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Pedro pedreiro penseiro

De Chico Buarque a Belchior

Capa do disco Chico Buarque de Hollanda, com Pedro Pedreiro na faixa 6 | Foto: Dirceu Corte-Real

Pedro, que é pedreiro e mora na Pavuna, está construindo um prédio na Rua Duvivier em Copacabana.


Pedro Pedreiro mora em um país onde os alimentos estão diariamente mais caros, e, propositalmente, o governo presidido por Jair Bolsonaro retirou o ínfimo auxílio emergencial que, mesmo antes, sequer servira para Pedro Pedreiro tentar a sorte grande no bilhete. Vai esperando o aumento que, desde o ano passado, para o bem dos que tem bens, nada indica que virá.


Enquanto espera o trem, no ponto já aglomerado, ouve um comentário que lhe esfria a espinha: “Você viu que a maioria dos que estão intubados com Covid na UTI têm entre vinte e cinquenta anos? A explicação que os moços dão é que são as pessoas que estão indo trabalhar; que pegam transporte público lotado”. Eita nós, pensa Pedro.


E como fazer? Há outra opção senão enfrentar o medo, o pavor de ser intubado sem sedativo? A única possibilidade é, junto com o trem, esperar a morte.


Já no trem, percebe-se que Pedro está penseiro, sentindo seu peito se apertar.


E o trem vai passando pelo subúrbio...E Pedro terá que entrar em um ônibus para chegar à zona sul, e ele, não muito bem, percebe ao seu lado que sua gente é obrigada a ir em frente, sem nem ter com quem contar.


Mesmo em pé, tenta recuperar força tirando uma rápida pestana e, por alguns curtos minutos, troca a angústia da espera pela esperança do sonho. E vai sonhando... sonhando.... sonhando.


Sonhando com um mundo onde quem não tem um vintém consegue festa, sorte, a volta para o Norte, ou mesmo sequer precise sair de sua terra. Sonha com o carnaval. Mas, acima de tudo, espera alguma coisa que não se sabe exatamente o que é. De repente acorda e percebe que a realidade só lhe obriga a esperar, esperar e esperar. E o que lhe alcança é um desespero de esperar demais e a certeza de que não é possível voltar atrás. Afinal, sua mulher está esperando um filho para esperar também!


Ouvindo o apito do trem Pedro Pedreiro enxerga uma luz ao final do túnel. Essa luz ilumina a frase: Fora Bolsonaro! Encantado, salta do aperto do trem e sente vir vindo no vento o cheiro da nova estação!

Esse texto cita as músicas Pedro Pedreiro de Chico Buarque, Gente Humilde de Chico Buarque, Vinícius de Moraes e Anibal Augusto Sardinha, e a música Como nossos pais de Belchior.

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