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222 itens encontrados para ""

  • Viagem, luxo e homofobia, nas asas do Brasil

    Governo, agressões e obscurantismo, em berço de primeira classe Enquanto líderes de importantes países se reúnem para promover maior entendimento e avanço entre as nações, sobre o combate à desigualdade e respeito ao planeta, nós, por aqui, seguimos assistindo ao oposto do que se espera de uma esfera governamental organizada, responsável e atuante. Já não são mais apenas preocupações e espantos com eventuais transportes de cocaína nos aviões brasileiros das comitivas presidenciais. Igualmente corrosiva e perigosa, a presença do próprio presidente nessas aeronaves tem levado a vários países não só um assombro pela falta de postura e diplomacia, mas também uma mente embalada com mentiras e escárnio que fariam qualquer cão farejador apontar aos agentes alfandegários que o perigo acaba de aportar vestido de luxo, má fama e repulsa. Gera não só desconforto, mas também inconformismo, saber que o representante de um país outrora aclamado pela esfera séria do planeta é, no mínimo, um poço de indecência e farra bruta a desfilar pelos desertos onde brotam opressores que o acolhem em lugares suntuosos, mas igualmente espantados com o nível primário de sua atuação. Um governo que torra o dinheiro público em gastos mais que esbanjadores, ao melhor estilo Imelda Marcos, não conseguindo dirigir um décimo desse montante em aprimoramento pessoal que possa, no mínimo, reduzir um pouco do impacto da arlequinada que derrama por onde passa. Recentemente no Bahrein, O Jair da Michele, com parte de seus anões dos jardins imperiais, conseguia, mais uma vez, rir com sua autoajuda de outro membro de sua comitiva, Mario Frias, usando-o como trampolim para mergulhar naquilo que ama de paixão: Sua piscina homofóbica. Com seu porte atlético que não faz inveja nem mesmo para seus fantasmas maricosos, criados a partir de sua vasta gama de falso conhecimento moral e ético, nada a curtas braçadas para em seguida se enxugar numa toalha de algodão egípcio que lhe cobre de macheza bruta à custa da pobreza que criou em larga escala, desde que lhe abriram as portas da cela da ignorância, permitindo-o por aí sair numa caça desenfreada a qualquer ser que possa aguçar sua fantasia reprimida de querer experimentar um papel diferente no jogo de xadrez e que, sem dúvida nenhuma, não seria o de peão. Um disseminador de ódio e desdém ao que lhe incomoda, por gosto ou medo, que faz turismo travestido de viagem presidencial, propagando pelo mundo um discurso mentiroso e com alcance milimétrico, mas que ele acredita, piamente, ter elevado grau de convencimento e sombra ao que o mundo inteiro já viu, o que de melhor ele tem para dar: nada. As viagens a Dubai feitas por ele, filhos e esposa, são uma estampa emoldurada de descaso, pendurada nas paredes de um cárcere coletivo e miserável que abrange larga parte do Brasil. Risos irônicos que ecoam em construções riquíssimas, pisando em tapetes das mil e uma luzes e pagos com o dinheiro do pão, suor e sofrimento de muita gente que vive aqui, em situações que nos deixam distantes de ser uma Venezuela (a velha retórica reles e desprezível), mas bastante próximo ao que acontece em Sonapur. Sim, a periferia de Dubai existe e tem nome, lá residem trabalhadores em condições análogas à escravidão para erguer o luxo mostrado ao mundo, enquanto escondem a verdade da violenta exploração de quem vive e sente na pele o calor do deserto, as péssimas condições de moradia e a exaustão que muitas vezes leva à morte. Uma desigualdade bastante parecida ao que faz o representante de nosso país, quando arranca do povo para depois esbanjar na parte milionária de Dubai, muito à vontade e embasado naquilo que ele deve considerar heterocracia, termo ausente do dicionário, mas que muito bem se casa com a ausência de valor e nobreza do próprio Jair. Fatores que explicam muito bem ele considerar a França menos atraente que o Oriente Médio. Assim, não passa vergonha diante dessa forte democracia, nem raiva por saber quem de fato faz sucesso por lá e nos países vizinhos, aplaudido de pé. Um presidente tão homofóbico quanto raivoso, que incita ódio e discórdia para tentar trazer à tona uma justificativa ao uso de armas, quem sabe investindo num projeto onde balas e cloroquina se misturem, levando-o ao prêmio ignóbil do século.

  • Crítica: Pico da Neblina (1ª temp. 2019)

    Os maconheiros estão em todos os cantos, desde a garotada na periferia, até os maiores playboys da zona sul, mas o que aconteceria se a maconha fosse legalizada? O Brasil é um país de diversas camadas, falo isso em vários sentidos, somos ricos culturalmente, ricos em paisagens naturais, nosso povo não cansa de espalhar nosso vasto acervo de palavras por onde passam, somos também um dos países que mais consome maconha no mundo, ou seja, de alguma forma, contribuímos com o tráfico – assunto para outra hora – tem quem diga que maconha nem é uma droga, mas sim uma erva medicinal e de acordo com estudos científicos cada vez mais avançados a cannabis realmente ajuda muito no tratamento de algumas doenças, mas porque estou falando de maconha? Estou chapado? Não! É porque esse é o foco de Pico da Neblina (HBOMax). Imagina só se, de repente, a maconha fosse legalizada, isso seria bom ou ruim? Bom para quem e ruim para quem? A qualidade da maconha iria cair, provavelmente o acesso ficaria mais fácil, mas e todo o resto, essa é a discussão que a série quer e consegue, magistralmente, levantar. O país passa por um momento estranho, a maconha está liberada no país – uma realidade alternativa e extremamente distante. Entra em cena Biriba (interpretado maravilhosamente por Luís Navarro), um traficante, ou como eu costumo falar, um distribuidor descolado e que está no negócio apenas para sustentar sua família. Com a legalização da substância ele encontra no seu fiel cliente e agora amigo Vini (Daniel Furlan) a chance de mudar sua vida com uma boutique da droga, enquanto seu amigo e chefe do tráfico Salim (Henrique Santana) tenta convencê-lo de que está na hora de assumir novos desafios na periferia, assumir a gerência de uma biqueira (ponto de venda de drogas). O enredo por si só já é interessante, mas tudo fica potencializado por uma produção cheia de estilo, com diálogos naturais e atuações impecáveis, sem nunca parecer artificial, algo corriqueiro em nossas produções, aliás, poderíamos tranquilamente fazer um paralelo da série com outras americanas de sucesso, como Breaking Bad ou Weeds, por exemplo, uma mistura que não apenas funciona, como entrega com fluidez e nos faz comprar essa história já em seus primeiros minutos, mas a série de Quico Meirelles tem seu estilo próprio, ela é frenética no que se propõe e ainda faz com que nos enxerguemos nos dilemas dos personagens, que dividem conosco a dura realidade brasileira, especialmente do protagonista, preto, pobre e da periferia. O roteiro aqui sabe que estava diante de uma realidade paralela, logo teria que lidar com alguns dilemas, colocando na tela críticas políticas e sociais sem parecer panfletária, levantando outras inúmeras discussões, como os dias em família, amizade, fantasmas do passado, sexo, tráfico, criminalidade e, claro, drogas. Os episódios, a maioria dirigida por Quico Meirelles e alguns assinados por seu pai, Fernando Meirelles, são muito cuidadosos, sempre fugindo das caricaturas das produções de favela ou dos diálogos carregados de palavrões, ao mesmo tempo que empregam o linguajar único de São Paulo criando uma identidade com o público e levando nossa cultura para o mundo. É tranquilamente uma das melhores produções nacionais dos últimos anos, naturalmente, afinal de contas estamos se trata de uma obra com a marca do monstro que é a HBO.

