, seja pela importância para o cinema nacional, seja para homenagear um grande artista de nosso tempo que infelizmente nos deixou precocemente, seja para alegrar o dia das mães aí na sua casa... seja pelo motivo que for, esses filmes precisavam estar aqui. FELIZ DIA DAS MÃES!

  • DIEESE: Salário-mínimo em abril deveria ter sido de R$ 5.330,69; entenda o cálculo

    Entenda o passo a passo da metodologia utilizada no cálculo de salário-mínimo que o DIEESE divulga mensalmente. Entra mês, sai mês e lá vem aquela enxurrada de notícias sobre quanto deveria ser o valor do salário-mínimo nacional. Talvez você já saiba que esse salário-mínimo é uma estimativa calculada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, o famoso e essencial DIEESE, que faz acompanhamentos estatísticos importantíssimos com relação a economia popular, como a evolução do valor da cesta básica, dado crucial para o cálculo do salário-mínimo ideal. Nessa matéria especial você vai entender a fórmula por trás desses valores aparentemente tão distantes que e tão incompatíveis com a realidade nacional. A fórmula do DIEESE: A fórmula até que é simples. O DIEESE segue algumas premissas básicas para desenvolver essa equação: A primeira é o Decreto-lei nº 399 de 30 de abril de 1938 que em seu capítulo VIII que regulamenta a execução da lei nº 185, de 14 de janeiro de 1936 cujo seu artigo 1º instituía: “Todo trabalhador tem direito, em pagamento do serviço prestado, num salário-mínimo capaz de satisfazer, em determinada região do país e em determinada época, das suas necessidades normais de alimentação, habitação, vestuário, higiene e transporte” Essa primeira premissa serve de base para que o DIEESE calcule o valor da cesta básica que contenha a quantidade mínima dos itens descritos na tabela abaixo: A segunda premissa que o cálculo do DIEESE segue, é considerar o percentual que o alimento representa na renda das pessoas. Para isso seguem a Pesquisa de Orçamento Familiar, POF, realizada pelo próprio DIEESE em 1994, na cidade de São Paulo. À época, esse o gasto de uma família com alimentos era de 35,71% da renda. Sendo assim, a fórmula para a cesta básica é: C.F.A. = Custo Familiar de Alimentação C.C. = Custo da Cesta Básica de maior valor (UF) Essa sopa de letrinhas pode parecer complicada à primeira vista, mas é bem mais simples do que parecem. Troquemos as letrinhas por números reais. Observe: Em abril a cesta básica mais cara foi a de Florianópolis por R$ 634,53. Logo, C.C. = R$ 634,53. O resultado parece um valor inimaginável para o Brasil de hoje. Qualquer micro e pequeno negócio fica de cabelo em pé só de imaginar em pagar um salário-mínimo desses, mas calma, a terceira premissa que o DIEESE segue é exatamente a definição constitucional de salário-mínimo: “fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender às suas necessidades vitais básicas (do trabalhador) e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que preservem o poder aquisitivo” Constituição Federal de 1.988, art. 7º, parágrafo IV. O cálculo da DIEESE diz respeito ao salário-mínimo familiar, considerando para esse exemplo uma família com 2 adultos e 2 crianças (ou 3 adultos, já que para o cálculo considera-se que cada criança consome metade de uma cesta básica). Salário-mínimo familiar: O que o DIEESE faz é simular a composição média da família brasileira e é claro que isso pode gerar certas imprecisões na forma como esse resultado é divulgado, já que as famílias mais pobres, aquelas que mais precisam ser assistidas pelo instituto do salário-mínimo, têm em média 2,9 filhos, ao passo que as famílias mais ricas têm 0,77 filhos por família. Uma diferença significativa no orçamento familiar necessário. Há também um gigantesco abandono parental no Brasil. Atualmente, aproximadamente 6 milhões de crianças não possuem sequer o nome do pai no documento, outras milhões de crianças sabem quem é o pai, mas são criados somente pela mãe, sem o devido suporte financeiro