top of page
whatsapp-logo-icone.png

publicidade

Foto do escritorpor 𝑴𝒂𝒍𝒐𝒖 𝑩𝒓𝒊𝒕𝒐

Todos os alvos estão na Cracolândia

Dossiê divulgado pela Craco Resiste causa alvoroço na nossa sociedade hipócrita.


viaturas da GCM encurralando população em situação de rua
frame do vídeo-dossiê d´A Craco Resiste.
“Pesquisa publicada prova Preferencialmente preto Pobre, prostituta pra polícia prender Pare pense por quê? Prossigo... Pelas periferias praticam perversidades parceiros”

Por que será que as pessoas seguem acreditando que o pessoal que vive na Cracolândia merece os ataques ostensivos que a GCM junto a PM tem feito por lá? Como a crueldade das pessoas chega a ponto de vibrarem com massacres direcionados a populações mais vulneráveis? A problemática que se percebe não só porque imagens foram reveladas, mas que a sociedade se nega a ver de fato. Antes de tudo é preciso entender que as pessoas só reconhecem humanidade em pessoas tidas como “produtivas”, quem está aí sendo também massacrado pelo CIStema capitalista gerando lucro e mais riqueza para quem não precisa, patologizadas por um contexto de trabalho e vida adoecedores que resume a nossa existência em meras peças descartáveis nessa imensa engrenagem de desigualdade social.


Essas pessoas invisíveis aos olhos da sociedade e que não deixam de ser pessoas como nós, que sofrem, riem, sentem fome, tem carências, amam e odeiam, passam pelos mesmos processos orgânicos que nós, que sangra igual a gente. Justamente por conta da falta de amparo do Estado e eu sei que nós também muitas vezes somos desamparados por esse Estado genocida, mas porque quando o Estado falha conosco gera tanta comoção, revolta, indignação e quando isso acontece com nossos irmãos de rua a história é outra? De onde você tirou essa ideia de que você é melhor que qualquer outra pessoa, Inclusive de quem está nessa situação? Não! Não somos e nem nunca seremos melhores que ninguém, mas essa ideia de superioridade também é algo doentio heim?! Fica ligado!


“Veja bem, ninguém é mais que ninguém Veja bem, veja bem eles são nossos irmãos também...”

Essas pessoas também são fruto desse CIStema e já lhe digo uma coisa, a droga, o crack pode ser considerado a melhor coisa que essas pessoas têm e não, não é a principal causa deles estarem lá. Quando você passa de manhã e vê uma pessoa se drogando, você não sabe o que ela passou nos últimos dias, horas, minutos. Essas pessoas enfrentam violências diversas e o momento do uso é o único em que ela pode se permitir não sentir dor, não sentir a tristeza, o medo massacrando seu peito. E quem te disse que você sabe o que é melhor para essa pessoa sem ao menos conhecer a história de vida dela? (mesmo conhecendo, você não tem o direito de dar pitaco na vida dos coleguinhas, combinado?) A dica é cuide da sua vida. Se você puder ajudar de alguma forma, seja ouvindo (sem julgar), seja doando alimento, roupa, agasalho e coisas que possam amenizar questões pontuais, ótimo! Se não, deixe seu moralismo fora disso e lhe garanto que será outra experiência. As vivencias e histórias dessas pessoas tem muito a nos ensinar a nos agregar enquanto humanos, falhos, seres errantes... Estamos nesse mundo para aprender, para evoluir. Ou você é daquelas, que se acha “a evoluída”? Pois volte algumas casas aí porque no jogo da vida não dá para pular de fase. Aceitar que também temos nossas fraquezas, assumir que também somos usuários compulsivos de várias outras drogas muito mais degradantes, ou você acha que ficar pendurado o dia todo no celular é saudável? Você que toma sua cervejinha no fim de semana e as vezes até perde a mão e abusa um pouco mais, você que faz uso de remédio sem prescrição para conseguir dormir, abusa de açúcar, gordura saturada, carne vermelha entre outros venenos presentes e aceitáveis no nosso cotidiano e que matam muito mais que as drogas ilícitas que vocês condenam tanto sem conhecer de fato.


Câmeras escondidas filmam momentos de violência policial sem motivo aparente.

Todo mundo ganha quando somos validados, reconhecidos em nossa existência, acolhidos de forma empática. Sim empatia que tem sido a palavra do momento nesse contexto de pandemia mundial, mas vemos que o discurso não ultrapassa as redes sociais e nunca chega de fato às redes de cuidado. E não pense você que daí de cima de seus privilégios está imune a um destino como esse, porque boa parte das pessoas que se encontram em situação de rua estão lá por questões diversas como desemprego, falta de apoio da família, famílias desestruturadas, falta de oportunidades, falta de políticas públicas, pessoas que sequer tiveram oportunidade de vislumbrar uma vida diferente.

Mas mesmo que tenha alguma questão problemática com droga, com delitos, quem somos nós para julgar? Quem nunca nessa vida cometeu um ato infracional? E por que você acha que tem mais direitos que eles? Você já se perguntou o porquê desses delitos? Por que que uma pessoa rouba? Por que você dá aquela “roubadinha” no trânsito para não ter que fazer o retorno? Por que você rouba o lugar de alguém na fila? Por que você rouba a oportunidade do aluno de periferia entrar numa universidade pública, sendo você plenamente capaz de pagar por uma faculdade particular? Ou você acha que essas infrações podem ser consideradas “leves”, sendo que você tem todo o conhecimento e estrutura para driblar a necessidade disso, você é tão “criminoso” quanto, por que a eles não é dada nenhuma outra possibilidade. E pra você?


Os direitos destas pessoas foram e são roubados diuturnamente, as injustiças que as atravessam negando sua existência, sua humanidade, suas necessidades... são gritantes e é sim problema nosso também pensar juntos estratégias para levar o máximo de dignidade possível pra essas pessoas e exigir que o estado tome providencias. Enfim acho que esse texto tem mais perguntas do que respostas, porque todas as respostas são subjetivas, vai da vivência, experiência e a singularidade de cada um. Não é impondo a abstinência pra essas pessoas que vai resolver “o problema da droga” no Brasil, porque o buraco é muito mais em baixo e o CIStema é bruto. Mas espero que te faça ao menos refletir sobre sua própria hipocrisia, repense seu moralismo e se abra pra conhecer o desconhecido.



Esse texto parte de reflexões sobre os massacres que vem ocorrendo, não é de hoje, na região da Cracolândia, centro de São Paulo. A partir de registros em vídeo denuncias feitas pelo coletivo A Craco Resiste como segue no vídeo da publicação, que tomou uma proporção maior nas mídias esta semana, onde a Guarda Civil Metropolitana (GCM), que é quem detém o monopólio do uso da força e que mostra todo o seu sadismo atirando bombas e spray em pessoas que não tem para onde ir, nem como se defender. Esses registros fazem parte de um dossiê que já foi encaminhado aos órgãos responsáveis para que providências sejam tomadas. Todo o meu respeito e solidariedade ao pessoal do fluxo, aos compas de luta d´A Craco Resiste e a você que conseguiu ler esse texto e se permitiu pensar diferente. É nóis por nóis!


“...Conclusão: o país é culpado Somos sobreviventes do tempo Somos filhos da santa esperança Somos passivos resistentes Mergulhados em toda essa lama..."

Comments


publicidade

bottom of page