  • ESPECIAL: CineBR – Diretores do século XXI – Parte 04

    Os novos talentos que fizeram nosso cinema conquistar o mundo CineBR - Diretores Brasileiros é uma série especial de publicações do Portal Dossiê etc, escrita por Cleber Eldridge, com edição de Antônio Pedro, sobre os diretores e diretoras que pavimentaram a estrada do cinema nacional. Mais do que um conteúdo especial, essa série é mais um resultado do compromisso que a Revista Dossiê etc tem de promover a cultura nacional. Esperamos que goste de mais esse resultado. Boa leitura. O século XXI (vinte e um) revelou inúmeros talentos para nosso cinema, alguns trabalhos foram sucessos de crítica e público, outros passam por festivais e premiações, o maior e melhor exemplo disso é a obra-prima Cidade de Deus (2002) que conquistou tudo o que um filme consegue — inclusive o primeiro lugar da lista Dossiê que elencou os 50 melhores filmes brasileiros de todos os tempos —, mas antes de chegar no auge, Fernando Meirelles já tinha feito o pouco conhecido Domésticas (2001), o sucesso de Cidade de Deus fez com que Meirelles conquistasse confiança dos produtores e logo ele se jogou no cinema americano, caminho sem volta. Meirelles continua firme e forte lá fora, dentre suas obras estão o excelente O Jardineiro Fiel (2005), Ensaio Sobre a Cegueira (2008) e o mais recente Dois Papas (2019). Se tem um nome que todos prestamos atenção é Kleber Mendonça Filho, o anúncio de um novo trabalho já é motivo para balbúrdia, não é para menos, sua carreira é, até o presente momento, impecável, desde seus curtas-metragens que já mostrava a personalidade do diretor, passando por seu documentário Crítico (2008) que foca no trabalho do crítico, até sua trinca de filmes. O primeiro trabalho O Som ao Redor (2012) não foi um sucesso de público, mas a critica o abraçou e enxergou o talento do diretor, foi o único dos seus filmes a representar o Brasil na corrida do Oscar, aliás, um assunto que sempre deu o que falar. Aquarius (2016) foi um sucesso no Festival de Cannes e, apesar de não ganhar nenhum prêmio no festival, conquistou o mundo inteiro, na ocasião da escolha para nosso representante no Oscar daquele ano, a comissão que escolhe o filme optou por Pequeno Sonho (David Schürmann, 2016), um outro trabalho que não chegava aos pés da obra-prima de Kleber; por fim, Bacurau (2019) chegou próximo ao feito de Fernando Meirelles. Se não me falha a memória, em outro especial, eu mencionei em como os curadores do Festival de Berlim adoram e estão sempre de olho em nossas obras e diretores, o segundo Urso de Ouro foi parar nas mãos de José Padilha e seu Tropa de Elite (2007), um relato cruel das ruas do Rio de Janeiro, aliás, esse é um tema que Padilha já tinha abordado melhor em Ônibus 174 (2002) sobre o sequestro de um ônibus em uma das avenidas mais movimentadas do Rio de Janeiro, o Urso de Ouro abriu caminho para Padilha nos Estados Unidos e em 2014 ele refilmou RoboCop, foi quando sentiu o gostinho do fracasso, mas em 2018 repetiu a dose amarga, seu 7 Dias em Entebbe (2018) não emplacou. O Invasor (2001) foi um dos grandes filmes do início do século, Beto Brant filmaria Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lábios (2011) com Camila Pitanga, alguns anos depois, a atriz chamaria o diretor para dirigir o documentário Pitanga (2016), sobre Antônio Pitanga e toda sua trajetória política e existencial. Já falamos nessa série sobre os feitos de Walter Salles nos anos 90 e apesar de ter diminuído o ritmo desde 2012,quando entregou o Na Estrada (2011) foi um diretor que durante todos os anos 2000 entregou belas obras. No início do século chegou aos cinemas Abril Despedaçado (2001) e conseguiu uma indicação ao Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro; Linha de Passe (2008) foi outro belo filme, aclamado pela crítica rendeu o prêmio de melhor atriz para Sandra Coverloni. Salles foi outro caso que conseguiu sucesso no Brasil, mas que logo se debandou para os Estados Unidos, Água Negra (2005) prometeu e não cumpriu, mas Salles também buscou fazer um trabalho mais pessoal e assim deu mais certo, Diários de Motocicleta (2004), filmado no Chile e na Argentina, atraiu o olhar de Francis Ford Coppola que tinha os direitos do livro Na Estrada, de Jack Kerouac, que Salles levou aos cinemas em 2012. O querido Karim Aïnouz atingiu o ápice de sua carreira com A Vida Invisível (2019) que conquistou o prêmio de melhor filme na mostra Un Certain Regard em Cannes, foi indicado ao Spirit de melhor filme internacional e também foi nosso representante ao Oscar naquele ano. Não aconteceu, mas muito antes, Aïnouz já começara a construir sua carreira, desde Madame Satã (2002), um de seus primeiros trabalhos, o diretor já prendia o público e arrancava aplausos, a grande maioria de seus filmes são trabalhos ligados a histórias pessoais, personagens mais complexos e isso fica mais evidente em O Céu de Suely (2006) e especialmente em O Abismo Prateado (2011). Os anos 2010 foram a festa dos cineastas independentes, uma linha de nomes que explodiram, conquistaram o mundo e cá está mais uma vez, Hilton Lacerda e seu maravilhoso Tatuagem (2013). Lacerda parece ser um festeiro nato, seu filme seguinte Fim de Festa (2019) mostrou um assassinato no meio da maior festa do mundo, o carnaval. Marcos Jorge também nos entregou uma deliciosa obra, Estômago (2007), mas o diretor não teria o mesmo retorno em seus filmes seguintes O Duelo (2014) mal repercutiu e Mundo Cão (2016) também passou batido. Mas se queremos falar de cinema independente, temos que falar de Marcelo Gomes, em seu melhor trabalho Cinema, Aspirinas e Urubus (2005) foi nosso representante no Oscar e passou em Cannes, sucesso de crítica, mas que, para variar, não atraiu grande público, algo relativamente comum no cinema independente brasileiro, mas que não desmerecem nem tiram o brilho dessas lindas e necessárias obras. Seus filmes seguintes seguiram o mesmo caminho, Era Uma Vez Eu, Verônica (2012) e Joaquim (2017) também foram abraçados pela crítica, mas ainda não chegou ao conhecimento do grande público. Multifacetado, seu documentário Estou me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar (2019) foi um sucesso completo. Abraçado pela crítica, o documentário que mostra o dia-a-dia de pessoas que trabalham com produção independente de roupas em jeans, também ganhou atenção do grande público quando foi lançado na Netflix. Com certeza você já ouviu falar de Castelo Ra-tim-bum, não é? Pois bem, Cao Hamburger dirigiu o filme sobre a origem no bruxo Nino e sua família em 1999 e O Ano em que Meus País Saíram de Férias (2006), dirigido por Cao, foi a nossa última grande chance de sermos indicados ao Oscar, o filme ficou na pré-lista de finalistas e seu último filme — antes de integrar o time de roteiristas e diretores da globo — Xingu (2011) narra a história dos irmãos Villas-Bôas, responsáveis pela criação do Parque Indígena do Xingu, em uma das expedições mais famosas, a Roncador-Xingu, durante os esforços de “interiorização” do Brasil no período Getúlio Vargas. Essa obra cravou o nome de Cao, definitivamente na história do Brasil. Alfonso Poyart foi outro nome que encontrou sua identidade no Brasil, logo no seu filme de estreia 2 Coelhos (2012) e logo que pôde, se mandou para o Estados Unidos. Seu filme Solace (2016) foi um fracasso de bilheterias, chegando a, possivelmente, ter causado prejuízo, o que acabou trazendo o diretor de volta ao Brasil. De volta em casa ele decidiu dirigir a biografia de José Aldo intitulado Mais Forte que o Mundo (2016). O prolifero diretor de televisão Jorge Furtado fez alguns dos mais populares trabalhos no cinema, O Homem Que Copiava (2003) e Meu Tio Matou um Cara (2004) ambos com Lazaro Ramos foram um sucesso de público, não eram grandes filmes, mas tinham o apelo para quebrar um tabu e fazer o público ir ao cinema prestigiar o cinema nacional. Já Saneamento Básico (2007) mostrou como é o processo de fazer um filme, ainda que as condições fossem precárias, mas seu melhor filme continua sendo Rasga Coração (2018). O cinema brasileiro também tem o nosso “menino de ouro”, mais conhecido como Caio Sóh diretor de filmes que chocam. Em sua ainda jovem carreira, seus dois filmes mais conhecidos foram por esse caminho, é aquele tipo de cinema que quando chega no final da projeção, você fica olhando para tela e pensando: “não acredito” – é assim Teus Olhos Meus (2011) e o maravilhoso Canastra Suja (2016). Os nomes são tantos que poderíamos ficar horas a fio falando sobre os talentos que pipocaram na última década, isso sem mencionar atores que atacaram de diretores, caso de Selton Mello que dirigiu três filmes nas duas últimas décadas: Feliz Natal (2008), o belíssimo O Filme da Minha Vida (2017) e seu melhor trabalho, O Palhaço (2011), que foi nosso representante ao Oscar – aliás, só por curiosidade, esse foi o primeiro de três filmes que envolviam circo ou palhaços que foram submetidos ao Oscar, os outros foram Bingo – O Rei das Manhãs (2017), de Daniel Rezende e O Grande Circo Místico, de Caca Diegues (2018). O último, Cacá, estava meio fora de forma, há anos não entregava algo surpreendente, já Daniel Rezende ainda é um nome para ficarmos de olho, ele dirigiu os dois filmes da querida Turma da Mônica, querendo ou não, foi uma pequena surpresa, outro Daniel que agradou os críticos e foi nosso representante ao Oscar, Daniel Ribeiro e seu Hoje eu Quero Voltar Sozinho (2014) – mas como já sabemos, infelizmente, nenhum deles conseguiu a desejada indicação. O Brasil é cheio de diretores e isso é muito bom, porque embora seja impossível conhecer todos e seja humanamente impossível dirigir apenas filmes de sucesso e grande repercussão, rotineiramente somos surpreendidos por obras de diretores que estavam fora do radar. É o caso de Marco Dutra, com carreira discreta desde 2004, presenteou nosso cinema com Trabalhar Cansa (2011) e Quando Eu Era Vivo (2014) e seu cinema de horror, Fernando Coimbra com seu ousado, primeiro longa, O Lobo Atrás da Porta (2013) ou Gabriel Mascaro que veio se construindo desde 2008, até alcançar Boi Neon (2015) e apresentar seu trabalho ao grande público, um filme que tem estilo e surgiu de surpresa em nossas telas. Os nomes continuam, ainda temos o maravilhoso Heitor Dhalia de O cheiro do Ralo (2008) e Serra Pelada (2013) e o saudoso Hector Babenco e seu cinema denúncia. E assim chegamos ao fim de mais uma série de conteúdos sobre o cinema nacional. Com essa abordagem, a Dossiê etc consegue, mais uma vez, mostrar que o cinema brasileiro vai muito além dos rótulos que recebe e do descaso do poder público e até do público que torce o nariz para essas obras que pelo simples fato de serem feitas aqui, recebem a alcunha de inferiores.. Mostramos em CineBR – Diretores Brasileiros, que o Brasil é plural, tão plural que abraça brasileiros e não brasileiros de nascença, pessoas que decidiram fazer do país a morada de sua arte e outros brasileiros que foram espalhar o cinema nacional em produções mundo afora. Nosso cinema é plural demais para caber em uma caixinha e essa pluralidade acaba por se refletir nos enredos, nas interpretações e, porque não, nos diretores, cada qual com seu estilo e suas nuances, contribuem para o engrandecimento e reconhecimento de toda a indústria cinematográfica nacional, que sempre será maior do que os desarranjos políticos que a cercam e tentam destruí-la. O cinema resiste. A Dossê etc aplaude de pé e apoia.

  • Lista: 5 séries dos anos 2010

    O que há de melhor na década de ouro da televisão americana. O mundo parava para assistir semanalmente algumas das séries da lista a seguir. Foram verdadeiros fenômenos da audiência, sucessos de crítica e algumas delas marcaram como verdadeiros fenômenos culturais. Fazer uma lista como esse é uma tarefa muito difícil, porque precisamos, de alguma forma, deixar nosso gosto pessoal de lado e focar no que “realmente é bom” — por isso, Looking (HBOMax), Girls (HBOMax) e True Blood(HBOMax) não estão inclusas na lista, a primeira série original Netflix, House of Cards é outra que ficou de fora, infelizmente a série terminou da pior forma possível, por conta do escândalo envolvendo Kevin Spacey e The Handmaid’s Tale (Globoplay) não entrou por falta de espaço, como eu disse, é uma tarefa árdua, já que temos muita série boa e pouco espaço, se nos anos 90 era razoável falar em TOP 5, em 2010 precisaríamos de um TOP 25 para sermos justos. Agora sem mais enrolação, veja a lista e prepara o feriadão de frio para maratonar essas delícias. 5. Game of Thrones (2011-2019) Criada por D.B Weiss e David Benioff O maior fenômeno da lista, com muita tranquilidade, semana após semana, centenas de milhões de pessoas ligaram a televisão no domingo as 22hrs para se envolver, se deliciar, se deleitar, ficar chocado com as incontáveis surpresas, ou, para passar raiva com o final – pois é, muita gente acha que série terminou da pior forma, eu não. A série se apoiava na criação de George R.R. Martin e sua obra “As Crônicas de Gelo e de Fogo” e mesclava fantasia com romance, aventura, guerra e mais um pouco de tudo, uma combinação perfeita e, não por menos, é a série mais premiada da história da televisão americana. A Guerra dos Tronos se passa em Westeros, um mundo fictício dividido em sete reinos e mostra uma porção de casas, alianças e guerras, conflito entre famílias nobres e dinastias, seja competindo pelo maior posto do reino, o trono, ou por sua independência. Onde assistir: HBO Max 4. The Good Wife (2009-2016) Criado por Roberto e Michelle King O último sucesso de um gênero que, infelizmente, está cada vez mais escasso, as séries sobre o sistema jurídico americano, também uma das últimas séries da televisão aberta (CBS) que teve algum êxito entre crítica e público, sem mencionar as indicações e vitórias no prêmio da Academia de Televisão. O escândalo de corrupção afeta por demais os dias de Alicia Florrick (Juliana Margulies), que acaba por colocar seu marido na cadeia, agora Alicia precisa voltar trabalhar, ela que em outros tempos era uma advogada brilhante, agora precisa começar do zero, para isso ela é contratada por Will Gardner (Josh Charles) um dos sócios majoritários de um escritório de advocacia. Onde assistir: Paramount Plus 3. The Killing US (2011-2014) Criada por Veena Sud “Quem matou Rosie Larsen?” O assassinato da pequena Rosie Larsen é o foco da série, mas não se engane achando que essa é só mais uma série de investigação policial, situada em Seattle – uma das cidades mais chuvosas do planeta, esse detalhe é muito importante. A família Larsen está aos prantos por conta do misterioso assassinato de sua filha adolescente, para investigar o caso, Sarah Linden (Meirelle Enos) é designada, mas ela está de mudança para outra cidade afim de passar mais tempo com seu filho. Por conta de fantasmas do passado, ela não consegue se mudar e fica para investigar o assassinato, junto dela Stephen Holder (Joel Kinnaman), seu parceiro com jeito de malandro. A série é inspirada na premiada produção dinamarquesa “Forbrydelsen”, a versão americana ficou conhecida como a “série de sete vidas” porque ela foi cancelada depois da segunda temporada, mas, mesmo com a baixa audiência, a crítica conseguiu uma terceira e última temporada, só que não, já que a Netflix reviveu a série para uma então, quarta temporada. Onde assistir: Star Plus 2. The Leftovers (2014-2017) Criada por Damon Lindelof O mundo mudou, assim, de um minuto para o outro, 2% da população simplesmente sumiu, desapareceu, sem deixar rastro, já era – para onde elas foram? elas morrem? elas voltaram? – ninguém sabe e nem nunca vai saber – essa é a ideia principal da série, mostrar como vive a população que ficou na terra, os 98% “deixados para trás” continuaram com suas vidas. Kevin Garvey (Justin Theroux) é o xerife da cidade, sua esposa foi uma das pessoas que desapareceram. Nora Dusnt (Carrie Coon) perdeu toda sua família; Matt Jamison (Chris Eccleston) é um religioso que prega que aquilo foi obra de Deus e que a Terra se transformou em um purgatório. O cenário está pronto. O que você precisa saber, caso vá assistir essa obra-prima da televisão, é que ela não responde nenhuma das muitas perguntas que levanta, ela não tem essa intenção e é justamente isso que faz ela ser maravilhosa, os dramas dos personagens são tão poderosos que, em algum momento, você vai esquecer dessas questões. Onde assistir: HBO Max 1. Breaking Bad (2008-2013) Criado por Vince Gilliam O professor de química do ensino médio, Walter White (Bryan Cranston), acha que sua vida não pode piorar, ele acaba de descobrir que está com câncer em estado terminal. Diante disso, o professor acha que pode ligar aquele botão que todo mundo que ligar. Para não deixar sua família desamparada, ele decide arriscar tudo para ganhar dinheiro e para isso ele se junta ao seu ex-aluno problemático, Jesse Pinkman (Aaron Paul), para fabricar metanfetamina da boa. O sucesso da série tem justificativa, é uma daquelas séries que cresce cada episódio e ao final da série, estávamos diante de uma obra que, poderia ser classificada com uma das maiores obras do audiovisual já feitas em qualquer parte do mundo. E eu não estou exagerando, sucesso de audiência, sucesso de público e imensamente premiada, essa talvez seja a série que melhor define a televisão como “arte” – se não assistiu, só lamento, mas ainda está em tempo. Onde assistir: Netflix

  • A desculpa que faltava para gostar de Tiago Iorc...