por parte do pai. Porém, em um país com a demografia e dimensão do Brasil, existem muitas variações na composição das famílias. Por isso, observe abaixo alguns exemplos. Lógica: Se para uma casa com 2 adultos e 2 crianças (= 3 adultos) São necessárias 3 cestas básicas, em uma casa com apenas um adulto, o cálculo seria: Certo? Errado. Parece ser bem simples, mas não é, observe esse outro exemplo: Casa com uma família de 1 adulto e uma criança: Repare nos dados acima: Seguindo o cálculo do DIEESE, o salário-mínimo para uma pessoa com um filho, seria de R$ 2.665,34; imaginando que R$ 951,80 são exclusivamente para a alimentação, sobra ainda R$ 1.713,54 para, segundo a constituição pagar moradia (aluguel, luz, água/esgoto, telefone, internet etc.), lazer, saúde, educação e transporte. Em uma casa com dois adultos, a soma das rendas arcará com apenas um imóvel. Ou seja, cada renda só precisa arcar com metade dos custos de moradia; em uma casa com um pai ou uma mãe solo, a renda que antes arcava com metade de, por exemplo, um aluguel, agora precisa arcar com um aluguel inteiro. De qualquer anglo que se olhe, parece que essa conta não fecha. E não fecha mesmo, por um motivo simples: A alimentação do Brasileiro não corresponde mais a 35% de seus gastos e isso faz uma diferença enorme no resultado final. A evolução do Orçamento Familiar: Como dito anteriormente, a DIEESE utiliza a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) de 1994/1995, em que as famílias paulistanas declaravam, em média, o uso de 35,71% dos recursos para moradia e 25,5% da renda para habitação; corte seco, na POF de 2018, o gasto do mesmo recorte social em São Paulo, com alimentação passou para apenas 17,5% e o gasto com habitação saltou para 45,7%. O Valor da cesta básica não pesa mais 35,71% no orçamento familiar, pesa apenas 17,5%, isso se deve a uma valorização real do salário-mínimo ocorrida de lá para cá e às boas práticas pesquisadas e aplicadas pela estatal Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, mas principalmente a um problema gravíssimo, a especulação imobiliária, que trata imóveis como ativos de investimento, sequestrando a função social dos imóveis, fazendo que se valorizem ano após ano, aparentemente artificialmente, já que muitos desses imóveis permanecem desocupados por longos períodos. Aplicando esse novo percentual, perceba que o valor do salário-mínimo precisa ser muito maior, já que hoje, o principal custo do orçamento familiar não é a alimentação e sim a moradia: Isso significa que uma família com 2 adultos e 2 crianças, que pela POF de 1994, precisaria de R$ 5.330,69, em São Paulo, para garantir moradia, alimentação, saúde, educação e lazer, atualmente precisaria de R$ 10.877,66. É necessário considerar também as significativas diferenças nos custos de vida, a depender da região em que se vive. Em Aracajú, por exemplo, capital de Sergipe, com uma cesta básica de R$ 469,66, a alimentação consome 29,5% da renda familiar. Logo, para a mesma configuração familiar alcançar os mesmos direitos constitucionais dos quais o salário-mínimo precisa dar conta, são necessários apenas R$ 4.776,20 (56% a menos em comparação com São Paulo). Essa diferença gritante se dá por que com uma especulação imobiliária muito menor. Com custos de habitação bem menores, apenas 34,5% do orçamento familiar é destinado para moradia. Valor 32% menor que o percentual necessário às famílias paulistanas. Uma mãe solo, com um filho, por exemplo, para dar conta de todas as necessidades de uma família, precisaria de R$ 5.330,69, em São Paulo. Isso significa que desse valor, R$ 2.436 (45,7%) seriam gastos em habitação (aluguel, luz, água, tv, internet), R$ 949 (CFA) em alimentação para ela e seu filho; sobraria ainda R$ 1.945 para dar conta da educação, saúde e lazer para ela e seu filho. (Isso considerando que o Imposto de Renda seja reajustado, pois na atual conjuntura, uma família nessa configuração pagaria 27,5% (R$ 1.465,94) em