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Panair do Brasil: A empresa aérea que conquistou o mundo!

Foto do escritor: por 𝑩𝒆𝒕𝒐 𝑭𝒓𝒆𝒊𝒕𝒂𝒔por 𝑩𝒆𝒕𝒐 𝑭𝒓𝒆𝒊𝒕𝒂𝒔

Como um governo militar agiu para interromper uma excelência em qualidade com rotas que iam desde o Brasil até o Oriente Médio.

Foto de um avião anfíbio da PAN AIR DO BRASIL

A Panair do Brasil foi sem dúvida uma das maiores empresas aéreas do país, chegando a ser a segunda no mundo em operações e rotas. Infelizmente, a excelência em sua qualidade de serviços, com um padrão altamente diferenciado em atendimento e manutenção não a poupou de ter suas asas arrancadas durante um governo militar, tirando do ar aquela que até hoje está presente no imaginário coletivo.


Tudo teve início com hidroaviões que operavam a rota Nova Iorque – Rio – Buenos Aires, em 1920. Com o nome de NYRBA, em alusão ao trajeto, a percursora em voos para a América do sul foi ganhando forças num período em que o Brasil ainda era um país exótico e remoto, com a maior parte da população vivendo em sua faixa litorânea.


Em 1930, após a queda da bolsa de valores de Nova Iorque, a NYRBA foi vendida para a norte americana PAN AM e passou então a chamar-se Panair do Brasil, ainda voando com hidroaviões até 1937, quando recebeu seu primeiro avião para pistas. Três anos depois a Panair já tinha uma das rotas domésticas mais extensas do mundo, cobrindo a parte litorânea, interior e a bacia amazônica.


Com a chegada da segunda guerra o país tinha um ministério da aeronáutica recém-criada e ainda com poucas condições de estabelecer e criar mudanças nos aeroportos que, inclusive, pudessem atender às necessidades dos países aliados. A Panair do Brasil então foi autorizada a criar e manter aeroportos pelo país como Belém, Fortaleza, Salvador, Natal e Recife, entre outros, com uma concessão que durou 20 anos. Aeroportos que tiveram fundamental importância na defesa do atlântico sul e também no transporte e logística entre o país e África ocidental.


A partir de 1946 as ações da empresa começaram a ser vendidas até que em 1961 a PAN AM não tinha mais nenhuma participação, estando, portanto, a Panair totalmente nacionalizada num processo conquistado pelos empresários Celso da Rocha Miranda e Mário Wallace Simonsen.


Quando a empresa incorporou aviões utilizados na guerra, como o Constellation, a Panair voava para todo o país, América do Sul, Europa e oriente médio, além dos Estados Unidos. Uma aeronave que, na época, apresentava o que havia de mais avançado em tecnologia e velocidade, mas que também tinha suas enormes necessidades de esforços para enfrentar determinados percursos, como a travessia do atlântico em direção à Europa, onde passar ao longo do Equador exigia muito controle para enfrentar ventos, chuvas e pedras de gelo que atingiam os para-brisas. Cruzar os Alpes em direção a Roma e Zurique exigia dos pilotos uma vestimenta parecida com a utilizada nos esportes de neve, uma vez que a maior parte do aquecimento era fornecida aos passageiros, deixando a cabine de pilotos com baixas temperaturas que chegavam a formar um pouco de gelo na parte interior e que passava a derreter quando a aeronave começava a baixar em direção aos aeroportos.

Um dos exemplares do Lockheed Constellation da frota da PANAIR DO BRASIL, avião inicialmente utilizado com fins militares, mas que, adaptado se tornou um dos exemplares mais luxuosos da frota aérea da época.

A aviação vivia seu momento áureo, com muito glamour e luxo a bordo. Um voo para a Europa era praticamente um evento social, inclusive com a lista de passageiros sendo divulgada pelos jornais. As aeromoças eram escolhidas a dedo pela competência profissional e, também, pela beleza que muito chamava a atenção pelos aeroportos do mundo. Uma empresa reconhecida internacionalmente, com recursos crescentes e manutenção própria, a Companhia Eletromecânica Celma (GE CELMA Ltda), que era impecável na qualidade e segurança, atendendo inclusive outras empresas aéreas como a revisão de motores da própria FAB.


Políticos como Juscelino e Jânio Quadros, cantores como Elis Regina e Milton Nascimento, além de inúmeras outras pessoas ligadas às mais diversas profissões tinham um carinho especial pela Panair, que tornava as viagens extremamente agradáveis com seus atendimentos impecáveis em terra e a bordo. Um pedaço do Brasil que se fazia presente pelo mundo com reconhecimento internacional pelo famoso padrão Panair, que inclusive inspirava outras empresas, independentemente de serem aéreas ou não, ao buscar em seus atendimentos ao cliente um padrão que se equiparasse ao que era oferecido por aquela que era sinônimo de qualidade e satisfação.


A empresa, suas operações e lucratividade seguiam muito bem até que o Brasil sofreu o golpe de 1964 e, a partir daí, coisas inexplicáveis começaram a cercar a Panair até que, em fevereiro de 1965 foram comunicados, sem prévio aviso, que suas linhas tinham sido suspensas por um ato assinado pelo ministro da aeronáutica, Eduardo Gomes, ao mesmo tempo em que suas operações domésticas foram imediatamente concedidas à, já existente, Cruzeiro do sul e as rotas internacionais passaram a ser operadas pela Viação Aérea Rio Grandense (VARIG).


As alegações das autoridades de governo para a suspensão foram consideradas arbitrárias, principalmente com a justificativa de que a Panair era devedora do governo federal, porém as lutas e manifestações por parte dos funcionários, na época em torno de cinco mil pessoas, não conseguiram trazer de volta o direito de funcionamento daquela que, sem dúvida, foi a mais bem sucedida e administrada empresa aérea até então. A justiça pouco alcançou para a retomada, apesar dos esforços.

Sucata dos aviões da PANAIR DO BRASIL abandonada após o fim das operações da empresa.
Seleção brasileira desembarcando com a taça Jules Rimet após voltar da copa do mundo da Suécia a bordo de um luxuoso Lockheed Constellation

Um corte brutal que continuou em curso até apagar e enterrar um nome, uma história, uma excelência em serviços e que resultou, finalmente, num leilão em que foram vendidas desde poltronas até talheres e louças utilizadas a bordo, arrematadas por aqueles que gostariam de guardar em seus acervos um pouco da exemplar história interrompida, açoitada, injustiçada e destruída graças a interesses obscuros, desleais e chocantes. Tudo isso feito por aqueles que, por prazer ou dinheiro, destruíram o que havia de melhor e que voava só nas asas da Panair.


Como curiosidade, o ponto mais alto do país, o Pico da Neblina, foi descoberto pelo comandante Mário Jucá, da Panair, em 1950. A delegação Brasileira chegou vitoriosa da Copa da Suécia em 1958, a bordo de um de seus aviões.


Por fim, com famílias sem emprego e sonhos interrompidos diante do arbitrário e da barbárie, a empresa foi título da música “Saudade dos aviões da Panair”, de Fernando Brant e Milton Nascimento, e que ficou imortalizada na voz de Elis Regina


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