    Muito além do óbvio, Tiago Iorc surpreende com letra sobre masculinidade frágil. Muito louco, ainda não acredito que esse será o assunto da minha semana, mas será. Apesar de eu ser um colunista que fala economia, eu sou um apaixonado por artes, não artes clássicas, artes acessíveis, música, teatro, cinema, dança e tudo que envolva as pessoas em uma vibração de conscientização, confraternização e outras coisas boas. É pela arte que eu fujo do amargor de conhecer e entender a pornografia econômica que manda e desmanda nos rumos do país. Apesar de um apreciador, eu não tenho, ou ainda não descobri meu dom artístico, mas dizem que Deus dá o frio conforme o cobertor e nesse sentido meu cobertor é parrudo. Tendo dezenas de amigos com aspirações artísticas, alguns muito talentosos mas perdidos em outras funções sociais para poderem sobreviverem com dignidade, enquanto outros com melhor sorte conseguem seguir produzindo e reproduzindo sua arte por aí. Foi então que um desses amigos, o ator Dionísio Neto, compartilhou um vídeo do Tiago Iorc. Bom, achei que fosse algo para rir, nós temos uma confluência humorística pautada nas amenidades da vida, mas para minha surpresa... Tiago Iorc estava careca — em nosso mais recente encontro brincamos sobre o fato de eu parecer o Tiago Iorc e óbvio que era brincadeira, Tiago Iorc é um cara lindo e eu sou um cara, digamos, mais rústico, mas o elástico de cabelo era meio parecido mesmo. O que um leigo como eu sabia até então sobre Tiago Iorc? O típico galã de malhação, multitalentoso, afinado, parece que toca bem um violão e deve ser o rei do luau. As músicas são meio românticas, mas romance sem tantã não faz bater meu coração, enfim, não ouvia. Mas esqueçamos o óbvio, Tiago Iorc não tem mais cabelão, resolveu copiar o penteado que eu usava antes da pandemia, está careca. Sem cabelo, sem violão, nem banquinho. No clipe nenhum sinal de mulher e o estilo de galã de malhação? Bom, galã sim, da malhação eu discordo. O cara está derramando talento, sem menosprezar a novelinha que entreteve minha vida jovem, parece que o talento dele não caberia mais no folhetim “das cinco”... Tiago transbordou. O clipe é minimalista, um estúdio branco, Tiago Iorc e uma câmera muito envolvida no que estava filmando. Como adiantei, o cantor aparece sem o famoso cabelão, ou coque samurai. Seu figurino também é curioso, expõe todo seu tronco sem camisa e compõe a fotografia sua calça boca de sino vermelha. É um clipe extremamente conceitual, encantador! A música ainda segue seu estilo, mas não os temas comuns, não é uma baladinha de Amor, o tema é autoconhecimento, soa como um desabafo, um soco no estômago que começa com uma reflexão que parece jogar luz sobre seu recente sumiço da mídia após a explosão de fama que o envolveu: “Eu tava numa de ficar sumido Dinheiro, fama, tudo resolvido Fingi que não , mas na verdade eu ligo”... Eu é que estou escrevendo e tem dinheiro no trecho acima, mas como eu disse no começo da coluna, esqueça o óbvio, não é sobre isso... Quando a música começa, o clipe começa a revelar Tiago ajoelhado, encolhido, indefeso, com os braços protegendo seu rosto. Depois a música começa a colocar umas batidas sobre aquele vocal mixado, o ritmo não me é estranho, acho que tem uma coisa do TRAP que tanto se ouve hoje — mas que ainda não conheço muito bem então é mais uma impressão. Durante a música, o ritmo e a melodia trocam de formas, misturam Tiago cantando com uma voz sintetizada de forma mais melódica, alternando com alguns trechos em que Tiago declama uma verdadeira poesia que é a letra da música, enquanto interage com toda a narração em seus movimentos e gestos. A performance do cantor no clipe é uma obra à parte. Longe do clichê de closes no rosto de olhos fechados desejando amor, nesse novo trabalho Tiago Iorc se exibe por completo em uma ótima coreografia, assinada por Ariany Dâmaso e muito bem executada pelo próprio cantor. Apreciadores de dança, gostarão de ver um ícone jovem mostrando que podemos soltar nossos corpos e nos expressar de maneiras não tão óbvias. Meu hábito de observação mercadológica das coisas, me fez até pensar que poderia ser uma jogada de marketing para o mundo Tik Toker que vivemos e o quadro estreito do clipe também sugere isso, mas a letra da música é muito boa, parece que ali tem “conteúdo demais” para caber no show de vazios que acontece no Tik Tok. Esse trabalho de Iorc é para ver em tela grande, quanto maior melhor, é clipe para reproduzir em fachadas de prédios, não em minitelas de “miniversos”. Apesar de simples, o clipe é grande e elaborado, o cantor dança com a câmera em uma harmonia muito sincronizada, fazendo poses, movimentos, gestos e expressões faciais em um estrondoso plano sequência (sem cortes) de 6 minutos. Algo que deve ter dado um super trabalho de coreografia, direção e muito ensaio, mas que resultou em uma tela preenchida pelo elemento de cena, o próprio Tiago. Talvez seja esse o motivo do quadro mais estreito, uma forma de evidenciar e preencher a tela com o cantor. Apesar de tudo isso, o ponto alto desse novo trabalho e motivo que me trouxe a escrever sobre isso e não sobre o maravilhoso momento econômico que vivemos (contém ironia), foi exatamente a letra, o ponto alto da letra que como sugere o título “masculinidade” é a desconstrução do homem macho, e a reflexão sobre a masculinidade tóxica. “Eu cuido pra não ser muito sensível Homem não chora, homem isso e aquilo Aprendi a ser indestrutível Eu não sou real” Acho que a letra tem profundidade, tem verdade e desabafo. Tiago Iorc deve sofrer com o machismo, infelizmente, na nossa cultura homofóbica, o ser homossexual é considerado um xingamento e usado para reprimir pessoas que independente de sua sexualidade predominante, deseje ter comportamentos, erroneamente associados a um gênero específico, como a vaidade ou a sensibilidade, geralmente associadas às mulheres. A letra continua: “Quando criança, era chamado de bicha Como se fosse um xingamento Que coisa mais esquisita Aprendi que era errado ser sensível Quanta inocência Eu tive medo do meu feminino Eu me tornei um homem reprimido Meio sem alma, meio adormecido Um ato fálico, autodestrutivo No auge e me sentindo deprimido Me vi traindo por ter me traído Eu fui covarde, eu fui abusivo Pensei ser forte, mas eu só fugi...” Uma das coisas que aprendi ao apreciar a arte, é a não cair na cilada de considerar que a obra de um artista carrega em si uma espécie de autobiografia. Logo, não há como definir exatamente o que o cantor quis dizer, sem conhece-lo intimamente e seria uma tolice fazer questão de saber o quão autobiográfico isso é, porque, ao contrário da economia, a arte cresce com a especulação, na arte o pensamento não é tão fechado e dá margens para aplicarmos, replicarmos e refletirmos sobre as diversas possibilidades que se encaixariam nessa letra. Mas, desde a ausência daquele cabelão que ele tinha, passando pelo minimalismo do clipe e a abstração da coreografia, a mensagem é clara, a obra “masculinidade” fala sobre aprendizado, descobertas, desconstrução e, porque não, reconstrução. Corajoso e feliz em sua mensagem, Tiago Iorc entrou em temas espinhosos e cercados de tabus, como sexualidade, violência, masculinidade frágil e vício em pornografia. ...E caí na pornografia Essa porra só vicia Te suga a alma, te esvazia E quando vê passou o dia E você pensa que devia Ter outro corpo, outra pica A ansiedade vem e fica Caralho! Isso não é vida! De tempos em tempos entra o refrão, que vale por uma música toda: Cuida, meu irmão Do teu emocional Cuida do que é real Cuida, meu irmão Do teu emocional Cuida do que é real Um cara talentoso que fugiu do óbvio, se tornou surpreendente, pode ser bom observar o que vem pela frente. Essa letra profunda e cheia de desconstruções e reconstruções faz lembrar Lulu Santos que compõe suas músicas tão profundas quanto diversas sessões de terapia. Vou parar por aqui, porque melhor do que eu explicar, é você ouvir, ou ler. Segue abaixo o clipe e a letra: Masculinidade (Tiago Iorc, Mateus Asato, Lux Ferreira e Tomás Tróia) “Eu tava numa de ficar sumido Dinheiro, fama, tudo resolvido Fingi que não , mas na verdade eu ligo Eu me achava mó legal Queria ser uma unanimidade Eu quis provar minha virilidade Eu duvidei da minha validade Na insanidade virtual Eu cuido pra não ser muito sensível Homem não chora, homem isso e aquilo Aprendi a ser indestrutível Eu não sou real Conversando com os meus amigos Eu entendi que não é só comigo Calar fragilidade é castigo Eu sou real Cuida, meu irmão Do teu emocional Cuida do que é real Cuida, meu irmão Do teu emocional Cuida do que é real Masculinidade frágil, coisa de menino Eu fui profano e sexo é divino Da minha intimidade, fui um assassino Que merda... Quando criança, era chamado de bicha Como se fosse um xingamento Que coisa mais esquisita Aprendi que era errado ser sensível Quanta inocência Eu tive medo do meu feminino Eu me tornei um homem reprimido Meio sem alma, meio adormecido Um ato fálico, autodestrutivo No auge e me sentindo deprimido Me vi traindo por ter me traído Eu fui covarde, eu fui abusivo Pensei ser forte, mas eu só fugi... E caí na pornografia Essa porra só vicia Te suga a alma, te esvazia E quando vê passou o dia E você pensa que devia Ter outro corpo, outra pica... A ansiedade vem e fica Caralho! Isso não é vida! Cuida, meu irmão Do teu emocional Cuida do que é real Cuida, meu irmão Do teu emocional Cuida do que é real Meu pai foi minha referência de homem forte Trabalhador, generoso, decidido Mas ele sempre teve dificuldade de falar O pai do meu pai também não soube se expressar Por esses homens é preciso chorar E perdoar... Essa dor guardada Até agora, enquanto escrevo Me assombra se o que eu digo é o que eu devo Um eco de medo O que será que vão dizer? O que será que vão pensar? A rejeição ensina cedo: Seja bem bonzinho ou então vão te cancelar Que complexo é esse? Mamãe, é você?! Me iludi nessa imagem, tentei me esconder Eu só posso ser esse Tiago Cheio de virtude, cheio de estrago Que afago crescer, aceitar Ai, ai... Esse homem macho, machucado Esse homem violento, homem violado Homem sem amor, homem mal amado Precisamos nos responsabilizar, meus amigos A gente cria um mundo extremo e opressivo Diz aí, se não estamos todos loucos Por um abraço Que cansaço Cuidado com o excesso de orgulho Cuidado com o complexo de superioridade, mas Cuidado com desculpa pra tudo Cuidado com viver na eterna infantilidade Cuidado com padrões radicais Cuidado com absurdos normais Cuidado com olhar só pro céu E fechar o olho pro inferno que a gente mesmo é capaz Cuida, meu irmão Do teu emocional Cuida do que é real Cuida, meu irmão Do teu emocional Cuida do que é real Minha alma é profunda e se a foga no raso Minha alma é profunda e se afoga no raso Minha alma é profunda e se afoga no raso Eu fico zonzo Fico triste Fico pouco Fico escroto Eu sigo à risca O que é ser homem Isso não existe A vida insiste O tempo todo Que eu repense O que é ser homem? O que é ser homem? O que é ser homem? O que é ser homem? O que é ser homem? Há tantos e tantos E tantos e tantos e tantos Possíveis homens Homem real e não ideal Ser homem por querer se aprender, todo dia Dominar a si mesmo Apesar de qualquer fobia: respeito Tem que ter peito Tem que ter cu pra amar direito Vou dizer que não? Esperando sentado por salvação? Conexão, empatia, verdade Divino propósito: responsabilidade Deitar a cabeça no travesseiro e sentir paz Por ter vivido um dia honesto Ah... Ser homem exige muito mais do que coragem Muito mais do que masculinidade Ser homem exige escolha, meu irmão E aí?”