Imposto de Renda, mesma faixa de Imposto de Renda de milionários e bilionários, mas no caso citado, adeus educação saúde e lazer). Atualizar o cálculo e denunciar o impacto da especulação imobiliária: Sabemos que não existe a possibilidade de o salário-mínimo ser instantaneamente reajustado de modo a suprir todas as necessidades constitucionais. Nem os valores propostos atualmente são alcançados, aumentar a pedida não deve ter efeito real, muito menos imediato. Porém, seria de extrema importância passar a sugerir esse novo cálculo, mesmo que paralelamente ao cálculo antigo, de modo a denunciar o avanço dos custos habitacionais sobre a renda do cidadão. Essa diferença na distribuição do orçamento familiar é especialmente prejudicial para quem vive de aluguel. É um engano terrível fingir que esses indicadores do POF não se alteraram e insistir na mesma fórmula usada há tantos anos e que na prática não se sustenta mais em regiões onde a especulação imobiliária é um problema sério, como acontece em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Embora como dito acima, as famílias que vivem de aluguel, sofram mais com o aumento dos gastos com moradia, é importante notar que os imóveis têm perdido qualidade, diminuído em metragem e mesmo assim o preço do metro quadrado não para de subir nos novos empreendimentos. Há uma percepção de que as facilidades geradas pelos programas habitacionais, como o parcelamento em 360 meses, fizeram com que as incorporadoras se sentissem mais à vontade para cobrar valores bem mais altos que o que seria razoável pelo metro quadrado construído, já que diluído em tantas parcelas, essas diferenças não assustam tanto o consumidor final. Eu particularmente acredito que a solução não está em elevar o salário-mínimo para valores exorbitantes, isso inviabilizaria provavelmente a maioria dos micro, pequenos e médios negócios, pois, embora se saiba que a adaptação é rápida, porque o ganho real no salário-mínimo favorece o consumo e ativa a capacidade produtiva ociosa do país, um aquecimento econômico generalizado. Porém, o stress político e econômico fazem essa alternativa não ser tão viável. Mas há viabilidade em uma série de outras medidas: 1. CRIAÇÃO DE INDICADORES: Por outro lado, existem diversas formas de combater a especulação imobiliária. O primeiro passo é a criação de dados de acompanhamento do mercado imobiliário, como por exemplo a definição de metros necessários para cada adulto e cada criança viverem confortavelmente em uma residência, e a partir disso, acompanhar a evolução do preço de aluguel do metro quadrado em diversas cidades, com o mesmo método de amostragem utilizado para acompanhar a evolução da cesta básica. 2. CRIAÇÃO DE UMA TABELA DE REFERÊNCIA: Cruzando dados sobre: a renda dos brasileiros, estoque de imóveis vazios nas principais capitais do país preços médios de metro quadrado, desenvolver uma espécie de tabela de referência que indique os valores “justos” por metro quadrado em cada região. Essa medida poderia balizar os valores dos aluguéis e constranger a especulação irracional que tanto prejudica a economia popular. Além de revelar o descompasso entre a realidade praticada e o ideal racional. Algo parecido com o que fez a tabela Fipe no mercado automobilístico. 3. POLÍTICAS PÚBLICAS: A sociedade precisa amadurecer a ideia de políticas públicas que combatam a especulação imobiliária e de forma alguma isso fere o direito a propriedade, já que uma lei como essa não proibiria que as pessoas fossem proprietárias de seus imóveis, mas aplicaria uma regulação sobre isso a fim de proteger a economia popular. Além do já tão conhecido e discutido IPTU progressivo, há possibilidades de limitar a quantidade de imóveis que as pessoas podem ter por bairros, impedindo assim que a concentração de unidades na mão de locatários investidores, seja capaz de manipular artificialmente o valor do metro quadrado para venda e locação. Por que é que um mesmo CPF precisa ter mais