  • TV Saudade: O salto dos anos 2000 - Parte 2

    Tamanha revolução na TV não caberia em um texto só, por isso, segue a segunda parte do salto produtivo das TVs abertas e fechadas do mundo todo. Sem mais delongas... A ilha: O mundo parou para assistir as histórias de um grupo de sobreviventes que caíram em uma ilha, aparentemente deserta no meio do Oceano Pacífico, cada um dos sobreviventes tem um passado misterioso, assim como o ambiente inóspito onde estão agora, essa era “basicamente” a história de Lost (ABC, 2004-2010) que rapidamente conquistou audiência, um público carente de mistério, uma das mais brilhantes criações de J.J, Abrams. O mosaico de personagens mostrava um médico com senso de justiça absurdo, que chegava irritar, uma fugitiva, um rockstar viciado em drogas, um milionário, que acabara de ganhar milhões na loteria, um ex-oficial iraquiano, a filha de um mafioso e outros muitos personagens que nos levaram a loucura ao longo de seis longas temporadas, com incontáveis mistérios e alguns deles sem qualquer resolução, o que acabou frustrando alguns expectadores, inclusive eu. Curiosidades: O grande elenco e as filmagens no Havaí tornaram a série uma das mais caras da televisão. O ator Josh Holloway (Sawyer) foi gravar os episódios e tentou esconder seu sotaque sulista, foi quando o criador J.J Abrams disse que ele havia sido contratado justamente por conta de seu sotaque. O episódio “Pilot” (primeiro episódio) custou cerca de 12 milhões de dólares, valor maior que a produção de algumas temporadas inteiras de outras séries. COMÉDIA EM FAMILIA O novo milênio mostrou, ao menos na televisão que, conviver em família, era uma das tarefas mais difíceis da vida. Dois Homens e Meio / Two and a Half Man (CBS, 2003-2015) foi uma das muitas séries que mostraram isso. Alan Harper (Jon Cryer) é um massagista terapêutico que é abandonado por sua mulher, agora ex-esposa e vai morar com seu irmão mais velho, Charlie (Charlie Sheen), um criador de jingles e típico homem de meia idade mulherengo e machista, Junto deles está Jake (Angus T. Jones), o filho único de Alan. A convivência dos três é para lá de complicada e rendeu alguns dos momentos mais engraçados da década, não por menos, essa foi a comédia mais assistida durante alguns bons anos. Caindo na Real / Arrest Development (Netflix, 2003-2019) tinha a família mais problemática que existe na terra, os episódios mostravam como uma simples gota d´água pura, não pode salvar um rio poluído. Michael (Jason Bateman) vê seu pai George Bluth (Jeffrey Tambor) ir preso depois que a Receita Federal descobre uma série de falcatruas que ele aplicou na empresa, o honesto Michael tenta dar a volta por cima, mas sua família egoísta e manipuladora não vai facilitar as coisas. A série filmada em tom documental e narrada em terceira pessoa trouxe um novo frescor para as comédias, mas a audiência não abraçou facilmente, nem mesmo o Emmy de melhor série de comédia conquistado, ou as apostas em várias participações especiais, foram suficientes para conquistar o público não foi o suficiente, a série foi cancelada depois de duas temporadas. Os produtores foram insistentes e trouxeram a série de volta a vida depois de sete anos, mas novamente não emplacou. Já Amor Imenso / Big Love (HBO, 2006-2011) era uma mistura de drama e humor que mostrava a vida normal de Bill (Bill Paxton), suas três esposas e sua “tradicional” família mórmon de doutrina poligâmica. A vida “normal” de Bill o obriga a se entupir de Viagra, única forma de ele saciar suas três esposas famintas por sexo. O sucesso da série chegou com a crítica, chamando atenção da mídia para as comunidades mórmons que ainda existem e que ainda praticam a poligamia e causou ainda mais polêmica, porque a série deixa aberta a hipótese de que essa prática talvez não tenha qualquer relação com religião e sim com a pura safadeza que o ser humano gosta, além de denunciar práticas nada ortodoxas como a pedofilia e casamentos arranjados entre figuras poderosas da igreja e meninas menores de idade. Show de cancelamentos Os anos 2000 foram ótimos para as séries que conquistavam o público, não interessa se ela era realmente boa, se conquistasse audiência, já era garantia de algumas temporadas ao longo dos anos, mas a primeira década do século foi cruel com muitos criadores e produtores e até com alguns atores que pareciam estar “amaldiçoados”. O mundo é gigante, algumas cidades são enormes, com altos arranha-céus, muita violência, altos preços e por aí vai. Voltar para a pequena cidade de Jericho US (CBS, 2006-2008), esse era o plano de Jake Green (Skeet Ulrich) que volta para casa depois de uma briga com seu pai, o protagonista quer recuperar o tempo perdido e resolver algumas pendências do passado, mas tudo vai pelos ares – literalmente – quando duas cidades americanas são atacadas por armas nucleares, causando pânico generalizado em Jericho. O suspense, pavor, pânico, medo e muita paranoia retratadas com o realismo fantástico, nada disso deu certo, a audiência não abraçou e a série foi cancelada depois de duas temporadas. O mundo bizarro de Carnivale (HBO, 2003-2005) também não teve vez, isso porque a HBO raramente cancela suas séries, mas essa série não era para muitos, mostrava Bem (Nick Stahl) que acabara de se juntar a um grupo de circenses durante a Grande Depressão Americana dos anos 30. Tudo que ele quer é esquecer seu passado, seu curioso poder de curar as pessoas e os inúmeros pesadelos. Do outro lado temos o pregador Justin Crowe que tem habilidade de subjugar as pessoas, de acordo com seu desejo. A série mostrava a clássica luta do bem contra o mal. Os circenses foram cancelados depois de duas temporadas, a HBO chegou a receber 50 mil e-mails durante um final de semana em protesto ao cancelamento, não adiantou. Mas o maior desapontamento da década foi com Studio 60 on the Sunset Trip (NBC, 2006-2007), série criada por Oscar Aaron Sorkin que viria a vencer um Oscar A Rede Social (2010). A série queria mostrar ao público estadunidense que nunca foi fácil fazer televisão nos Estados Unidos, principalmente em tempos de guerra, crise, com pressões dentro e fora da emissora, tudo isso mostrando o diretor do programa Studio 60, uma espécie de programa de esquetes, surtando e entrando na abertura para fazer um duro discurso sobre os rumos que a emissora está tomando, uma excelente ideia que não foi abraçada pelo público, cancelada. Censura? De jeito nenhum! OUSADIA! O principal lema dos canais pagos dos EUA, era a ousadia, especialmente depois que The Sopranos e Sex and The City fizeram um enorme sucesso, sinal de que o público estava gostando do que estava assistindo, sinal verdade para algumas das grandes séries da década. MACONHA! O logo de Weeds (Showtime, 2005-2012), maconha em inglês, era uma folha de maconha, adivinha por quê? Bom, a série narra a história de Nancy (Mary L. Parker) uma dona de casa do subúrbio que planta maconha para pagar sua hipoteca, depois da morte prematura do marido. A série era ousada, divertida e simpática, ganhou alguns prêmios e mostrou que a maconha é um monstro bem menor do que parece e mostra o quanto a proibição da droga gera oportunidades para criminosos de todos os níveis e índoles. FAMA! Entourage (HBO, 2004-2011), baseado nas experiências do ator Mark Wahlberg, mostrou como é o cotidiano de um jovem ator em ascensão em Los Angeles, a meca do cinema, o lar de Hollywood. Ao longo de oito temporadas fomos jogados nos dias, idas às compras, relacionamentos amorosos, muito sexo, drogas, festivais de cinema, filmagens e muito drama – uma das grandes comédias da década retrasada. MORTE! Como lidar com a morte? O principal foco de Six Feet Under (A Sete Palmos, HBO, 2001-2005) era esse, criado por uma das mentes mais brilhantes do cinema e da televisão da década passada, Alan Ball mostrava os dias da família Fisher, donos de uma agência funerária em Los Angeles. A família que acabou de perder o patriarca começa a passar vários problemas, desde financeiros até psicológicos, outra série que foi muito abraçada pelos críticos e pelas premiações. E por falar em mortes sem censura, Dexter (Showtime, 2006-atualmente) mostra o que se passa na mente do assassino em série, Dexter Morgan (Michael C Hall), passo a passo antes de ele eliminar suas vítimas. O diferencial da série era o protagonista ser da polícia de Miami, mais precisamente da perícia, o responsável por encontrar vestígios para elucidar os crimes da cidade, ou seja, ele meio que tinha acesso livre aos criminosos da cidade e usou esse acesso para assassinar em série cada um dos assassinos em série que ele descobria existirem. O sucesso de crítica – ao menos nas primeiras temporadas – fez com que o assassino ficasse no ar durante longos 7 anos e ganhar um recente revival / continuação exibida na Paramount +. Outros sucessos: O público abraçou séries adolescentes como Lances da Vida / One Tree Hill (The CW, 2002-2012), Um Estranho no Paraíso / The O.C. (FOX, 2003-2007), A Garota do Blog / Gossip Girl (The CW, 2007-2017), séries voltadas para o público adolescente, mas meio que “irrelevantes” no quesito requinte. Alguns outros sucessos ficaram abaixo de irrelevantes, Sobrenatural / Supernatural (The CW, 2005-2020) e Prison Break (FOX, 2005-2017) foram enormes sucessos, mas, sinceramente, eram ruins de doer na alma. E se você acha que eu esqueci de Breaking Bad e Mad Men, as séries mais definitivas dos anos 2000, é porque você ainda não viu o próximo capítulo da série TV Saudade que vai ao ar na semana que vem. Se os anos 2000 deram o que falar, espere para ver as séries que explodiram nos anos 2010.

  • Fraude Trabalhista: Uber, 99, Rappi e Lalamove devem registrar todos os trabalhadores, diz MPT

    Ifood, Loggi e outras oito empresas também são investigadas em outros 217 inquéritos civis. por Antônio Pedro Porto, redação Dossiê etc Em ação histórica, ajuizada em 08 de novembro de 2021, o Ministério Público do Trabalho requer que as empresas UBER, 99, Rappi e Lalamove registrem todos os trabalhadores que trabalham com transporte de passageiros e mercadorias. O relatório juntado aos autos do processo, assinado pela procuradora do trabalho, Eliane Lucina, fala em “fraude trabalhista extremamente lucrativa” e é acompanhada por seus colegas nos relatórios das demais empresas. Ao todo, 625 inquéritos civis (IC) foram instaurados contra essas empresas em todo o país, além de 8 ações civis públicas (ACP). Enquanto os inquéritos correspondem às investigações em andamento, análise dos dados dessas empresas e busca de provas que demonstrem fraude trabalhista e outras violações, as ações civis públicas são efeitos dessas investigações. Uma ACP é encaminhada quando o Ministério Público sente que possui conjunto indiciário, ou seja, provas capazes de demonstrar algum desarranjo legal. Além das quatro empresas citadas na ação, outras 10 empresas de aplicativos são investigadas por supostamente agirem de forma a precarizar a relação de trabalho, privando os trabalhadores de direitos básicos como ganhos mínimos, descanso semanal remunerado e jornadas de trabalho compatíveis com o bem estar do trabalhador: Uber (230 procedimentos de apuraçõ), iFood (94), Rappi (93), 99 Tecnologia (79), Loggi (50), Cabify (24), Parafuzo (14), Shippify (12), Wappa (9), Lalamove (6), Ixia (4), Projeto A TI (4), Delivery (4) e Levoo (2). Todos esses procedimentos buscam investigar inúmeras denúncias registradas, dentre os principais itens a serem analisados estão a relação de trabalho, se há subordinação ou não, remuneração, jornadas de trabalho exaustivas, ausência de políticas de manutenção da saúde e do bem-estar dos trabalhadores, o que engloba coisas sobre distribuição de EPIs e suporte para trabalhadores do grupo de risco se resguardarem na segurança de seus lares. O MPT aperta o cerco: Em nota do MPT, o procurador do trabalho Tadeu Henrique Lopes da Cunha ressalta ainda a percepção de que essas empresas podem ter desenvolvido um modus operandi, na forma de construir uma jurimetria (argumentos com base na quantidade de jurisprudências, ou seja, decisões anteriores sobre matérias de mesmo teor) através de acordos judiciais firmados de forma a interromper o curso normal do processo e impedir a resolução da matéria pelas instâncias judiciais trabalhistas. “A estratégia da reclamada de celebrar acordo às vésperas da sessão de julgamento confere-lhe vantagem desproporcional porque assentada em contundente fraude trabalhista extremamente lucrativa, que envolve uma multidão de trabalhadores e é propositadamente camuflada pela aparente uniformidade jurisprudencial” Trecho do parecer do MPT sobre as relações de trabalho da UBER. procuradora Eliane Lucina A mesma estratégia já vinha sendo denunciado por advogados e representantes da categoria, como o, agora YouTuber, Wagner Oliveira, autor do livro “Minha Batalha Contra a Uber”, onde relata sua luta desde que foi desligado sem aviso prévio da plataforma. Em um de seus vídeos, publicado em 30 de junho de 2021 em seu canal, Wagner apela para que as pessoas não topem o acordo que as empresas oferecem e espere um pouco mais até as decisões nas instâncias trabalhistas, pois dessa forma seria mais fácil formar jurisprudência. Em seu canal Wagner também costuma compartilhar vídeos de motoristas que, devido a necessidades mais urgentes, acabam por aceitar os acordos propostos pelas empresas de aplicativos que giram em torno de 10 a 25 mil reais, além dos casos de motoristas que esperam o processo até o fim e recebem valores muito maiores, com reconhecimento de vínculo empregatício e pagamento de verbas rescisórias como férias, 13º proporcional, aviso prévio indenizado e recolhimento de encargos trabalhistas. Em sua nova proposição, o Ministério Público do Trabalho requer que a justiça determine o reconhecimento da relação jurídica de emprego entre as empresas de aplicativo de transporte de passageiros e de mercadorias e que determine que as empresas registrem seus funcionários, motoristas e entregadores, sob pena de multa por descumprimento de R$ 10.000,00 (dez mil reais) por cada trabalhador encontrado em situação irregular a cada constatação, possibilitando que as empresas sejam notificadas e multadas mais de uma vez por cada trabalhador encontrado em situação trabalhista irregular. Em seus pareceres, sobre cada uma das quatro empresas (Uber, Rappi, 99 e Lalamove), o Ministério Público do Trabalho encontrou indícios de fraude contra as relações de trabalho além de uma vasta demonstração de subordinação empregatícia e precarização das relações de trabalho como estratégia para ampliação do lucro: "Portanto, a atividade de entregadores amolda-se perfeitamente aos requisitos necessários para caracterizar a relação de emprego, consistindo em fraude contra a relação de trabalho a negativa do reconhecimento do vínculo pela RAPPI" Trecho do parecer do MPT sobre as atividades da RAPPI Procurador do trabalho Ruy Fernando Gomes Leme Cavalheiro "Presentes os requisitos formais da relação de emprego e em virtude da imperatividade das normas trabalhistas, os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar sua aplicação são nulos de pleno direito, ope legis (CLT, art. 9º). O fundamento jurídico da ação e sua justificativa final é a fraude direta à relação de emprego e a nulidade dos contratos de prestação de serviços autônomos" Trecho do parecer do MPT sobre as atividades da LALAMOVE Procuradora do trabalho Tatiana Leal Bivar Simonetti Presentes os requisitos formais da relação de emprego e em virtude da imperatividade das normas trabalhistas, os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar sua aplicação são nulos de pleno direito, ope legis (CLT, art. 9º). O fundamento jurídico da ação e sua justificativa final é a fraude direta à relação de emprego e a nulidade dos contratos de prestação de serviços autônomos. Trecho do parecer do MPT sobre as atividades da 99 TECNOLOGIA Procuradora do trabalho Tatiana Leal Bivar Simonetti Assinam os pareceres do MPT os procuradores do Trabalho: Carolina de Prá Camporez Buarque, Eliane Lucina, Luíz Fabiano de Assis, Renan Bernardi Kalil, Rodrigo Barbosa de Castilho, Ruy Fernando Gomes Leme Cavalheiro, Tadeu Henrique Lopes da Cunha, Tatiana Leal Bivar Simonetti e Thiago Milanez Andraus.

  • Embraer aposta em aeronave moderna para curtas distâncias

    Um projeto robusto de turboélice com modernidade e eficiência energética para suprir as demandas do mercado aéreo A Embraer inova em projeto que poderá atender as empresas aéreas nas rotas de curta distância, com eficiência, sustentabilidade e redução de custos. Com uma marca já bastante consolidada no mercado nacional e externo, além de continuar seus investimentos na carreira dos Ejets presentes nos espaços aéreos de todo o planeta, a Embraer apresentou um modelo de avião bastante inovador, adaptado aos aeroportos regionais e compatíveis, também, com as tendências de combustível no futuro, com larga capacidade de conversão ao sistema híbrido. Os jatos produzidos hoje pela empresa atendem a várias empresas, com alta tecnologia e desempenho, porém os modelos Ejets não se mostram rentáveis em rotas de curta distância, considerando consumo e capacidade de passageiros. Com base nisso e após uma série de estudos, a Embraer apresentou um projeto de aeronave que poderia, por exemplo, atender o mercado nas rotas regionais, com um modelo Turboélice de Nova Geração, cuja sigla em Inglês é TPNG. Uma nova frente de negócios que poderá render a produção de 2.000 aeronaves num período de 20 anos, colaborando com o planeta graças a uma menor emissão de poluentes, além de poder gerar uma economia entre e 20 e 40% no consumo. Um projeto que precisa estar adequado não só às necessidades de economia e sustentabilidade, mas também à realidade dos aeroportos regionais, hoje muito mais modernizados para receber aviões. Esse turboélice de nova geração, com capacidade média de 70 passageiros, deverá chegar ao mercado apresentando seus motores na parte traseira, com duas intenções principais. Uma delas é fornecer aos passageiros maior conforto com a questão acústica, pela redução de ruído na cabine e a outra é garantir o uso dos fingers de embarque e desembarque sem tomar nenhum espaço que poderia atrapalhar essa operação, caso os motores estivessem nas asas. Com a crescente e necessária busca por combustíveis sustentáveis, o projeto prevê que no futuro não seriam necessários maiores custos de adaptação, inclusive no caso de propulsão por hidrogênio. Para tanto, as empresas Rolls-Royce e Pratt & Whitney já fazem parte desses estudos junto à Embraer. A ideia de que essas aeronaves estejam mais presentes nos aeroportos regionais, em voos de curta distância, tornou o projeto das asas com características mais longas e ao mesmo tempo, mais finas e retas. Isso propicia um uso perfeito para esses aeroportos, ao contrário das asas que tem maior “flechamento”, como se observa nos jatos mais antigos como o 707 e nos atuais 737 Max, que exigiriam pistas maiores para decolagem e fugiria do conceito inicial de uma aeronave para aeroportos regionais. Asas mais alongadas, finas e compridas, permitem voar mais alto e decolar mais rápido, um encaixe perfeito aos voos regionais. A Embraer busca aprimorar, sempre levando em conta projetos anteriores que obtiveram bastante sucesso, desde o Bandeirante e os EJets, o que colabora para a idealização das novas aeronaves, como é o caso do TPNG (Turboélice de nova geração). Considerando a tendência de mercado, suas mudanças e até a própria pandemia, uma série de estudos nesse sentido está em curso, o que ainda não estabelece uma data para execução e lançamento, mas é provável que dentro de alguns meses a empresa faça algum anúncio mais oficial sobre essa aeronave que embora traga conceitos anteriores de turboélice, como os utilizados nos períodos de guerra, vem com bastante modernidade e eficiência. A visão de negócios da Embraer mostra-se bem firme e consolidada, não apenas gerando lucros à própria, mas também com a execução de projetos que se casem com a necessidade das empresas que venham a utilizar suas aeronaves, abrangendo rotas, aeroportos, sustentabilidade, economia, segurança e conforto. Sem dúvida um projeto que conta com a solidez e confiabilidade da Embraer, com as expectativas das empresas aéreas do globo e com a necessidade crescente de modernização e redução de custos, tanto para as empresas quanto aos passageiros.

  • Análise sobre a análise: O que diz o polêmico texto sobre Marília Mendonça?