de um imóvel na mesma região? Se apenas em São Paulo existem 32 subprefeituras, uma limitação nesse sentido não seria tão limitante e ainda assim, provavelmente, traria os efeitos desejados. A especulação gerada por grandes fundos imobiliários, não raramente, resulta no processo chamado de gentrificação, encarecendo o custo de vida em determinadas regiões e expulsando os moradores originais, que acabam indo para as regiões extremas da cidade, longe de seus postos de trabalho, mas onde consiga viver com a pouca renda que tem. Não por acaso o trânsito e a superlotação do transporte público pioram a cada ano, ao passo que as pessoas são obrigadas a irem morar em regiões longe de seu trabalho, aumentando seu deslocamento diário. Isso leva a conclusão de que limitar ou proibir que empresas (CNPJ) mantenham imóveis residenciais, combateria a especulação imobiliária e consequentemente outras práticas desprezíveis como lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e desvio de finalidade do caixa das empresas. Independente das soluções que o debate público seja capaz de encontrar, a denúncia precisa ser feita e o primeiro passo é atualizar os indicadores utilizados no cálculo, para que o abismo social crescente fique ainda mais visível e a necessidade de reformas e desenvolvimento de regulações, seja ainda mais evidente.

  • O Mito da Mulher Maravilha

    E você, o quão perfeita é? Vamos começar esta coluna arrebitando, mostrando que, SIM! Temos lugar de fala e que não vamos mais nos calar. Eu sou Nataliah Gardeni, escritora, colunista, historiadora e pesquisadora. Criadora do Projeto Arrebita Mulher. Trarei a vocês temas como Feminismo e suas vertentes, relacionamentos abusivos, machismo estrutural e posicionamento do poder feminino na sociedade. Já que é para arrebitar vamos começar por esta utopia criada de “perfeição feminina”. A expectativa de sempre referente a cada uma de nós é que estejamos sempre a postos, prontas para o que der e vier. Há o grande mito da mulher maravilha, onde a mulher é forte e necessita aguentar tudo . Agora vamos ao cerne de toda esta questão: Somos subjugadas, tidas como o segundo sexo, sempre a última a falar, somos educadas a dizer sim sempre, sem demostrar o nosso lado, e ser sempre empática, pois caso contrário somos as que "não servem", e isto generaliza de uma forma tão catastrófica que se somos das que não se interessam por ser uma dona de casa, não servimos para casar. Como se todo o objetivo de nossa existência girasse em prol disso. E sabemos que uma coisa não exclui a outra. É impossível para a sociedade compreender que sim podemos não querer ser a que lave, passe, cozinhe e sim, criamos nossos objetivos e não queremos que este seja um ditado dado pela sociedade normativa. As potencialidades de uma mulher vão além do que se possa compreender, não somos todas feitas em uma forma de bolo, até porque os bolos que são feitos na mesma forma sempre terão uma diferença do próximo que está por vir. Compreendam que não viemos à terra para sermos o ser subserviente que está à espera do " sim, pode fazer", "sim, eu autorizo". Infelizmente é constantemente cobrado que representemos este papel imposto; onde a mulher é o ser que não só tem, mas sim é "obrigada" a configurar esta figura de mulher maravilha em si. Nós mulheres trabalhamos, em média, 7,5 horas a mais que os homens por semana devido à dupla jornada que inclui tarefas domésticas e trabalho remunerado. Em 2015 a jornada total média das mulheres era de 53,6 horas e a dos homens, de 46,1 horas. Com dados de 2017. E a tendência é esse número continuar subindo, enquanto não houver o entendimento de que as tarefas domésticas não são uma opção de ajuda, mas sim o mínimo que se espera de quem vive junto. Compreendam que tudo isso, de que este formato de história foi criado na expectativa de que fosse atendido sem ter nenhum barulho de nossa parte. Mas somos luta! Seja forte, mas não se cobre ser uma mulher maravilha!