    Como um texto biográfico de 20 parágrafos, dos quais, 16 eram completamente elogiosos, acabou se tornando uma ofensa imperdoável para boa parte dos fãs da cantora mais amada do Brasil. No último dia 05 de novembro o Brasil se viu incrédulo com as notícias que tomaram conta da TV e da internet. Marília Mendonça, um dos maiores ícones da música brasileira havia falecido em uma queda de avião na cidade de Caratinga-MG, onde faria uma apresentação. Estranhamente, o assunto mais comentado desde sua morte, não foi sobre todo o sucesso que ela fez em vida, mas sim sobre uma análise biográfica escrita por Gustavo Alonso e publicada no jornal Folha de São Paulo. O texto reverencia a carreira da cantora, a compara, sempre positivamente, com alguns dos maiores nomes da música brasileira e mundial. Para analisar o texto ponto a ponto, compilei o texto completo e separei todo ele por parágrafos que antecedo com meus comentários. O texto em questão éa análise entitulada: “Marília Mendonça, rainha da sofrência, não soube o que é fracasso” e aqui já começa minha análise. Com esse título, o texto fez os fãs pensarem que se tratava de uma coroa de flores, mas o texto todo está mais para uma biografia do que para uma homenagem propriamente lida e isso pode ter frustrado alguns fãs que, nesse momento de luto, talvez não quisessem saber a opinião do autor sobre o mercado da música sertaneja, mas acho que o que afundou a reputação desse texto, foi o fato dele ser fechado para assinantes, o que fez com que circulassem largamente na internet, apenas 10% do texto (2 parágrafos de 20). Acompanhe e tire suas próprias conclusões depois de ler o texto completo. Observação: Daqui em diante, em negrito, estão assinaladas as minhas análises sobre o texto. Já a reprodução do texto original está sem negrito e com alguns trechos sublinhados. Para conhecer as músicas citadas ao longo do texto, basta clicar sobre o título, linkamos como youtube oficial da cantora. 1º Parágrafo: O autor introduz o leitor no texto, na intenção que ele tem de mostrar que a vida de estrela não é fácil como parece, é um preparativo para as críticas que viriam. Para isso ele usa o post da própria cantora nas redes sociais: O último posto do Instagram de Marília Mendonça foi um vídeo em que ela brinca sobre a diferença entre a expectativa e a realidade de se fazer shows em Minas Gerais. O vídeo abre com ela se encaminhando para o avião, com mala e violão a tiracolo. Sua expectativa – pão de queijo, cachaça, queijo canastra e feijão tropeiro. Em seguida, a realidade da estrela da música nacional – a chata viagem, com malhação e alimentação insossa e dietética. 2º Parágrafo: O autor contextualiza o motivo de escrever aquele texto, inclusive reunindo outros casos semelhantes: Não era possível cogitar que a realidade seria tão triste. O avião em que Marília Mendonça voava caiu na tarde desta sexta-feira em Piedade de Caratinga, em Minas Gerais. Mendonça não sobreviveu. Aos 26 anos, seu nome se une a outros da música que morreram tentando ir “aonde o povo está” – Gabriel Diniz, Mamonas Assassinar, Carlos Gardel, Ritchie Valens, Bussy Holly, Glenn Miller, Otis Redding, John Denver, Stevie Ray Vaughan. 3º Parágrafo: O autor começa a situar a cantora em seu merecido lugar de destaque no topo da carreira, para isso compara a trajetória de Marília a outros nomes da música sertaneja que também já partiram desse plano. A morte no auge aumenta a dor dos fãs. Diferentemente de Gabriel Diniz, morto em 2019, a carreira de Mendonça tinha bem mais do que um grande sucesso. E, ao contrário de Cristiano Araújo, morto em trágico acidente automobilístico em 2015, a trajetória de Mendonça não estava mais em ascensão. Ela já havia atingido o topo. Mendonça era a rainha da música brasileira, a rainha da sofrência. 4º Parágrafo: O autor do texto continua a contextualizar todo o inacreditável sucesso da cantora. Nesse ponto ele mostra como, em números, a cantora supera outros nomes tão poderosos e mostra como ela agrada a Gregos, Troianos e gênios da música. Marília Mendonça tinha mais seguidores no spotify do que os Beatles. São 36 milhões o número de seguidores no Instagram, 4 milhões a mais que a poderosa ex-BBB Juliette. Mais do que os números, Mendonça mudou a face da música sertaneja, hoje a grande música popular do Brasil. Honra máxima na música brasileira, Mendonça recebeu duas citações de Caetano Veloso em seu mais recente disco. Agora, na sua morte, Lula – e também Bolsonaro – publicou um post se declarando sentido pela morte da cantora. 5º Parágrafo: O autor credita à cantora a criação de um subgênero do sertanejo e a reconhece como maior nome do gênero mais tocado no país. Mendonça faz parte da corrente que se convencionou chamar de feminejo — artistas mulheres que tomaram para si o ato de cantar em primeira pessoa os dramas compostos em grande parte por elas mesmas, como Maiara e Maraísa, Simone e Simária, Naiara Azevedo e Paula Mattos. Mas sobretudo Mendonça. Ela era incontestemente a artista mais reconhecida não só do subgênero, mas de toda a música sertaneja há alguns anos. 6º Parágrafo: Aqui, na minha opinião está o ponto alto do texto, pois no auge da polêmica, o autor compara Marília Mendonça a outros grandes sucessos da música como Beatles, Roberto Carlos, Elis Regina. E a comparação Marília está acima deles. Marília não conheceu o fracasso. Isso é raro, especialmente entre artistas iniciantes. Roberto Carlos gravou discos sem sucesso algum antes de se tornar rei. Elis Regina gravou três discos sem qualquer repercussão de seu enorme talento. João Gilberto cantou com vozeirão sem nunca ter tido sucesso antes de se tornar um dos criadores da bossa nova. Os Beatles foram rejeitados pela gravadora Decca antes de se tornarem o mito que se tornaram. Zezé Di Camargo penou na carreira em dupla e solo, antes de acertar com o “É o Amor”. 7º Parágrafo: Aqui diminuem as reverências e Gustavo, o autor, adota um tom mais biográfico, ele passa da exaltação para a narração de fatos, aliás, fatos muito mais interessantes do que a polêmica que se levantou em torno do texto. É aqui também que o autor esboça uma crítica à indústria da música sertaneja. Mendonça foi precoce. Aos 12 anos já compunha. Aos 15, um conhecido a apresentou a Wander Oliveira, do escritório da Work Show, que se tornaria seu empresário. Oliveira gostou do que ouviu, mas achava que dava para melhorar. Contratou a jovem para fazer parte do batalhão de compositores que trabalham na lógica industrial dos escritórios sertanejos de hoje em dia. Nas palavras de Mendonça, “nos tornamos abelhas-operárias”. 8º Parágrafo: Gustavo Alonso, a partir desse ponto adota um tom crítico bem nítido e direciona esse tom para o mercado da fama ao qual ele se refere como “showbusiness”. Ela se tornou então proletária da canção. Além de viver a desigualdade do showbusiness na pele, conheceu a relação machista de perto. Suas músicas eram fornecidas a vários artistas homens — “Calma” foi cantada por Jorge e Mateus; Cristiano Araújo cantou “É com Ela que Eu Estou”. Wesley Safadão, Henrique e Juliano, Matheus e Kauan, João Neto e Frederico também cantam canções suas. Segundo sua parceira Maiara, “Ninguém acreditava no meio que mulher virasse sucesso”. 9º Parágrafo: Resumo rápido de como ela passou de compositora a cantora Começou a ganhar dinheiro próprio aos 17 anos, quando pingaram em sua conta corrente os primeiros direitos autorais. Até os 18 foi só uma compositora requisitada. Desde que começou sua trajetória de cantora, arrolou uma sequência de sucessos que a tornaram um fenômeno. 10º Parágrafo: Aqui começa o fim do texto. É a partir daqui que o texto foi largamente compartilhado. Faz uma observação quanto a qualidade vocal da cantora, no entendimento dele — com a qual eu discordo — e mostra que ela era uma contradição em um meio tão apegado a padrões estéticos e vozes masculinas. Nunca foi uma excelente cantora. Seu visual também não era dos mais atraentes para o mercado da música sertaneja, então habituado com pouquíssimas mulheres de sucesso — Paula Fernandes, Cecília (da dupla com Rodolfo), Roberta Miranda, Irmãs Galvão, Inhana (da dupla com Cascatinha). 11º Parágrafo: Nesse parágrafo acontece o choque entre o registro biográfico de uma característica física da cantora e a cultura popular que considera a palavra “gorda” a uma ofensa, muito mais do que uma característica natural ou biotipo da pessoa. O mais curioso é que a crítica parece direcionada às exigências e padrões impostos pelo mercado e não necessariamente ao corpo da cantora. Mas gordura no Brasil é palavrão e o preconceito internalizado na cultura popular falou mais alto do que a crítica: Marília Mendonça era gordinha e brigava com a balança. Mais recentemente, durante a quarentena, vinha fazendo um regime radical que tinha surpreendido a muitos. Ela se tornava também bela para o mercado. Mas definitivamente não foi isso que o Brasil viu nela. 12º Parágrafo: Depois de apontar que o showbusiness pressionava a cantora para mudar o próprio corpo, sem necessidade, já que o sucesso veio antes disso, o autor retoma a reverência à artista e mostra com vários de seus sucessos o que foi que o Brasil viu nela, mostrando os sucessos dela eram fora dos padrões: Nascida em Goiás, Mendonça era a cara do Brasil. Mas de um Brasil que mostrava novas caras a partir de meados dos anos 2010. Ela cantou a versão da mulher traída, como o fez em seu maior sucesso, o bolerão onipresente “Infiel”. Marília Mendonça cantou a amante em “Como Faz Com Ela”, esse personagem tão discriminado numa sociedade em que o matrimônio ainda é visto como algo sagrado — “Tudo o que eu preciso / é saber se você faz amor comigo como faz com ela / se quando beija morde a boca dela / Fala besteira no ouvido, como faz comigo”. 13º, 14º, 15º e 16º Parágrafos: O autor continua fazendo um favor a leigos como eu que não tinham noção da quantidade de sucessos e da profundidade que trazia em suas letras. Ela foi disruptiva e, aparentemente, não era nada convencional nas histórias que suas letras narravam. Em “Amante Não Tem Lar”, Mendonça vestiu em primeira pessoa a renegada. Com Felipe Araújo, contou “Amante fiel” — “Amante fiel / Esse nosso compromisso não depende de um anel / Somos por esse nosso relacionamento aberto / Nem preciso me chamar; eu vou estar sempre por perto”. Longe de ser convencional, Mendonça cantou também a prostituta em “Troca de Calçada”. “Se alguém passar por ela / Fique em silêncio, não aponte o dedo / Não julgue tão cedo / Ela tem motivos para estar desse jeito / isso é preconceito / Para ter o corpo quente, eu congelei meu coração / Para esconder a tristeza, maquiagem à prova d´agua / Hoje você me vê assim e troca de calçada / Só que amar dói muito mais do que o nojo na sua cara”. A prostituta já havia sido personagem abordada em diversas canções da música brasileira. Da Geni de Chico Buarque à Bailarina de João Mineiro e Marciano e à amante por quem Odair José ia largar tudo em “Eu vou Tirar Você desse Lugar”. Mas quando alguém cantou em primeira pessoa sua voz? Ao narrar a vida das mulheres atuais, Mendonça também aderiu ao feminismo massivo que se espalha em diversas frente na sociedade brasileira. Em “Supera”, ela cantou afinada ao discurso de autoajuda da militância feminista atual, buscando “positivar” a mulher que deseja novos relacionamentos fortuitos. “Para de insistir, chega de se iludir / O que você tá passando eu já passei e eu sobrevivi / Se ele não te quer, supera.” 17º Parágrafo: Depois de novamente comparar positivamente Marília com gigantes como Chico Buarque, e dar uma verdadeira aula sobre o estilo da cantora, no 17º parágrafo retorna com as críticas, mostrando que apesar de ter uma mente brilhante e a frente de seu tempo, o artista era podada em suas posições políticas por exigências do mercado e coloca ela como uma pessoa humana, cheia de acertos, mas que também tem suas contradições e que não tinha problemas em se desculpar. Mendonça era também a cara do Brasil nas suas contradições. Afirmava a poética da autoaceitação, mas aparentemente teve que mudar sua imagem e emagrecer ao longo dos anos de showbusiness. Em 2018. Ela participou brevemente do movimento #EleNão contra Bolsonaro. Sofreu uma onda de críticas de seu meio, em grande parte simpático ao então candidato de direita. Mendonça então tirou o rime de campo e pediu desculpas por se pronunciar politicamente. Em live de agosto do ano passado, fez uma brincadeira maldosa com um músico de sua banda que teria saído com uma transexual. Pediu desculpas em seguida nas redes sociais. 18º, 19º e 20º Parágrafo: Já se despedindo, o texto biográfico relata um de seus maiores feitos, uma super turnê que gerou seu DVD e nos dois capítulos finais faz um breve relato sobre o ambiente em que se deu sua morte. Um dos maiores sucessos comerciais e de público foi o disco “Em todos os Cantos”, gravado ao vivo. Nele, Mendonça fez aquilo que Milton Nascimento já tinha recomendado e foi aonde o povo estava. O DVD do show foi gravado nas 27 capitais brasileiras. Diversas cidades, mas o mesmo público ensandecido com a cantora que, no começo, parecia feita para ficar nos bastidores. Mas que foi além. Sua morte teve o amargo “suco de Brasil” de 2021, época de aberrações e fake News - enrolações e disse-me-disse da assessoria da cantora (que chegou a afirmar que ela estaria viva no hospital), transmissão ao vivo em rede nacional da retirada dos corpos do avião, programas policiais de fim de tarde especulando causas sem qualquer prova concreta. Houve até boatos negacionistas de WhatsApp dizendo que o piloto teria se vacinado contra a Covid e por isso passara mal, causando a queda da aeronave. Em sua estupidez, a morte sempre ilustra a vida que vivemos. Marília Mendonça, em sua breve vida, forjou uma nova sensibilidade para a música popular massiva brasileira, tocando milhões de corações. Todo mundo vai sofrer. ___________ No fim das contas, acredito que o principal ponto de discórdia seja pelo gênero textual, uma biografia. Biografias, em geral, não apenas enaltecem as partes boas da vida de alguém, mas tratam também de analisar suas dores e suas incoerência. As biografias de Steve Jobs apontam suas dificuldades em relações pessoais e sua paternidade problemática, sem desmerecer suas conquistas e genialidade a frente da Apple; Freddie Mercury jamais terá seu talento contestado, mas suas biografias carregam a triste missão de mostrar seus conflitos sentimentais e o abuso de drogas; Amy Winehouse será para sempre lembrada como uma das vozes mais expressivas da música, sem que seu escape alcoólico seja esquecido. Depois de ler os 20 parágrafos desse texto, me pareceu razoável que pelo menos um trecho desse texto tratasse das coações que uma mulher gorda/grande sofre no show business, mesmo após provar seu inconteste talento. Um tratamento muito desigual em relação ao tratamento dado a homens gordos no mesmo show business, Faustão, Jô Soares, Arlindo Cruz, Zeca Pagodinho, Milionário e José Rico, César Menotti e Fabiano, são apenas alguns casos que ilustram essa diferença de abordagem. Então se essa pressão para ela emagrecer existiu, e parece que existiu, é prudente que isso conste em um texto de abordagem biográfica que poderá ser lido hoje como óbvio e daqui 30 anos, como informativo. Por fim, também me surpreendeu que fãs da cantora não tenham exaltado o fato de o texto ter apontado números da cantora que superam Madonna, ou o grande feito de ter tido sucesso desde seu primeiro trabalho, diferente de outros nomes como Roberto Carlos, Elis Regina e Beatles. Mas talvez isso se deva ao momento bélico que vivemos, aos nossos apegos por condenação e cancelamento, ausência de disposição para o debate e até para a leitura de um texto completo que infelizmente não é aberto a todos e fica a mercê da forma como as pessoas compartilham seu conteúdo. Seja por qual motivo for, é uma pena que um texto tão elucidativo para leigos como eu, tenha ficado marcado por apenas 10% de seu conteúdo, expostos fora de contexto. Esse texto é um daqueles que os fãs, no futuro, usarão para defender o legado da cantora em conversas de boteco, porque esse é um daqueles textos com argumentos difíceis de serem refutados. Quem lê essa análise escrita por Gustavo Alonso, dificilmente terminaria sem chegar à conclusão de que ela foi uma das maiores de todos os tempos. A todos os fãs da rainha da sofrência, só posso desejar que a dor dê espaço às boas lembranças e que esse sofrimento vire música, pois provavelmente é isso que Marília faria, música.

  • Listas: 5 filmes de favela

    Os filmes “da quebrada”: Conheça essas belas obras que exploram toda uma rica cultura das periferias brasileiras. O Dia da Favela, comemorado na última quinta, 4 de novembro, foi ‘criado’ para celebrar o local de criação de muitas famílias, para mostrar toda uma cultura em comunidade, de pessoas muitos próximas umas das outras, de casas amontoadas, daquela vista alaranjada dos tijolos sem reboco ou pintura, daqueles becos estreitos e especialmente para desmitificar aquela visão ordinária que muita gente tem que, favela é local de violência, do uso exagerado de drogas, de sujeira e tantas outras coisas que, simplesmente, não são verdades. A favela, comunidade, quebrada – como nos paulistas costumamos chamar – está longe de ser um lugar horrível pra crescer ou viver, muitas vezes é muito melhor que outros tantos lugares, já que existe certa “segurança” – essa que a própria comunidade impõe para que nada de ruim aconteça e claro, para que essa imagem ridícula não fique ainda pior. Ainda assim, para todos os efeitos, a desigualdade é o maior problema, falta de oportunidade de estudos e de trabalho, fazem com que muitos jovens caiam no caminho errado, história essa que o cinema cansou de nos mostrar, mas vamos lá, separei cinco filmes que mostram um pouco da realidade das comunidades, tentei fugir das listas mais obvias e deixei de fora filmes que já aparecerem em outras listas aqui, por isso, a obra-prima Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, não vai estar logo abaixo em primeiro lugar, sem mais delongas, segue a lista. 5. Casa Grande (Fellipe Barbosa, 2014) O que acontece com quem não sabe administrar suas próprias finanças? Sônia (Suzana Pires) e Hugo (Marcello Novaes) são um casal da alta sociedade carioca, ambos têm uma vida muito confortável, compram de tudo e não poupam, mas aos poucos eles veem a falência cada vez mais perto, seus dois filhos Jean (Thales Cavalcanti) faz de tudo para se desvencilhar de seus país, mas ele ainda não sabe que seus pais estão com problemas financeiros, até que a realidade toma conta de tudo e os pais de Jean cortam gastos, o garoto que até então só se preocupava com vestibular e sexo, agora tem que enfrentar a realidade. Onde assistir: Netflix 4. Cidade dos Homens (Paulo Morelli, 2007) Os personagens Laranjinha e Acerola ficaram famosos graças a série da Globo que mostrava a realidade dos melhores amigos dentro da favela. No filme, agora já na maioridade, os melhores amigos têm que cuidar dos seus próprios problemas. Acerola, agora pai, tem de criar seu filho sozinho, já que a mãe do garoto foi trabalhar em São Paulo, enquanto Laranjinha segue uma longa saga para encontrar seu pai que passou por uma longa penitência na cadeia, uma série de coisas surgem para testar a amizade dos bons e velhos amigos de infância. Onde assistir: Telecine play 3. Era uma vez... (Breno Silveira, 2008) O Rio de Janeiro é uma cidade maravilhosa, cheia de paisagens naturais, praias maravilhosas e morros, só existe um bairro em toda cidade que não tem favela – que é a URCA – os demais, todos têm. É em uma delas, no Cantagalo, favela de Ipanema, que segue a história de Dé (Thiago Martins), filho de empregada doméstica que acaba de ter seu irmão assassinado por traficantes e seu outro irmão exilado da favela pelos mesmos traficantes. O personagem não quer seguir esse mesmo caminho e vai trabalhar na Orla da praia de Ipanema como vendedor de cachorro-quente. Lá acaba se apaixonando por uma garota chamada Nina (Vitória Frate) que mora na Vieira Solto, avenida em frente à praia, o CEP mais caro do Rio de Janeiro, mas claro, a diferença social será só um dos muitos empecilhos para a dupla seguir em frente com a paixão. Onde assistir: YouTube 2. Branco Sai, Preto Fica (Adirley Queirós, 2014) O filme de Queirós é meio diferente e vai fazer com que a maioria dos expectadores ache estranho, especialmente por causa do tom documental e uma história meio mirabolante. O filme gira em torno de dois homens que estão em um baile nas quebradas de Brasília, até que um tiroteio faz a multidão se dispersar e acabam marcando os personagens, até que um homem do futuro chega para investigar o acontecido e provar que a culpa de tudo o que está acontecendo ao redor deles, é da sociedade opressiva. Onde assistir: Netflix 1. Bróder (Jefferson De, 2010) Paraisópolis, Heliópolis e o Capão Redondo são as quebradas mais conhecidas de São Paulo e é no Capão que Macu (Caio Blat), Jaiminho (Jonathan Haagensen) e Pibe (Silvio Guindade) eram parceiros desde moleques, mas que seguiram caminhos diferentes no decorrer do tempo. Jaiminho focou no futebol e alcançou a fama, Pibe é um trabalhador nato já que tem um filho e precisa dar o sangue para criar o garoto, já Macu caiu na estrada errada, entrou para o mundo do tráfico e está planejando um sequestro no meio de uma festa organizada por sua mãe, Dona Sônia (Cassia Kiss). O circo está armado, em meio a alegria de se reencontrarem, uma tragédia está caminhando a todo vapor. Onde assistir: YouTube

  • TV Saudade: O salto dos anos 2000 - Parte 1

    Tamanho, complexidade e diversidade; as séries dos anos 2000 levaram a televisão para um outro patamar de audiência, de investimentos e transformou programas de TV em verdadeiras superproduções. O século XXI chegou e apesar de o público ainda estar na crista da onda dos anos 90 a exigência era cada vez maior, a televisão aberta estava ficando cada vez mais limitada e os canais fechados, com certa liberdade, se aproveitaram da situação e capturaram uma boa fatia do público. O começo do novo milênio traria novidades para televisão como 24 Horas repleta de ação, os mistérios de Lost e os canais fechados ousariam bem com A Sete Palmos / Six Feet Under e Dexter, era o início da chamada “Era de Ouro” da televisão. Mafiosos divisores de águas Se vamos falar da “Era de Ouro” e da virada no mundo televisivo, vamos começar pela “série chave” para esses acontecimentos, Família Soprano / The Sopranos (HBO, 1999-2007) criado, por David Chase, mostrava os ‘bastidores’ da máfia em Nova Jersey, estado vizinho a Nova Iorque. O chefe da família é Tony Soprano (James Gandolfini, em uma atuação soberba), ele está sentindo algumas dores e constantes desmaios, até que é aconselhado por seu médico a fazer terapia, chefe da máfia, ele obviamente fica relutante com a ideia, mas segue com ela, sua analista é a Dra. Jennifer Melfi (Lorraine Braco) que de início não sabe absolutamente nada sobre seu novo paciente, partindo daí somos tragados para a vida e o cotidiano de Tony. Tráfico de drogas, prostituição, roubos de carro, de carga e outros muitos delitos. Lidar com a família da máfia é o menor dos problemas de Tony, pois seu real impasse está dentro de sua casa. Sua esposa Carmela (Eddie Falco) é uma dona de casa frustrada, seus dois filhos Meadow (Jamie-Lynn Sigler) e Anthony Jr. (Robert Iler), são adolescentes que ultrapassam a linha do rebelde, sem contar a própria mãe de Tony, Livia (Nancy Marchand), uma senhora que começa sofrer com Alzheimer, mas que tem o histórico de “mãe maldosa”. A série, no decorrer de seis temporadas caprichou no desenvolvimento de cada um dos inúmeros personagens, é gigantesco o desenvolver, conquistando muitos prêmios no Emmy, é provável que 90% do elenco tenha sido premiado. Curiosidades: The Sopranos foi a primeira série de um canal fechado (HBO) a ganhar o Emmy de melhor série drama A HBO achava que o nome The Sopranos remetia algo relacionado a música, por isso no logo da série a letra P é um revólver. A Justiça ganhou as telas O nome David E. Kelley é um dos mais recorrentes aqui na Dossiê etc, criador de algumas das séries mais marcantes, o criador e roteirista sempre soube se adaptar às exigências do público. Justiça Sem Limites / Boston Legal (ABC, 2004-2008) se revelou como um dos mais divertidos e elaborados projetos de Kelley, a série tem uma premissa muito simples, Alan Shore (James Spader, na melhor atuação da história da televisão americana, sem exageros) acaba de ser demitido do escritório de advocacia onde gerou milhões de dólares em novas contas. Inconformado com a decisão dos chefes, ele contrata Denny Crane (Wiliam Shatner), um dos grandes nomes do setor, mas que vive às sombras de sua fama. O encontro resulta na contratação de Alan para trabalhar no escritório de Denny, até aí tudo bem, mas ainda na primeira temporada o escritório sofre uma reviravolta com a entrada de uma das sócias majoritárias, Shirley Schmidt (Candice Bergen), uma advogada repleta de novas regras, o circo estava armado, já que Alan faz tudo, menos respeitar as regras. O diferencial da série eram os casos bizarros que caíam nas mãos dos advogados. Uma série muito divertida, muito bem escrita e que levou um novo tipo de direção aos episódios, repleta de closes e zoom, sou suspeito para falar, já que essa é uma das minhas séries favoritas. Curiosidades: Boston Legal é a série favorita do ex-presidente americano Bill Clinton; Os diálogos e situações viviam brincando e fazendo referências ao Capitão Kirk (Star Trek) que William Shatner interpretou nos anos 60. Agentes do Governo Os policiais sempre foram protagonistas em dezenas de séries americanas, Lei e Ordem / Law & Order (1990 a 2010) popularizou ainda mais esse gênero, mas nos anos 2000 houve uma explosão e a polícia em vários seguimentos foram colocados na televisão. O que seria o combate ao crime sem os agentes do FBI que muitas vezes mais parecem super-heróis, Desaparecidos / Without a Trace (CBS, 2002-2009) mostrava os agentes do FBI que procuravam pessoas desaparecidas, como o próprio título sugere. A série parte da ideia de que a melhor forma de encontrar uma pessoa que sumiu do mapa, é conhecer bem a vítima, como ela pensava e agia. A série mostrava essa linha do tempo mostrando há quantas horas a suposta vítima estava desaparecida. Já Mentes Criminosas / Criminal Minds (CBS, 2005-2020) mostrava outro segmento, o da Divisão de Ciência do Comportamento. A cada episódio os agentes analisavam a mente dos criminosos mais perigosos do país, tentando antecipar seus próximos passos, para assim, tentarem salvar uma vítima. CSI (CBS, 2000-2015) é uma daquelas séries que chegam de mansinho, não impressionam de primeira, mas que no decorrer dos anos e das temporadas vai crescendo e crescendo, o programa segue o trabalho dos investigadores forenses do Departamento de Polícia de Las Vegas enquanto eles revelam as circunstâncias por trás de mortes e crimes pouco comuns. O sucesso da série foi tanto que vários derivados foram criados como CSI: Miami; CSI: New York; CSI: Las Vegas e todos eles fizeram sucesso em algum nível. O maior sucesso policial da década de 2000 ficou conhecido por um nome, Jack Bauer (Kiefer Sutherland), o protagonista de 24 Horas / 24 (FOX, 2001-2014), uma série com um “formato diferente”, cada temporada narrava um dia na vida do agente – daí o nome 24 horas – cada episódio era o equivalente a uma hora na vida do protagonista; assim cada temporada tinha 24 episódios, a série ficou muito popular, essencialmente, por causa do formato da trama e do roteiro bem amarrado. Aqui no Brasil a Globo fez uma bela propaganda da série e a exibiu, utilizando cada segundo de sucesso da série. Curiosidades: Para manter a fidelidade ao visual dos personagens, todos os atores da série 24 Horas cortavam o cabelo a cada cinco dias A série recebeu duras críticas por conta das cenas de tortura, usada pelos agentes do governo estadunidense, inclusive praticadas pelo protagonista Bauer. Empoderamento Feminino: Joan Girardi (Amber Tamblyn) acaba de se mudar para a pequena cidade de Arcadia, o que era para ser um novo capítulo de sua pacata vida, por decisão de seus país que passaram por uma série de problemas e precisam recomeçar em uma nova cidade, se transforma em um encontro com Deus, que se apresentava a ela de diversas formas. A cada encontro a força divina passava uma nova tarefa para a estudante, essa era a premissa de Joan of Arcadia (CBS, 2003-2005) criada por Barbara Hall que queria abordar o adolescente comum e sua falta de crença em forças maiores. J.J Abrams foi nos anos 2000 um dos grandes nomes no mundo televisivo, criador de várias séries naquela década, entre elas Codinome Perigo / Alias (ABC, 2001-2006) que nasceu de outra série dele Felicity (The WB, 1998-2002), sobre uma garota apaixonada que vai estudar na cidade grande para ficar próximo de seu amado. Parece simples, não é? Mas quem conhece J.J. Abrams sabe que ele jamais se limitaria a isso, é então que nós, expectadores, descobrimos que a jovem apaixonada vive uma vida dupla como agente secreta do serviço americano, só para deixar claro, estamos falando de Alias. Na série, Sidney Bristow (Jennifer Garner) trabalha numa organização chamada SD-6, um braço da CIA. A cada episódio ela era enviada para desmembrar planos mirabolantes de vilões ainda mais mirabolantes, isso quando Abrams, como é de costume não enfiava goela abaixo coisa para lá de ficção cientifica. O público jamais se esquecerá de uma personagem, que é até hoje usada como referência, Betty Suarez, mais conhecida como Betty: A Feia aqui no Brasil. A trama fez sucesso em vários países, do Brasil aos EUA passando por México e adjacências, não seria diferente, Betty: A Feia / Ugly Betty (ABC, 2006-2010) tinha a mesma trama que já conhecemos: Uma garota introvertida que trabalha numa das maiores publicações de moda dos Estados Unidos. Ela usa óculos de grau, aparelho dos dentes e roupas sem estilo, especialmente ponchos, uma caricatura daqui que os roteiristas consideram “feio”, mas inteligência é a sua maior arma e ela usa isso e o pouco charme que tem para cativar seus colegas, aliás, não só os colegas, como o público, a crítica e o chefe. Super Heróis, Super Poderes, Super Humanos e Super Efeitos Especiais O "SuperBoy" exigia certa paciência do público mais exigente, mas a DC que até então não tinha conseguido emplacar seus personagens em séries de televisão, mesmo com inúmeras tentativas nos anos 50, agora nos anos 2000 a garotada ficava horas em frente da televisão, já que a internet ainda estava se instalando e o canal The WB, futuramente The CW, era focado em séries para o “público jovem” – eis que a DC entra em ação e tenta emplacar um herói, deu certo. Smallville (The CW, 2001-2011) contava as aventuras de Clark Kent (Tom Welling) no período que morava com os pais na cidade título e ainda estava descobrindo seus poderes, fenômeno entre os jovens – apesar de ser ruim de doer – e foi apenas a primeira de inúmeras séries de heróis que surgiriam na próxima década. Heroes (NBC, 2006-2010) foi um caso muito, muito estranho, na onda dos super-heróis, Tim Kring criou essa série, que mostrava várias pessoas comuns em vários cantos do planeta descobrindo poderes, a primeira temporada foi um sucesso estrondoso, indicada ao Emmy de melhor série drama, episódios bem escritos, dirigidos, um elenco bom, surpreendente, primeiro ano excelente, mas, de repente, na volta da segunda temporada, tudo desandou de forma que o público pensasse: o que raios aconteceu? A série se perdeu completamente, meteu os pés elas mãos, criando tramas que não faziam sentido, personagens com poderes estranhos, a audiência foi ao chão, ainda assim, a série ficou no ar por quatro anos. O público passeou por hospitais e flertou com os médicos Plantão Médico / ER permaneceu no ar até 2009, mas a série já estava desgastada, o público gostava de séries médicas e queria séries novas. Com o público sedentos pela renovação desse tipo de série, três novas foram ao ar. Com um cinismo peculiar e a filosofia de que todo paciente mente, o Dr. Gregory House (Hugh Laurie) foi um dos médicos que conquistaram a audiência, House (FOX, 2004-2012) foi um sucesso, o doutor não deixava nenhuma evidência de lado e não se preocupava em arriscar sua reputação. O tipo de personagem que incomoda a pessoa que vos fala, pois é aquele chato que está sempre certo e não aceita “perder” em uma discussão, mas o protagonista era a essência da série, todo o sucesso era devido a ele. Shonda Rhimes foi mais um dos nomes que explodiu nos anos 2000, sua primeira empreitada para a televisão, continua no ar até hoje, sinal que o público ainda gosta, porque dá audiência. Estou falando de Grey’s Anatomy (ABC, 2005-presente), a série está atualmente na décima oitava temporada e teve seu elenco reformulado várias vezes, a série mostra o cotidiano “peculiar” dos médicos do Seattle Hospital. Eu sinceramente acho um dramalhão, uma verdadeira novela e me desculpa quem gosta, mas sinceramente... Ainda nos anos 2000 que parecem não ter fim, Ryan Murphy colocava no ar sua segunda série, ele ficaria extremamente popular na década seguinte, aliás, é o atual nome mais “forte” da televisão. Estética / Nip/Tuck (FX, 2003-2010) acontecia em uma clínica de cirurgias plásticas, fazendo uma dura e sarcástica crítica a esse seguimento da medicina. Os donos da clínica Sean McNamara (Dylan Walsh) e Christian Troy (Julian McMahon) eram parceiros, mas com personalidades totalmente diferentes, no começo de cada episódios um deles perguntava ao paciente “me diga o que você não gosta em você” – partindo disso vários dilemas pessoas entravam em cena. O primeiro sucesso de Murphy já mostrava como seria sua carreira, começaria todas as séries seguintes de forma brilhante, mas no decorrer das temporadas só cairia, até ficarem completamente ruins. São muitas séries, não dá para colocar tudo em um único texto, semana que vem, falamos das comédias, das famílias dos anos 2000, de boas ideias que foram canceladas, da censura e tantas outras séries, calma que tem muito mais, até semana que vem.