  • LISTA: 5 melhores filmes nacionais da última década

    O cinema brasileiro é maravilhoso e isso não depende do ponto de vista, não. Ele é maravilhoso e ponto final. Se você ainda é daquela turma que torce o nariz, o pescoço ou o dedão do pé para as nossas obras, meu amigo, eu lamento muito por você, separei aqui cinco obras, de diferentes diretores - optei por assim fazer, se não os três filmes de Kleber Mendonça Filho, estariam na lista - para provar - não que isso seja necessário - de uma vez por todas que o cinema nacional é rico em toda sua plenitude, deixe o preconceito de lado e se jogue nesses filmes. Lembrando que, são obras apenas da última década e são cinco filmaços, imagina o que você não perdeu em todos os anos anteriores. 5. Rasga Coração (Jorge Furtado, 2018) O filme ainda que gire em torno da política na época, tem várias camadas na relação pai e filho, personagens interpretados magistralmente por Marco Ricca, João Pedro Zappa e Chay Suede, o choque de gerações se faz presente, não só no comportamento como também nas posições políticas. Furtado consegue equilibrar muito bem o passado e o presente, a montagem deixa a sensação de estarmos dentro de um ciclo que parece vicioso, além do claro paralelo com o Brasil atual. 4. Tatuagem (Hilton Lacerda, 2013) De anos em anos o cinema nacional produz um filme assim, realmente interessante (apesar de toda sua peculiaridade) Lacerda faz um filme pessoal com toda sua estranheza e psicodelia infinita - ao mesmo tempo fica claro o porquê de o cinema nacional não conseguir espaço no circuito internacional, os diálogos precisam ser mais bem desenvolvidos e principalmente, a qualidade visual do cinema brasileiro precisa ser melhorada a todo custo. 3. Canastra Suja (Caio Soh, 2016) O trabalho do elenco é gigante, muito me impressiona como Caio Soh amadureceu suas ideias, agora sabe como chocar seu público sem parecer forçado. A história de uma família comum que, como qualquer outra tem problemas, passa por altos e baixos, flui com certa naturalidade - mesmo nos diálogos - muito bem interpretados pelo elenco, Adriana Esteves como já é de se esperar, acaba ofuscando seus colegas. 2. Gabriel e a Montanha, (Fellipe Barbosa, 2017) Sou suspeito para falar já que, sou louco por histórias como a do Gabriel, que larga tudo e todos e cai no mundo sem olhar para trás. A peregrinação do garoto por vários países da África, até a sua tola morte me cativou do início ao fim e ainda que seja longo demais, eu aguentaria mais meia hora. Com um belo discurso educacional, um elenco naturalista que poucas vezes vi igual e muito bem dirigido, Gabriel e a Montanha foi uma deliciosa surpresa, de qualidade única. Só aumentou minha paixão por histórias como essa e, claro, minha vontade de colocar uma mochila nas costas e sair mundo a fora, lógico que, infelizmente nem tudo é assim simples como parece. Um dos melhores filmes de 2017. 1. Aquarius (Kleber Mendonça Filho, 2016) Não é só o melhor filme nacional desde Cidade de Deus, como é sim uma obra única para o cinema brasileiro, Kleber Mendonça Filho nos entrega uma obra-prima, dono de uma singularidade, o filme trabalha em cima de uma história muito simples, porém contada com uma maestria que eu raras vezes vi no cinema brasileiro. O filme é gostoso e inteligente em uma escala muito alta, o diretor poderia continuar contando a história de Clara por mais meia hora que eu definitivamente não iria achar ruim. Sonia Braga parece ter encontrado a personagem de sua carreira. Sensacional, excepcional e mais todos os elogios para o filme são poucos, em sala lotada, ao fim da sessão aplausos acalorados e como não seria diferente um Fora Temer, pois bem, Aquarius é uma obra-prima do cinema nacional. BÔNUS: Babenco - Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou (Barbara Paz, 2019) Os primeiros minutos do documentário são suficientes para arrebatar qualquer amante do cinema e da vida. Babenco narra momentos de sua jornada com um tom de voz diferente de absolutamente tudo o que já presenciei. A colagem com momentos de seus filmes enquanto ele comenta de forma profunda, são extremamente tocantes. Que ser humano profundo, que lutou por sua vida, que lutou pelo cinema, que amava o cinema, que amava a vida, que amava o Brasil. Diretor muito subestimado, mas genial até em seu leito de morte: “eu já vivi a morte, agora tenho que filma-la. Simplesmente em transe, uma obra-prima.”