  • ESPECIAL: CineBR – Diretoras Nacionais – Parte 03

    O mundo é delas, todo mundo sabe e no cinema não seria diferente, conheça o trabalho das nossas grandes diretoras de cinema. CineBR - Diretores Brasileiros é uma série especial de publicações do Portal Dossiê etc, escrita por Cleber Eldridge, com edição de Antonio Pedro, sobre os diretores e diretoras que pavimentaram a estrada do cinema nacional. Mais do que um conteúdo especial, essa série é mais um resultado do compromisso que a Revista Dossiê etc tem de promover a cultura nacional. Esperamos que goste de mais esse resultado. O cinema brasileiro tem assistido uma ocupação cada vez mais feminina e não poderia fazer diferente, nos últimos anos uma gama de diretoras tem entregado trabalhos brilhantes, muitos deles são sucessos de crítica e de público e cá estamos nós para celebrar nossas excelentes diretoras do cinema nacional. Daniela Thomas, durante muito tempo ficou às sombras de Walter Salles, ela codirigiu Terra Estrangeira (1996), O Primeiro Dia (1998), Paris, Te Amo (2006) e Linha de Passe (2008), mas se desvencilhou de seu parceiro e seguiu carreira solo com grandes trabalhos; Vazante(2017) foi selecionado para o Festival de Berlim, seu trabalho seguinte O Banquete (2018) não agradou tanto a crítica, mas Daniela tem créditos de sobra por sua linda carreira no teatro e no cinema, não só de diretora, mas também de roteirista e cenógrafa da melhor qualidade. Como o cinema é um ambiente, ainda, muito machista e com um número de mulheres, ainda, limitado em cabeças de equipe, mas isso está mudando. Juliana Rojas era uma diretora que seguia os passos de Marco Dutra, co-dirigiu Trabalhar Cansa (2011) e As Boas Maneiras (2017) – entre um trabalho e outro, ela se arriscou nos musicais com Sinfonia da Necrópole (2014), dando uma palhinha do que vem aí pela frente em sua carreira. O sucesso seguiu a carreira de muitas diretoras, levando muitas delas para festivais internacionais, mas talvez nenhuma delas tenha sido tão notada e aclamada como Anna Muylaert, atuante no cinema desde 1995, chamou atenção com É Proibido Fumar (2009) e se destacou especialmente em Que Horas Ela Volta? (2015), o escolhido para representar o Brasil na corrida do Oscar, mas, infelizmente, não chegou lá, o que não desmerece o filme em nada, já que levou coleciona nada menos que 19 prêmios. No ano seguinte a diretora foi até Berlim para apresentar seu Mãe Só Há Uma (2016), um filme de baixo orçamento, mas muito potente. Aguardemos os próximos passos da diretora. Laís Bodanzky chegou no cinema com o pé na porta e foi entrando com Bicho de Sete Cabeças (2000) vencedor do prêmio de melhor filme no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro; seus trabalhos posteriores foram ainda melhores. As Melhores Coisas do Mundo (2010), tratou a juventude como se deve, é um filme divertido, irreverente e muito fluido, mas seu melhor trabalho foi Como Nossos País (2017) também foi selecionado para Berlim e faturou 6 prêmios no Festival de Gramado. De melhor atriz coadjuvante a Melhor Filme, categoria que venceu também no Festival do Cinema Brasileiro de Paris. As mulheres também estão muito bem representadas no meio documental, Petra Costa fez dois dos documentários mais celebrados dos últimos anos, Elena (2012) onde abordou seu drama familiar após o suicídio de sua irmã mais nova, aos vinte anos de idade, anos depois Petra Voltou a ser notícia com o polêmico e necessário, Democracia em Vertigem (2019) que foi indicado ao Oscar e ao Sundance Film Festival, além de ficar na lista de mais vistos da Netflix. Com o famoso sobrenome, Carolina Jabor, filha de Arnaldo, seguiu o caminho cinematográfico do pai, mas sem as polêmicas. Seus trabalhos mais celebrados são os ótimos Boa Sorte (2014) que mistura amor e loucura em um enredo muito celebrado e Aos Teus Olhos (2017) que aborda os perigos dos prejulgamentos nas redes sociais. Suzana Amaral foi uma das grandes diretoras do nosso cinema, sua adaptação de Clarice Lispector, A Hora da Estrela (1985) rodou o mundo em festivais e gravou seu nome na história, em Berlim, Marcélia Cartaxo ganhou o prêmio de melhor atriz por essa obra. Os anos 70 impediram muitas mulheres de dirigirem, Lúcia Murat, por exemplo, foi presa e torturada por três anos por envolvimento com as causas democráticas e o movimento estudantil foi uma delas, depois de muitos anos, ela voltou para trás das câmeras e nos presenteou com emocionante, Praça Paris (2016). Tata Amaral sempre focou em mulheres, logo, todos os seus filmes são sobre mulheres, seu premiado Um Céu de Estrelas (1997) venceu praticamente todas as indicações que recebeu, acumulando 12 prêmios, assim como o filme Hoje (2011) que rendeu prêmios de melhor atriz para Denise Fraga nos festivais de Brasília, APCA, SESC e FITA. Por fim e não menos importante temos Maria Augusta Ramos, outra documentarista, que dirigiu um tríplice de filmes sobre política, o primeiro foi Justiça (2004), que abocanhou quase 10 prêmios internacionais, seguido de Juízo (2008), uma severa crítica sobre as condições precárias de apuração, punição e ressocialização que o sistema judiciário propõem a menores suspeitos de infração, além de mostrar como nossos jovens estão tendo suas vidas negligenciadas pelo poder público, até que se deparam com o, também despreparado, sistema judiciário; e o mais recente O Processo (2018) que cobriu todo o processo que envolveu o impeachment ou golpe contra Dilma Rousseff. O futuro já chegou e trouxe coisa boa. Gabriela Amaral Almeida ainda não atingiu o sucesso comercial, mas isso é questão de tempo, porque talento ela mostrou de sobra com seu aclamado O Animal Cordial (2017). Amaral Almeida parece ter uma mão especifica para coordenar elencos aguardemos as próximas boas surpresas que ela te a nos oferecer. O cinema, como um todo, está mudando, agora, mais do que nunca, as mulheres estão em evidência, escrevendo, dirigindo e produzindo. Nos próximos anos teremos cada vez mais trabalhos de diretoras, quem sabe uma, ou mais, delas consiga nosso tão desejado, aguardado e merecido Oscar de Melhor Filme Internacional e, quem sabe, uma indicação a melhor direção. Sonhar nunca é demais, não é mesmo? A última parte do nosso especial vai falar dos nossos diretores contemporâneos, dos anos 2000 até agora, são tantos nomes que é melhor você se preparar porque o nosso cinema nunca prometeu tanto...

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