  • O Rio de Janeiro continua aquele...

    O Rio de Janeiro vive refém da facção mais violenta do Brasil, a polícia carioca. O Rio de janeiro já não é lindo há muito tempo. O Rio de Janeiro só continua lindo se for olhado de longe, se for visto apenas pela sua formação geográfica ímpar, capaz de elevar seus cartões postais a pontos tão altos que nem toda a pobreza, miséria, desigualdade, corrupção e covardia policial, são capazes de ofuscar. Em 2008 tive a oportunidade de passar um mês na cidade “Maravilhosa”. Talvez eu tenha ido com as expectativas altas demais. Eu tinha ouvido falar do Rio dos tempos de Dondon no Andaraí, Rio de Madureira, o lugar de Arlindo; do Rio do Rei Zeca, lá em Xerém; Rio do Cacique de Ramos, da Lapa, da boemia e do samba. Tudo que eu encontrei foi um Rio da desigualdade, do contraste entre a vazia e higienizada Getúlio Vargas com a movimentação sujeira e pobreza da avenida Rio Branco, um Rio de Janeiro em que o cidadão tinha mais medo de voltar para casa e encontrar uma operação policial, do que ser assaltado no ônibus, já que no ônibus as vidas eram poupadas em troca de celular e no Morro, nas ações desastradas da polícia, as vidas eram roubadas em troca de medalhas. O Rio de Janeiro deve ter sido muito lindo mesmo, uma visita ao Salgueiro prova que ali existem pessoas lindas, pessoas vibrantes, inteligentes, que querem respeito e, talvez por isso, na quadra da escola, em um clima comunitário as pessoas se sentissem tão à vontade e felizes, como se lá fora todos os problemas não os esperasse. De lá para cá não tem como ter melhorado. As Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) foram instaladas, viraram a base das milícias, unidades que expulsaram os negros que vendiam drogas para, no lugar, colocarem os brancos fardados que vendem drogas, gás, luz, internet, tv a cabo e execuções para quem puder pagar... A polícia do Rio de Janeiro nunca quis combater o crime. Pelo contrário, em seus horários de folga os policiais se prestam a trabalhar fazendo a segurança de gente de toda sorte, de baladas a casas de prostituição e chefes do jogo do bicho. Mas repare, eu disse que a polícia do Rio sempre se propôs a defender pessoas de toda sorte, o que, por óbvio, não inclui pobres, negros e favelados, já que, embora se venda a ideia de que a vida é uma sorte, uma dádiva, não há sorte possível a essas pessoas, não há sorte que as alcance, infelizmente são pessoas de pouca ou nenhuma sorte, que a qualquer momento podem ser assassinadas pela próxima chacina promovida pela polícia. Chacinas essas como a de Jacarezinho com execuções dentro da casa dos moradores, de pessoas desarmadas, chacina que matou um jovem desarmado, que não se levantou para morrer, foi covardemente executado pela polícia que mais próxima está de ser milícia que executa e bagunça a cena do crime, para evitar perícias. O Rio de janeiro continua aquele da sede do império, aquele do império escravagista com ódio de pobres e negros, aquele Rio do “delegado Chico Palha” que oprimia, batia, acabava com o samba a pau e ainda quebrava os instrumentos. O Rio de janeiro continua aquele da guarda do império, da guarda feita para capturar, torturar e matar os negros; o Rio de Janeiro segue sendo aquele que perdeu o Estado quando perdeu a capital, que abandou os cidadãos a própria sorte – que como já dito, não há – sobrevivendo a investidas criminosas e cotidianas da polícia que, à força de bala, quer apagar as favelas da paisagem, querem acabar com os pobres e negros, cuja pele contrasta demais com a cor da areia e do cabelo das madames, deixando os homens inseguros por causa de suas “picas enormes” e seus “sacos de granadas”... O Rio de Janeiro continua sendo aquele da polícia covarde que atira do alto dos helicópteros em escolas, que extermina crianças pobres com tiros na cabeça como foi com a Ágatha Felix (8 anos), da polícia que mata gente inocente pelas costas, como fez com João Pedro (14 anos), da polícia que mata pelas costas o Dyogo de Brito (16 anos) enquanto ia com sua chuteira para um treino de futebol; da polícia que EXECUTA Jhonata Alves (16 anos) com um tiro na cabeça, porque confundiram um saco de pipoca com drogas; da polícia que assassina covardemente o garçom Rodrigo Alexandre Silva Serrano no ponto de ônibus enquanto esperava sua mulher e sua filha chegarem em um dia chuvoso, por confundirem um guarda chuva com um fuzil; da polícia que assassina porque confunde a furadeira de Helio Ribeiro, com uma arma e o mata enquanto consertava o telhado da própria casa; o Rio de Janeiro continua aquele do policial que, covardemente, matou a professora Geisa Firmo Gonçalves, feita de refém por um jovem transtornado e que, para completar a covardia, matou o jovem já rendido dentro de uma viatura. O Rio de Janeiro continua aquele que depois de 3 anos ainda não descobriu QUEM MANDOU MATAR MARIELLE FRANCO(?); O Rio de Janeiro das mazelas, o Rio de Janeiro da Candelária, das chacinas, das execuções, do escritório do crime (curiosamente formado por policiais e ex-policiais). O Rio de Janeiro que não prendeu ninguém pelo assassinato dos 10 garotos no centro de treinamento do Flamengo, afinal, para que prender se o que o clube fez, foi o que a polícia faz todos os dias. Mataram pretos e pobres. O Rio de janeiro continua sendo aquele da polícia mais covarde e mais imoral do mundo. Continua sendo aquele da polícia aliada de criminosos que podem pagar seus “extras”... O Rio de Janeiro continua sendo o lugar onde o rico tem nojo do pobre, onde o Estado extermina pobres para satisfazer os caprichos da elite rica, velha, mofada e fedorenta do Rio de Janeiro. O Rio de Janeiro continua aquele que oprime, esconde e mata seus negros no Morro, aquele que nega para sua população a dignidade e o respeito, continua sendo aquele da precariedade, da falta de oportunidade, aquele da semiescravidão dos quartinhos de empregadas. Os cariocas que me desculpem, mas só um bairrismo infantil e inconsequente seria capaz de discordar disso. O Rio De Janeiro têm uns quadradinhos lindos, mas continua aquele... Talvez para os brancos não, mas para os “pobres de tão pretos e pretos de tão pobres” ... O Rio de Janeiro continua aquele.

  • O Falcão e o Soldado Invernal (2021)

    O Universo Marvel (MCA) continua em expansão, a dupla Falcão e o Soldado Invernal é entretenimento de qualidade pra quem adora longas cenas de ação. O ano de 2020 foi um desastre, todos já sabemos disso, esse vírus mudou tudo e para nós, amantes da sétima arte, a coisa ficou feia. Os cinemas fecharam, algumas pequenas produtoras faliram e nem mesmo a Disney, a gigante, ficou fora. Claro que a maior produtora do cinema do mundo não iria sair no prejuízo, foi uma longa campanha de divulgação do Disney+, com todo o conteúdo da já consagrada Disney, mais as animações da Pixar, toda a franquia Star Wars e claro, todo o conteúdo da Marvel — que também pertence a Disney —, ou seja, todos os filmes de super heróis. Lógico que isso não seria o suficiente, foi então que a Disney resolveu transformar os filmes de heróis em minisséries e para surpresa de absolutamente ninguém, deu certo. O que você precisa saber antes de qualquer coisa é, essas minisséries da Marvel + Disney+ são continuações diretas dos filmes anteriores. Sabemos que a Marvel encerrou uma jornada com Vingadores: Ultimado e essas séries são derivados de lá, foi assim com Wanda Vision (2021) e foi assim com Falcão e o Soldado Invernal (2021). O primeiro episódio começa exatamente onde o filme Vingadores: Ultimato terminou, com Sam Wilson, o Falcão, entregando o escudo que recebeu do falecido Capitão América para o governo dos Estados Unidos e o mundo se recuperando, cinco anos depois de Thanos estalar os dedos e fazer sumir metade do universo como consequência disso, vemos a ascensão de um novo Capitão América e do grupo chamado Apátridas, que acredita em “um só mundo e um só povo”, já que muitas fronteiras caíram quando o planeta se viu com a população reduzida. Em suma, é um grupo de adolescentes que tomaram um super soro e que agora têm uma super força, algo relativamente parecido com as habilidades de Bucky, o soldado invernal, só que sem o mesmo treinamento, a força não tem muito potencial. O primeiro episódio causa uma impressão positiva, com longas cenas de ação, inclusive algumas delas aéreas – já que é um Falcão que está lutando – e com personagens já conhecidos do grande público, tudo flui como um divertido jogo de corrida, luta e pancadaria. No decorrer dos outros episódios – foram 6 no total – tudo parece um longo filme de ação que dura pouco menos de seis horas. Se o objetivo da Marvel é expandir o seu próprio universo, eles estão no caminho certo. O elenco cumpriu com a tarefa, Anthony Mackie tem todo um carisma, soube continuar compondo seu personagem como manda a cartilha, sabe dar a seriedade que o personagem necessita como também tem seu lado cômico. Sebastian Stan continua com todo seu ar de seriedade, afinal o Sodado Invernal era um soldado feito sob medida para matar, logo o ator quase não sorria, aliás, toda a trama da minissérie gira em torno do mundo do Soldado Invernal, com o soro, enfrentando seu passado em sessões de terapia e o Barão Zemo, que mais uma vez, foi interpretado por Daniel Brühl, com seu sarcasmo estampado na cara, em resumo, é um bom elenco, em um filme de ação, não dá pra exigir muito deles. O mais importante da minissérie é o Capitão América, já que Steve Rogers morreu, os Estados Unidos precisam de um novo capitão para defender a terra da liberdade. Como o país e o mundo reagem a um Capitão América afro-americano, especialmente quando vemos a construção de cenários de guerra sobre pilares do racismo estrutural? O universo MCU (Universo Cinematográfico Marvel) agora continua em expansão, O Falcão e o Soldado Invernal conseguem tranquilamente atingir eu objetivo, um enredo relativamente atraente, com empolgantes cenas de ação, apresentando alguns personagens novos que, sem sombra de dúvidas, irão aparecer em algum momento no futuro em alguma outra minissérie. É um ótimo passatempo, é o exemplo perfeito que não precisamos de tanto para nos divertimos em casa.

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